A bagunça institucionalizada

Por Gerson Nogueira

Na véspera do clássico-rei só não se falou de futebol em Belém. Perdeu-se tempo e energia discutindo as possibilidades de paralisação e, depois, a ameaça concreta de suspensão do campeonato. Depois das marchas e contramarchas da sexta-feira, cujo último ato da noite foi a decisão da Federação Paraense de Futebol de realizar as semifinais, pode-se dizer que não há mais limites para a avacalhação no futebol do Pará. Chegamos ao fundo do poço. Todos os recordes de lambança foram batidos na competição deste ano. Primeiro foi a mudança no local do jogo Santa Cruz x Paissandu, que levou ao W.O. ridículo, fora de época e sem sentido.

bol_sab_060413_11.psA partir daí, o campeonato entrou em terreno espinhoso, ameaçado pelas bravatas do Santa Cruz e a ameaça concreta de paralisação por força de recursos judiciais. Na tarde de ontem, a juíza de Salinópolis arquivou ação movida por um torcedor, reivindicando a interrupção do torneio.

Horas depois, o Ministério Público do Estado, vendo expirarem todos os prazos de tolerância, solicitou à Federação Paraense de Futebol a entrega dos laudos técnicos de verificação dos estádios Jornalista Edgar Proença e Francisco Vasques, palcos dos jogos da rodada do fim de semana. Como vem faz reiteradamente, a FPF silenciou e o MPE recomendou a paralisação do campeonato.

Os laudos cobrados pelo Ministério Público constituem a garantia de que o torcedor terá segurança e conforto ao comparecer às praças esportivas. Quando alguém, inadvertidamente ou por má fé, critica os promotores incorre em total injustiça, além de demonstrar desinformação.O papel do MPE é justamente o de cobrar e fiscalizar as ações de natureza pública, que digam respeito ao interesse direto da população, resguardando itens do Estatuto do Torcedor.

Na prática, o futebol paraense sobrevive como o mato que floresce na rua. Resiste e sobrevive por pura inércia. A desorganização é a norma, as datas não são respeitadas, os estádios são mal cuidados e inseguros. O Campeonato Estadual é uma farsa do ponto de vista financeiro, pois só se mantém vivo pela presença nos estádios dos torcedores de Remo e Paissandu.

Dirigentes da FPF costumam alardear um torneio estadualizado. Potoca. A coisa se resume aos dois gigantes, que arrastam multidões e bancam todos os custos. E, de quebra, ainda enriquecem muita gente que nunca chutou sequer uma bola de meia.

Do ponto de vista prático, o maior prejuízo causado por tanta incompetência está na perda de credibilidade. Depois do episódio do W.O. e das múltiplas escaramuças de ontem, o torcedor não terá como acreditar quando uma rodada for anunciada. Com toda razão, irá pensar duas vezes antes de comprar ingresso. O próprio jogo marcado para hoje, entre Remo e Paissandu, segue sob suspense, pois o STJD teria acatado um pedido de mandado segurança interposto pelo Santa Cruz, recomendando que as semifinais sejam suspensas até que o mérito do caso seja julgado.

Os clubes que fazem a roda girar deveriam, há muito tempo, ter tomado as rédeas do negócio. Dirigentes de Remo e Paissandu, que se curvam aos desmandos da FPF, não podem levantar a voz porque se submetem, cruzando os braços diante do descalabro.

Enquanto não houver uma tomada de posição por parte das diretorias da dupla Re-Pa todos serão penalizados, pois a FPF já deixou claro, com atitudes e equívocos sem conta, não ter o menor compromisso com o futebol do Pará. Todos têm conhecimento da bagunça, mas ninguém age. A apatia e o silêncio dos clubes começam a indicar comprometimento com a incúria. Depois disso, restará a falência absoluta. Não se está muito longe disso.

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Re-Pa com leve favoritismo bicolor

Sobre o esquecido clássico, caso realmente ocorra, a expectativa é de um certo equilíbrio, depois que o Remo reeditou contra o Flamengo o espírito guerreiro do primeiro turno. A dúvida é se o confuso esquema tático será mantido ou reformulado para encarar o tradicional rival.

O Paissandu, que entra em vantagem (podendo empatar as duas partidas), passou os últimos 15 dias treinando e descansando. Terá o time completo, liderado pelo meia Eduardo Ramos. Em situação normal de temperatura e pressão, a balança pesa para o lado bicolor. 

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Atrasos podem inviabilizar campeonato

Pelo ritmo do pagode, o Parazão 2013 pode passar de mico monumental a imbróglio jurídico de proporções tsunâmicas. Além da ausência de laudos dos estádios, o torneio corre o risco ainda de vir a ser interrompido por força de deliberação judicial.

O Santa Cruz, que tentou brecar as semifinais, planeja ir aos tribunais superiores e até mesmo à Justiça Comum. Pelo perfil do clube, surgido há um ano como parte de um projeto político e sem nada a perder, tudo pode ocorrer.

Caso os pleitos do Santa Cruz sejam acatados, a sétima rodada terá que ser refeita, com possibilidade de mudanças na ordem de jogos das semifinais. Há, também, a perspectiva de adiamento dos jogos até que os laudos dos estádios sejam entregues.

