Por Gerson Nogueira
Sem o desespero dos aloprados, nem com a lentidão dos distraídos. O Paissandu conseguiu equilibrar velocidade e urgência, escapando das armadilhas da pressa, na tarde de ontem, no Mangueirão. Essa é a grande diferença do time atual para o que tropeçava a cada rodada em Belém.
Com organização, impôs seu ritmo desde as primeiras jogadas e se tranquilizou com um gol logo aos 15 minutos no primeiro tempo. Correu até alguns riscos, absolutamente normais contra um adversário rápido nos contra-ataques, mas esteve sempre à frente nas iniciativas.
Até mesmo a fantasmagórica lembrança do Salgueiraço foi reduzida a pó com o fulminante começo de segundo tempo. Kiros, que havia feito o primeiro em lance típico de centroavante, brigando dentro da área, marcou novamente. O lance foi confuso, com chute inicial de Alex Gaibu na trave, tentativa de Pikachu e rebote final aproveitado por Kiros na pequena área.
A vantagem deu ao time a calma necessária para administrar a partida, se é que isto é realmente possível. O time não fazia uma atuação impecável, mas era extremamente determinado e objetivo em todos os lances.
Vontade e fibra são fundamentais em qualquer esporte, principalmente em situações decisivas. Essas virtudes não faltaram ao Paissandu. E algumas figuras se sobressaíram. Tiago Potiguar, Fábio Sanches, Kiros, Capanema e Alex Gaibu praticamente não erraram nenhuma jogada.
Harison, ao contrário, comprometeu sua atuação pelo excesso de nervosismo e as reclamações habituais contra a arbitragem. Levou um amarelo e quase foi expulso. Sua substituição por Lineker no intervalo foi providencial. O Paissandu ganhou em rapidez na saída de jogo e ficou mais forte nas jogadas ofensivas.
Em determinados momentos, o Paissandu atacava com até cinco jogadores, o que confirma a evolução tática do time. Na cobertura da zaga, os volantes portavam-se com eficiência. O Salgueiro ameaçou numa tentativa do veterano Júnior Ferrim, mas ficou nisso.
Para confirmar o alto astral do time, Tiago Potiguar esbanjou desassombro no lance do terceiro gol, aos 22 minutos da etapa final. Avançou com a bola dominada desde o meio-de-campo e, às proximidades da grande área, disparou um chute certeiro e indefensável na gaveta do gol de Luciano.
Em outros momentos da competição, quando a torcida pressionava os atacantes, ninguém arriscaria um disparo de fora da área. O medo de errar impedia qualquer tentativa mais ousada. Potiguar, que tem boa técnica, deixou claro que a confiança foi readquirida e saiu de campo como autor do gol mais bonito da tarde.
A torcida, que cantou e incentivou o time durante toda a partida, teria ainda um bom motivo para sair festejando. Pikachu cobrou falta com extrema perícia, fora do alcance do goleiro. Um gol quase tão bonito quanto o de Potiguar para fechar o espetáculo.
————————————————————–
Renascimento dos atacantes
Ficou claro, ontem, que o Paissandu parece ter alcançado o tão esperado entrosamento em todos os setores. O retrato mais eloquente da estabilidade é a produção do ataque. Nas quatro últimas partidas, sob o comando de Lecheva, os atacantes marcaram 10 gols dos 11 feitos pelo time. A defesa e o meio-de-campo voltaram a se entender, todos parecem empenhados em acertar e os resultados evidenciam esse crescimento técnico.
Com esse espírito, é possível projetar um resultado positivo em Juazeiro do Norte, no próximo domingo. O empate serve, mas as características agressivas do time não devem ser modificadas e uma vitória é possível.
————————————————————–
Fragilidade na defesa
Os gols sofridos pelo Águia, ontem, são muito parecidos – em facilidade concedida – aos que o time sofreu nas goleadas diante de Luverdense e Santa Cruz. Erros primários de posicionamento, principalmente no segundo e no quarto gol do Treze.
A desarrumação defensiva tem sido o maior problema do Águia na Série C. Não por acaso, a equipe tem a segunda defesa mais vazada de toda a competição – 32 gols, abaixo apenas da marca negativa do próprio Treze, que sofreu 33.
O desastroso revés de ontem transforma o embate contra o Santa Cruz em jogo de vida ou morte. E Galvão não poderá contar com Juliano e Branco, jogadores importantes, expulsos em Campina Grande.
————————————————————–
Democracia nas ruas
O movimento Remocracia Já, que luta pela instituição de eleições diretas no Remo, fez seu primeiro ato público na manhã de domingo, buscando sensibilizar os conselheiros e conscientizar a torcida. A iniciativa valeu pelo esforço de mobilização, embora o torcedor ainda se mostre pouco atento à importância da reivindicação.
Pouco mais de 700 torcedores compareceram à carreata. Mas o importante é que a campanha continue e se intensifique, pois, como ensinam os orientais, toda grande conquista começa pelo primeiro passo.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 22)