Alguma coisa anda fora de ordem no futebol pentacampeão do mundo, e não estamos falando de táticas de jogo. Sem qualquer motivo, um jogador do Palmeiras foi agredido ontem por uma turba formada cerca de 20 elementos. Salvo pela pronta ação da polícia paulistana, foi encaminhado a um hospital com ferimentos na boca e várias escoriações.
O incidente, por incrível que possa parecer, não surpreende mais ninguém. É recebido com aquela indiferença que vem da passividade. Virou rotina no universo viciado do futebol, com dirigentes que estimulam a ação de desordeiros e chegam a bancar (com dinheiro dos clubes) a estrutura das quadrilhas disfarçadas de “torcidas organizadas”.
Quando critico os arroubos de facções de torcidas que infestam o ambiente dos clubes de Belém, com a pachorra de peitar técnicos e jogadores durante treinamentos, ainda surgem vozes do atraso a defender a baderna. O caso mais recente registrado entre nós aconteceu no Paissandu, logo depois que Edson Gaúcho assumiu o comando.
Sob o pretexto de exigir garra e comprometimento dos jogadores, um grupelho teve acesso ao gramado da Curuzu, interrompeu o treino aos gritos e tentou cercar alguns jogadores. Com jeito, Gaúcho conversou com os pseudo-torcedores e conseguiu evitar que o incidente tomasse rumos mais graves.
Antes, também no Paissandu, turba ainda mais irascível chegou a intimidar o então técnico Sérgio Cosme e vários jogadores. Cenas degradantes, que exprimem o nível de desorganização e amadorismo em que os clubes se encontram. Quase na mesma época, o Remo viveu o mesmo tipo de protesto inadequado. Alguns gatos pingados invadiram o Baenão para interpelar o técnico Paulo Comelli e vários atletas.
Em São Paulo, praça que abriga o futebol mais profissional do país, a coisa passou do desrespeito para o espancamento. A covarde agressão ao volante João Vítor, de 23 anos, foi praticada à vista de todos a alguns metros da loja oficial do Palmeiras. A certeza da impunidade é tanta que os delinqüentes não poupam sequer um atleta quase conhecido e sem histórico de polêmicas com a torcida.
Teria sido uma emboscada com o objetivo de tornar pública a revolta dos palmeirenses com a campanha do time no Brasileiro. Um recado aos demais jogadores do elenco e ao próprio técnico Felipão. Mas, seja qual for a motivação da surra, o fato merece apuração exemplar. Os abusos ultrapassam todos os limites. Não há mais como aceitar a ação de pessoas que usam o futebol exclusivamente como escudo para práticas criminosas.
A interdição desses hoolligans brazucas tem sido enxovalhada pelo truque de troca de denominação das facções. Remo e Paissandu, por exemplo, mantêm vivas em suas fileiras falanges extremamente violentas cuja extinção foi decretada pela Justiça. Trocam de razão social, mas não de comportamento.
Não há saída: o exemplo da Europa, muito citado, mas pouco praticado, ensina que a lei só será eficientemente aplicada quando as autoridades enquadrarem esse tipo de arruaça como banditismo puro e simples.
Pela atuação de ontem contra os mexicanos, Mano Menezes parece ainda longe de achar a formação ideal da Seleção Brasileira. As muitas mudanças deixam o time sem rosto, mas pelo menos desta vez sobrou disposição. Os passes saíam aos trancos e barrancos, os dribles sumiram do repertório e Neymar foi obrigado a atuar como meia-armador por alguns momentos.
A vitória de virada (com um jogador a menos) valorizou o amistoso e devolveu um pouco de paz ao técnico, que já começava a ser cornetado. Continua, porém, sem explicação a utilização de nulidades como Fernandinho.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 12)