A nova oposição

Por Luis Nassif

A provável derrota de José Serra, para a prefeitura de São Paulo, para o adversário Fernando Haddad e pelos seus próprios índices de rejeição, marca simbolicamente o fim de uma era, a dele e de seu padrinho FHC. A grande questão pela frente é sobre quais bases se sustentará a política brasileira, o partido da situação e a oposição.

Nenhum partido que se pretende hegemônico, disputando o poder, se constrói a partir do vazio de propostas. Os alicerces, a base central são um conjunto de ideias sobre as quais se assentarão as primeiras lideranças, os primeiros quadros, as primeiras bases sociais para depois se expandir pelo país.
Desde o século passado, na política brasileira, a formação de ideias políticas se dava a partir dos grandes movimentos ocidentais, as grandes ondas ora pendendo para o liberalismo financeiro, ora para a maior participação do Estado.
Competia aos líderes políticos nacionais farejar os ventos externos e adaptá-los aos movimentos internos, geradores de um pensamento autônomo.
Embora fundamentalmente intuitivo, JK não prescindia do arcabouço teórico dos nacionalistas do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros).
No final dos anos 80, Fernando Collor assimilou os conceitos do tatcherismo, trouxe um discurso liberalizante mas temperado com conceitos desenvolvidos internamente – desde a teoria da “integração competitiva”, de Júlio Mourão, aos princípios de gestão e inovação.
***
Quando FHC assumiu o poder, o PSDB dispunha dos seus isebianos, um conjunto de pensadores capazes de dar racionalidade aos rumos da liberalização.
Tudo foi deixado de lado pela falta de vontade crônica de FHC de costurar um pensamento autônomo sequer, de adaptar os princípios do neoliberalismo às condições brasileiras, de perceber os ventos que sopravam os coqueiros daqui, não as nogueiras de lá.
Tivesse um mínimo de sensibilidade em relação ao mundo real brasileiro, teria percebido a importância da inclusão social, não apenas como objetivo de governo mas como projeto de país.
***
Nos próximos anos, o PT continuará surfando nas ondas da inclusão e da redução das desigualdades. Como lembrou André Singer, em seus estudos sobre o lulismo, trata-se de uma tendência irreversível, duradoura, a ser abraçada por qualquer partido que ambicione o poder, seja o PT ou outro que vier.
Com Dilma Rousseff, à bandeira da inclusão somaram-se as da gestão e do desenvolvimentismo – mais duas bandeiras deixadas de lado pelo PSDB, preso ao discurso monocórdico das privatizações de FHC.
***
Qual será o desenho, então, da oposição? Nos últimos anos, FHC e especialmente Serra, limitaram-se a entrar na onda do rancor, do negativismo, refletindo a posição de alguns articulistas.
É bem provável que, depois da radicalização liberalizante de FHC, o pêndulo da economia volte-se cada vez mais para o intervencionismo estatal da nova era. Como em todo movimento pendular, no início obedece a demandas racionais e legítimas. Depois, cria sua própria lógica e vira o fio.
É possível que em um futuro distante, uma das bandeiras da oposição possa voltar a ser a redução do papel do Estado.
No entanto, a discussão sobre o papel do Estado não pode estar divorciada da discussão maior: a busca do bem estar dos cidadãos e a ampliação da inclusão social.
O neoconservadorismo – 1
Os conservadores autênticos sempre amarraram o tema redução do Estado ao da promoção da igualdade de oportunidades. Ocorre que a crítica ao Estado – formulada pelo pensamento neoconservador que se apossou da mídia – vem acompanhada de um discurso deplorável contra qualquer forma de inclusão social, de políticas igualitárias. Com isso tirou toda a legitimidade, restringiu o discurso no cercadinho da intolerância.
O neoconservadorismo – 2
Políticas sociais brasileiras – Bolsa Família, Prouni, Luz para Todos – são incensadas internacionalmente. Tornaram-se um contraponto à falta de sensibilidade social do neoliberalismo. Principalmente porque deixam a opção de gastar o dinheiro (ou escolher a Faculdade) para o próprio beneficiário, sem interferência do Estado. Esse tipo de política sempre foi bandeira liberal. Não por aqui, com trogloditas políticos.
O neoconservadorismo – 3
No novo quadro político brasileiro haverá espaço para um partido conservador, mas que não ambicione disputar poder. E esse partido não será o PSDB. Ao longo de sua história política, a atual cara mais visível do PSDB – Serra – comportou-se com um oportunismo que o tornou alvo de desconfianças gerais, à esquerda e à direita, e afastou do partido toda uma nova geração de intelectuais.
O neoconservadorismo – 4
Dias atrás FHC criticou-o por supostamente ter jogado o PSDB no conservadorismo do pastor Malafaia e companhia. Na fase inicial da intolerância religiosa e política, o próprio FHC estimulou essa radicalização. Serra nunca teve fôlego intelectual para montar um conjunto articulado de princípios-guia. Essa tarefa cabia a FHC. Mas seu tempo político passou.
A nova oposição
Agora, há duas lideranças despontando, Aécio Neves e Eduardo Campos, governador de Pernambuco. Aécio não disse a que veio, sequer demonstra vontade política de abdicar dos prazeres da vida. Campos tem se mostrado o melhor governador da atual safra. Em caso de desgaste na agenda petista, seria uma alternativa presidencial (provavelmente em 2020), mas preservando os princípios originais do lulismo.
Ventos externos
Restaria aguardar por ventos externos. Mas internacionalmente assiste-se aos estertores do neoliberalismo, com políticas antipopulares, economicamente desastrosas, sendo impostas goela abaixo dos países europeus. Para a falta de ideias de FHC, não haverá 7o de Cavalaria que o salve dos ataques indígenas. Assim, só restará o esperneio da intolerância reiterada e politicamente suicida.

