Morre Hobsbawm, um dos grandes do século XX

Eric Hobsbawm, considerado um dos mais maiores historiadores do século XX, morreu aos 95 anos de idade, informou a filha Julia Hobsbawm nesta segunda-feira. Segundo Julia, seu pai morreu durante a noite em um hospital de Londres. Ele vinha sofrendo de pneumonia. O intelectual marxista é considerado um dos maiores historiadores do século XX e escreveu “A Era das Revoluções”, “A Era do Capital”, “A Era dos Impérios”, “Era dos Extremos”, “História Social do Jazz”, entre outras obras.

Hobsbawm nasceu em uma família judia, na Alexandria, no Egito, em 1917, mas cresceu em Viena e em Berlim, mudando-se para Londres em 1933, ano em que o nazista Adolf Hitler chegou ao poder na Alemanha. Sua experiência como um estudante na Alemanha na década de 1930 consolidou suas visões de esquerda. Ele entrou para o Partido Comunista, na Inglaterra, em 1936 e foi membro por décadas, apesar da sua desilusão com a União Soviética. “Tínhamos a ilusão de que inclusive o sistema brutal, experimental (soviético) ia ser melhor que o ocidental, que era isto ou nada”, disse uma vez o intelectual, afirmando que nunca quis minimizar os abusos da antiga URSS.

Considerado um dos maiores intelectuais do século XX, Hobsbawm se tornou o historiador mais respeitado do Reino Unido, admirado pela esquerda e pela direita e um dos poucos a disfrutar de reconhecimento nacional e internacional. Crítico árduo do Partido Trabalhista, Hobsbawm foi determinante na reformulação da legenda, apesar de mais tarde ter revelado em público sua decepção com o ex-premier britânico Tony Blair. (De O Globo)

9 comentários em “Morre Hobsbawm, um dos grandes do século XX

  1. Que vá em paz “o velho comunista que não se aliançou”. O mundo fica mais burro e os atuais “tempos menos interessantes” com a morte do eminente historiador.
    Hobsbawm teve o mérito de tornar o estudo da história e a escrita historiográfica acessível ao grande público não filiado à academia, e sem cair no perigoso caminho do romancismo histórico, tão caro a certos autores nacionais que caem nas ciladas do mercado editorial e sua busca incessante pela venda de exemplares.
    Embora de leitura acessível e de excelente “degustação”, em suas obras pontuam a erudição, o rigor do método na pesquisa histórica, bem como o fazer da escrita historiográfica e a observação arguta de tempos passados e do presente, tão necessários que são àqueles que não vêem com omissão e indiferença as marchas e contra-marchas dos processos e construções históricos passarem diante de seus olhos.
    Além das obras acima citadas, recomendo dois livros de Hobsbawm que compõem sua vasta produção acadêmica e que são pouco lembrados, embora sejam obras fundamentais e igualmente excepcionais como os demais: “Revolucionários” e “Bandidos”. O primeiro reúne uma série de ensaios dos historiador sobre as revoluções políticas e sociais que chacoalharam o século XX, escritos numa época em que o fervor revolucionário tornava a década de 60 em um dos decênios mais “incendiários” da história, aumentando sobremaneira o interesse pela análise e pela observação com rigor dos movimentos de ruptura politica e social tão em voga no período. O segundo trata do caráter social, político e identitário do banditismo em diversas partes do planeta entre os séculos XIX e XX, inclusive com um capítulo em especial sobre o bandoleiro Lampião e seu séquito de cangaceiros no sertão nordestino na primeira metade do século XX.

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  2. Pois é Daniel,apesar da idade avançada desse intelectual, também fiquei consternado com o falecimento de Hobsbawm.Salvo engano era o único remanescente da nossa famosa História Social Inglesa,que tinha como outro baluarte Thompson,já morto há quase 20 anos.Testemunha ocular da história,acompanhou de perto os grandes fatos do século XX.Além dessas tuas recomendações,também sugiro a Era dos Extremos,uma leitura verdadeiramente obrigatória para quem quer entender um pouco melhor este confuso e louco século XX.

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  3. Rafael e Daniel, a história social inglesa também lhe é tributária. EdwardThompson e Peter Burke, durante os anos efervescentes da “Pass of Present” travaram com o velho comunista excelentes debates metodológicos no campo da história social da cultura. Ao entrar no curso de História em 1986, foi-me jogado ao peito a “Era das Revoluções” que junto à “Era dos Impérios”, “Era do Capital” e “Era dos Extremos” marcaram a quadrilogia clássica de sua historiografia, entre inúmeras obras, aritgos e ensaios, marcados pela erudição, bom humor e leitura leve, quase jornalística, mas longe dos vícios empiristas do jornalismo. Como grande historiador e dono de imensa produção acadêmica, também não foi imune a erros como na classificação equivocada de “Lampião” no clássico “Bandidos”. Soube, porém, rever seus conceitos ao longo do tempo, sem abrir mão do marxismo de qualidade presente na tradição inglesa, distante do deletantismo dos “Annalles”. Minha obra preferida é “pessoas extraordinárias” marcada pelo conhecimento da cultura negra americana dos anos 20 a 50. Esse era Éric Hobsbawm, uma personagem sujeito de um século em ebulição que, ao contrário dos onistas neoliberais, não via com bons olhos o futuro.

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  4. Égua Cássio, agora fostes implacável com os Annalles… rsrsrsr. Se o pessoal do “Departamento” ler isto aqui, vai causar furor e ranger de dentes… rsrsrsrs.

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