Por Gerson Nogueira
Além de definir os semifinalistas do turno, a rodada de ontem teve o condão de ressuscitar os times santarenos no campeonato. São Raimundo e São Francisco viveram tardes inspiradas e arrancaram resultados expressivos contra a dupla Re-Pa. A dupla façanha quase deixou a definição dos classificados em segundo plano.
Na verdade, a rodada se transformou num imenso mico para as duas maiores torcidas do Estado. O Remo se classificou pelas honras da firma, agarrando-se à quarta colocação, que por pouco não lhe escapou entre os dedos. Mas não foi poupado de um vexame em Santarém, deixando-se atropelar por um São Francisco estabanado em muitos momentos, mas sempre aplicado e interessado no jogo.
No dia do aniversário do clube, a camisa 10 que já foi trajada por gente do calibre de Artur Oliveira, Alberto, Geovani, Rubilota, Roberto Diabo Louro e Rogério Belém foi entregue, afrontosamente, a Cassiano. Até que o improvisado meia-armador procurou se desincumbir
da função, mas não tem características de organizador ou criador de jogadas.
Betinho, que é meia de ofício, postava-se como um terceiro volante. Com isso, Marciano e Fábio Oliveira tinham que sair da área para buscar a bola, perdendo um tempo precioso na luta com a boa zaga franciscana. Em cruzamentos e faltas, o Remo até teve chances, mas falhou nas finalizações.
Sobre a armação, cabe observar que o problema não é de Cassiano, mas de quem o escalou para atuar num território que desconhece por completo. Aliás, a responsabilidade é de quem permite a um técnico cometer tamanha invencionice, sabendo que tudo ficará por isso mesmo. E, com a classificação quase milagrosa – que esteve ameaçada até o fim do jogo da Curuzu –, a situação certamente será mantida nas semifinais. Afinal, dizem alguns gênios, não se mexe em time que está perdendo.
Já o Paissandu caiu diante de sua própria torcida, que lotou o estádio (embora o borderô oficial indique outros números), quebrando a lua-de-mel estabelecida desde o Re-Pa. Ninguém esperava a eliminação diante dos briosos alvinegros santarenos, mas, na verdade, é preciso entender que as coisas voltaram ao nível da normalidade.
O torcedor, que não é bobo, percebeu que o time cresceu nas últimas rodadas inflado pelo entusiasmo, mas sem evoluir em termos de organização em campo. A defesa melhorou, mas basta uma rápida espiada na distribuição da equipe para perceber que falta uma liga consistente
entre meia-cancha e ataque. Robinho se aproxima às vezes de Bartola, mas este fica o jogo todo isolado entre zagueiros com o dobro de seu tamanho.
Há outro aspecto a considerar. Bartola, até o Re-Pa, era apenas uma promessa das divisões de base do Paissandu. Depois do clássico e da vitória sobre o Independente em Tucuruí, passou a ser um atacante visado, merecedor de vigilância severa. Obviamente, passou a ter pouco espaço para jogar. E, caso o técnico não o tire da solidão ofensiva, terá cada vez menos margem para os dribles e arrancadas. Acabou a era da inocência.
Depois da rodada desastrosa de ontem, a pergunta é: até quando os dirigentes de Remo e Paissandu insistirão com os técnicos atuais? Questão de economia ou apenas teimosia?
A classificação de Tuna e Cametá acabou fazendo justiça aos dois times, que tiveram campanhas desiguais ao longo das sete rodadas, mas chegaram quase juntos na reta final. O Cametá, único invicto do torneio, é um dos times mais objetivos, buscando sempre o gol, mesmo quando atua fora de casa.
Na Lusa, Charles Guerreiro enfrentou transtornos diversos, perdeu jogadores importantes e conseguiu manter a competitividade. Deve ficar com um ataque ainda mais agudo caso se confirme, ainda hoje, a contratação de Fernando Caranga, goleador da primeira fase defendendo
o Bragantino.
O irretocável triunfo sobre o líder Águia pode ser o começo da arrancada do Independente. O campeonato agradecerá se isso for verdade.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 06)