15 comentários em “A nova oposição

  1. Égua meu caro Gerson, penso que o PSDB não representa oposição nenhuma ao PT, na verdade é apenas o “culpado” da moda quando petistas aloprados são flagrados com milhões de reais para compra de dossiês fajutos, ou quando são condenados por formação de quadrilha com provas que jorram dos processos. Sempre quando são pegos com a mão na massa, a culpa é da mídia (que é TODA PETISTA) e da direita conservadora (Detalhe: o PSDB é um partido de centro-esquerda). Não há nenhum partido de direita no Brasil! FATO!

    Li que alguns jovens se somam para relançarem o ARENA, aí sim haveria um contraponto ao status quo político tupiniquim.

    Mas sejamos honestos Gerson. É contraproducente chutar cachorro morto. Deverias sim demonstrar, inteligente que sabemos que é, a indignação de um esquerdista com o desvio do ideal de esquerda que é a infiltração de uma quadrilha, comparada a mafia pelo STF no governo petista.

    O Lula pode ser o “cara”, a Dilma pode até não ser um poste (embora ainda não tenha provado o contrário), mas TUDO isso é jogado na latrina quando associados ao maior escândalo político nacional. O mensalão.

    Curtir

  2. O mensalão é o maior escândalo politico nacional ,ou ele ganha esse status, em virtude de FHC, Na figura de Geraldo Brindeiro, Procurador geral da república do governo Fernando Henrique Cardoso, ou melhor o engavetador geral da república, alcunha pela qual, ficou conhecido o senhor Brindeiro, pela sua atuação a frente da procuradoria, que recebeu mais de 600 inqueritos criminais, engavetou mais de 240, arquivou outros duzentos e tantos processos, dentre os quais citamos o escandâlo da reeleição, onde os Deputados Ronivon Santiago e João Maia do PFL do Acre, confessaram ter recebido 200 mil cada um , para votarem a favor da emenda da reeleição, materia estampada no jornal A Folha de São Paulo de 1997, inclusive com a apresentação da gravação da conversa entre os dois Deputados. Ou então a operação abafa, que FHC, articulou para que a CPI da corrupção, não fosse aprovada no congresso . Segundo a Folha de São Paulo, um bilhão e duzentos milhões de reais, foram liberados para as emendas dos parlamentares, para que a CPI fosse abafada como foi.. Isso sem falar na construção do pavilhão brasileiro na feira de Hannover, construido para comemorar, 500 anos do descobrimento, que pulou de um milh~]ao e meio, para vinte e quatro milhões de reais, com o ministério público tendo encontrado 41 irregularidades no processo de compra e construção, tendo sido apontado o Paulo Henrique Cardoso, como sendo um dos responsáveis pelo superfaturamento da obra, executada pela Artplan Prime, empresa que tinha como socios, membros da familia Bornhausen, um dos cacique do estinto PFL, hoje DEM, defensor perpétuo do governo FHC. Citei apenas 3 engavetados ou abafados, e ainda restam quase quinhetos escândalos. Então fica minha pergunta, foi o mensalão, o maior de todos os escâdalos?