A situação tende a ficar ainda mais séria porque os atrasos comprometem o calendário, pois as competições nacionais (Séries B, C e D) começam no próximo mês, exigindo definição de representantes estaduais para que as tabelas sejam confirmadas.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste sábado, 06)

23 comentários em “A bagunça institucionalizada

  1. Exatamente, Gil.

    O Cametá mal se aguenta de pé neste parazão, mas brigará judicialmente pela vaga, se o Remo for escolhido. Pode ter certeza.

    Futebol e Política já são polêmicos por natureza própria. Imagine juntando os dois (Ainda bem que não há religião no meio).

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  2. STJD despachou a Liminar do Santa Cruz, 19:50h de ontem e determinou notificação para a Federação Paraense, Santa Cruz e Paysandu, através de fax, telefone e e-mail.

    Logo, não adianta a FPF dizer que não recebeu notificação e que vai ter o jogo… Com o STJD e o Luiz Zveiter, não se brinca… Os exemplos estão aí…

    O Remo ganha a vaga à série D pelo Ranking, como ganhou o Nacional-AM, em 2011, numa briga com o Fast, que era o campeão do ano anterior..

    É a minha opinião.

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    1. O entendimento de dois especialistas que ouvi ontem à noite indicam essa mesma interpretação quanto à escolha do representante paraense para a Série D, amigo Cláudio.

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  3. Pela fortuna que movimenta, o futebol já não deveria ficar nas mãos de associações/agremiações esportivas amadoras, mesmo porque os sócios são os que menos direitos têm sobre negociações de atletas e os que mais sofrem com dívidas trabalhistas, vendo o patrimônio do clube desaparecer. O futebol movimenta muita grana e os clubes devem se tornar empresas e pagar todos os impostos, sofrer fiscalização das secretárias de fazenda e do ministério da fazenda, e sofrer intervenção como toda empresa sob suspeita de fraude. É necessário que haja essa transformação do clube em empresa e a distribuição dos lucros aos sócios. Na Europa não é só em campo que o futebol é diferente, mas nisso aí também. É preciso haver a moralização do futebol brasileiro. Que comece pelo Pará e se estenda a todo o Brasil.

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  4. Acredito que a vaga da D seja mesmo do Remo, mesmo porque o Cametá como no ano passado não tem verba para custear o campeonato brasileiro. Alguém pode dizer; ah! eles podem querer tirar algum proveito da situação para barganhar. Se tiverem com esta intenção, vão perder tempo e desgaste, a vaga já está definida.

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  5. Claro Lucilo, que os bicolores torcem para que o mais querido não jogue a série D. porem esse direito é liquido e certo é o melhor rankiado, foi o último a disputar a competição e na pontuação geral, ele está na frente dos outros concorrentes. O resto é papo furado, afinal de contas não foram os azulinos que criaram essa confusão. O único perigo que poderiamos correr, era se o Val Barreto chutasse a penalidade para fora como queriam os papinhandus.

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  6. O Remo, Luiz Fernando. Porque provavelmente se garantiu na série D. (Maior Beneficiado)

    O Paysandu, que concentrará seus esforços no preparo do time para a série B.
    (Segundo maior Beneficiado)

    E (quem sabe?) o futebol Paraense inteiro poderá se beneficiar. Isso, se o Coronel sair da federação após toda essa algazarra.

    Os mais prejudicados, a meu ver, são Tuna e Paragominas. Até porque tinham chances de se garantir na série D e na Copa do Brasil ano que vem. Vão chiar bastante…

    Mas afirmar que essa catástrofe foi jogada para fazer o Remo participar da série D é forçar demais a barra, amigos. Tudo que está acontecendo é o puro reflexo de uma queda de braço entre o “Coroné” e o “Senadô”, que começou desde o seletivo e se estende até agora. O Leão, provavelmente, nada tem a ver com isso.

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  7. É um absurdo a avacalhação geral que fizeram ao futebol paraense. O Remo ainda está nas mãos desses cidadãos porque depende ainda da definição da vaga para Série D.

    Confirmada a vaga e da disputa dos campeonatos brasileiros, eu no papel de dirigente de Remo e Paysandu, passaria a disputar o campeonato paraense com os times sub-20, só colocando a equipe principal em caso de RexPa, mas tendo como objetivo a partida em si, e não o campeonato.

    Em um momento desses, tem que começar a se vestir de homem e assumir as rédeas do comando do futebol paraense.

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    1. Já escrevi inúmeras vezes a respeito, camarada. Basta buscar nas páginas anteriores do blog. Lamento que seja cristão-novo e desconheça minha prática.

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  8. O mais interessante é que esse time não tem nem um ano e faz tudo isso , deveria ser punido, e a federação também deve ser punida pagando indenização á todos inclusive para o santa cruz , pois entendo que tem suas razões em parte , mais não poderia prejudicar á todos , pois tal ação deveria ser feita bem antes , não agora nas finais.

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Deixar mensagem para rocildo oliveira tabu 24 jogos + tabu 33 jogos = tabu 57 jogos. Cancelar resposta