Coluna: Samba de uma nota só

Os times europeus começam a partir de um bom organizador de jogadas, se possível até dois ou mais. O Barcelona tem Iniesta e Xavi. O Real Madri conta com Kaká, Di Maria e Özil, o Chelsea com Lampard, o Liverpool com Gherard e assim por diante. São verdadeiros maestros, que carregam a bola e determinam o ritmo do time, seja com lançamentos ou jogadas de aproximação.
No futebol brasileiro, o desafio é achar jogadores que tenham essas características. Como o país é a pátria dos volantes, poucos armadores conseguem se criar e os times acabam obrigados a improvisar, nem sempre com bons resultados.
O que isso tem a ver com o Paissandu e seus perrengues na Série C? Simplesmente tudo. Basta prestar atenção na movimentação do time para perceber que a troca de passes é quase sempre improdutiva. Contra o CRB, todo o primeiro tempo foi desperdiçado com dezenas de toques de lado, sem qualquer profundidade. As raras jogadas de ataque só aconteciam a partir de iniciativas individuais, com dribles ou arrancadas.
Robinho cansou de empreender essas arrancadas, mas seu esforço foi em vão, pois era prontamente bloqueado pela marcação. Juliano, o outro meia-armador que entrou jogando, até caprichou na aproximação e teve o mérito de dar o único chute a gol realmente perigoso em todo o primeiro tempo, mas a bola estourou na trave. Daniel também se aventurou a arrumar o meio-campo, já no segundo tempo, quando deixou de ser volante para auxiliar o ataque.
Até Potiguar, que entrou no intervalo, se aventurou a centralizar as jogadas, mas logo se misturou ao grupo que tentava invadir a área do CRB a qualquer preço. Como a zaga alagoana não arredava pé dos limites da grande área, a saída óbvia seria a exploração das laterais ou tabelinhas em velocidade. Acontece que todos preferiam o recurso fácil das bolas lançadas sobre a área, para alegria dos zagueiros. 
Ao longo do segundo tempo, depois que Aloísio Chulapa aproveitou um cochilo da zaga para fazer o gol do CRB, a bola ficou sempre em poder do Paissandu. O campo estava livre até a entrada da área alagoana, mas, como não havia quem organizasse a estratégia ofensiva, esse domínio foi ilusório. A única tentativa mais envolvente foi o cruzamento rasteiro de Robinho para Rafael Oliveira finalizar. O atacante estava adiantado e o gol foi corretamente anulado. 
Até o fim do jogo, o Paissandu ficou repetindo a mesma operação: bola com Daniel, Sidny ou Robinho para cruzamentos previsíveis, facilmente neutralizados pela defesa. Não é absurdo pensar que, se houvesse uma prorrogação, o time seguiria insistindo no samba de uma nota só, sem furar a retranca do CRB. Um organizador talvez não mudasse o placar, mas cuidaria de fazer jogadas mais elaboradas e capazes de desestabilizar o sistema defensivo adversário.

 
 
Apesar das dificuldades de criação no meio-de-campo, a formação ofensiva do segundo tempo deu ao time energia e velocidade, itens inexistentes nos primeiros 45 minutos. Perguntas óbvias: por que o trio Robinho-Potiguar-Héliton não começou o jogo? E por que a substituição de Josiel, reclamada pela torcida desde os primeiros minutos, demorou tanto tempo para acontecer? (Aliás, pelo fraco futebol que vem jogando, Josiel nem devia ser titular).
 
 
Na sexta-feira, uma inesperada reunião entre diretores, o técnico Edson Gaúcho e os jogadores Sandro, Rodrigo Pontes e Vagner ganhou mais espaço no noticiário do clube do que os preparativos finais para o jogo. O pouco que se soube dessa reunião indica que não terminou bem. Queixas dos jogadores quanto a salários e gratificações entraram em rota de colisão com as cobranças do técnico. Não podia haver pior momento para se criar uma confusão interna.
De imediato, vieram à tona as lembranças de episódios parecidos, em 2009 e 2010, que tumultuaram o clube às vésperas de decisões na Série C. Em comum, a extrema dificuldade dos dirigentes para resolver insatisfações dos jogadores e inabilidade para acalmar a tropa antes da batalha decisiva. Comportamento de amadores, que não pode servir de justificativa para a atuação confusa do time na derrota frente ao CRB. 
Ontem à noite, outra reunião aconteceu entre os dirigentes e algumas possibilidades foram avaliadas em relação ao futuro do time na competição. Discutiu-se até o possível afastamento do técnico Edson Gaúcho, que vem a ser o menos culpado pela situação atual. (Foto: MÁRIO QUADROS/Bola)

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 17)

5 comentários em “Coluna: Samba de uma nota só

  1. pra mim o problema nao so do paysandu,mas tb dos outros times de nosso estado,sao seus dirigentes amadores e com mentalidade do seculo passado,a 5 anos o luiz omar desmanda no paysandu e enquanto esse infeliz estiver la,nos continuaremos na 3.Em eras de modernizaçao na forma de gerenciar os clubes nos ainda temos dirigentes centralizadores e que mandam(mal e porcamente) e desmandam em tudo.Eu ate aceito o papao ficar na 3,mas nao com uma folha salarial de 500 mil(!!!!).Agora somando a desordem e amadorismo de nossa diretoria a falta de nocao da cbf,temos essa cagada que estamos vendo

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  2. Samba de uma nota só – esse poderia ser também a logo da gestão Luiz Omar. Os erros acontecem para que, no mínimo, aprendamos com eles. Mas, pelo andar da carruagem, o “samba” de Luiz Omar só tem uma nota, e ele se aplica muito em tocar apenas ela, somente ela. O resultado, como não poderia ser de outra forma, é e será sempre o mesmo: insatisfações, rachas no grupo e fofocagem. É uma pena. Foi dada ao Paysandu a chance, o cavalo passou selado, e os dirigentes novamente não quiseram montar.

    Quanto ao time, falta mesmo o tal meia de criação, mas não foi isso que motivou a derrota de ontem. Nessa altura do campeonato, a vitória vem mesmo é na força de vontade e empenho, o que faltou no primeiro tempo à maioria dos jogadores. No segundo tempo, a partida lembrou-me muito a do Corinthians e Botafogo na quarta-feira passada. Lá como cá, foi um tropeço totalmente comum no futebol, o problema do Paysandu é que o caminho é bem mais curto para recuperação.

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  3. Saudade de um tempo não muito distante em que um timeco como esse do CRB, com uma proposta de jogo claramente covarde, seria impiedosamente goleado. Mas, com um time acéfalo na criação, fazer o quê?

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  4. Escrevi na semana passada e ratifico agora. O CRB em nada é superior ao Salgueiro do ano pasado Nosso mal é não adfmitir
    que o nosso futebol de há muito está mal, muito mal em todos os
    aspectos.

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  5. Não sou muito de criticar o LOP, e nem acho que ele seja a causa das mazelas do papão, como alguns colegas do blog pensam.
    No entanto, ontem quando ele disse que acertou bicho para alguns jogadores (quatro) em detrimento do resto do grupo, que possui jogadores com salários atrasados, quase despenquei das arquibancadas do mangueirão.

    será que ele não vê a loucura que é isso? como ele acha que os outros jogadores que estão se esforçando também vão se sentir?

    égua mas eu vou te dizer…

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