    Curtir

  3. O Nacif não perde mesmo seu vezo chapa branca!
    Quer dizer que o lulo-petismo talvez só deixe o poder em 2020???
    É muita pretensão!
    Quanto ao Serra e ao FHC, pouco me importa o fim de suas respectivas carreiras políticas. Já vão tarde.

    Curtir

  4. Serra para o PSDB está como Davino estava para o Papão. Não ganha nada. FHC já fez deu a sua contribuição para o Brasil e não pensar em se estressar novamente.

    Curtir

  5. Há pouco o Jornal Nacional da TV Globo – na tentativa de mostrar como histórico o julgamento do “mensalão”, que até no apelido dado pela mídia reacionária já se mostrou equivocado, pois nunca houve pagamentos mensais e sucessivos -, acabou mostrando mesmo as ridículas manifestações dos membros do STF em rede nacional. Frases de efeito, versos, platitudes, ironias, arrogância e, o mais patético, falta de respeito entre seus próprios membros caracterizaram as intervenções dos ministros, num espetáculo digno de corte de uma república de bananas. O não visto nessas cenas e em outras passadas, apresentadas ao distinto público brasileiro em horário nobre, foram provas incontestes da delinquencia, e que fossem dignas de um julgamento propagandeado como o maior da história. Sete anos depois da denúncia feita por um deputado de péssima reputação até mesmo para os padrões de um político brasileiro, o tal processo do “mensalão” foi apresentado pelo MP recheado de ilações, inferências, além de adjetivações em profusão do tipo “sofisticada quadrilha”, mas assim mesmo recepcionado e pouco modificado pelo ministro-relator. Em plena era da comunicação, o tal processo não apresentou uma prova advinda de escuta telefônica ou de filmagem. No país detentor de um sofisticado sistema bancário, as provas de movimentação ilegal de dinheiro foram pífias. Ainda no Jornal Nacional de hoje, a ministra Carmem Lúcia, em um momento filosófico, disse que o dinheiro está para o crime como o sangue está para o ser humano. Mesmo assim MP e o próprio STF onde a juíza atua não se deram o trabalho de rastrear com competência a movimentação financeira entre quem pagou e quem recebeu propina. O “mensalão” se tornou histórico, sim, pela nova forma de se julgar e condenar, agora por meio de deduções.

    Curtir

  6. Falando em Globo e seus enredos, me lembrei do Nacib, na mais recente versão da Gabriela. Ele casou e coabitou com a Gabriela. Depois a encontrou com o Tunico. Mas, quer tanto não ter sido traído, que agora acredita que devido ao casamento não ter existido de direito ele não é “galhudo”.

    Curtir

  7. Sobre RICARDO LEWANDOWSKI

    Formou-se em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, e nos governos petistas de lá foi secretário de governo e de assuntos jurídicos.

    Entrou para juiz do Tribunal de alçada criminal de Sâo Paulo indicado pela aberração que é o quinto constitucional, uma vaga que não depende de concurso público, e é preenchida por indicação em lista tríplice da OAB local.

    A partir daí ele foi para o TJ de São Paulo, também sem concurso,
    evidentemente, até porque para o TJ é nomeação do governador, e depois para o STF, também, evidentemente, sem concurso.

    Ou seja, toda uma carreira na administração superior da justiça
    construída na boquinha a partir dos serviços prestados como secretário do PT em São Bernardo do Campo.

    É o Brasil!

    Faltou dizer abaixo, que ele chegou ao STF porque a mãe dele era muito amiga da Marisa Letícia em São Bernardo (SP) e foi ela (primeira-dama) que pediu ao Lula para indicá-lo ao STF…)

    A a internet tem um poder fantástico! É o famoso ditado a
    união faz a força, na prática virtual!

    O juíz mais pilantra e corrupto do judiciário brasileiro.

    O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)

    Ricardo Lewandowski é o juíz mais pilantra e corrupto dojudiciário brasileiro.

    Mandou interromper uma investigação onde juizes são acusados de receber R$700.000,00 de auxílio moradia. ele também recebeu)

    Curtir

Deixar mensagem para Antonio oliveira Cancelar resposta