Podem até criticar aspectos gerenciais da atual campanha do Paissandu na Série C, mas a escolha do novo técnico precisa ser enaltecida. Edson Gaúcho deu ao time consistência tática e audácia ofensiva, itens inexistentes durante a gestão de Roberto Fernandes, cuja prática não combinava com o discurso envolvente.
Gaúcho, em pouco mais de um mês na Curuzu, assumiu de verdade o comando do futebol. Não existe diretor, nem mesmo presidente, dando pitacos sobre o departamento. Quem manda é o técnico, o que não deixa de ser saudável e inovador para os padrões regionais, onde dirigente deita e rola, metendo a colher onde não deve.
Lembra às vezes até o estilo mão-de-ferro de Givanildo Oliveira, que conseguia administrar o futebol mesmo sob a presidência de Artur Tourinho, o mais participante dos presidentes de clube que já se viu no Pará. Ao contrário da rabugice do pernambucano, porém, Gaúcho lança mão de uma postura light, fazendo prevalecer sua vontade pelo diálogo e não pela imposição.
Aliás, como já observei aqui antes, o próprio treinador passou por mudanças radicais. Alterou completamente sua forma de lidar com jogadores, funcionários, imprensa e torcida. Quando passou por aqui, há três anos, parecia um furacão, arranjando encrenca pelos motivos mais insignificantes. No auge da ira, chegou a sair no tapa com um torcedor mais inconveniente.
Na excelente entrevista que concedeu ao programa “Bola na Torre”, há três semanas, Gaúcho admitiu que sua experiência como comentarista esportivo, em emissora de rádio de Santa Catarina, foi determinante para as transformações comportamentais.
Ao chegar, sabedor de resistências ao seu nome dentro do próprio clube, tratou logo de ir acalmando os espíritos. Fez uma declaração de paz, evitando críticas diretas ao antecessor e convocando todos a abraçarem a causa da classificação à Série B. Com Rafael Oliveira, que chegou a deixar o clube durante sua primeira passagem pela Curuzu, foi certeiro: elogiou publicamente o atacante, sem deixar de registrar o quanto este havia amadurecido e evoluído ao longo de três anos.
Sintoma óbvio desse novo estilo é a estratégia adotada para desviar o foco do mau resultado em Alagoas. Valorizar a suposta declaração do presidente do CRB, que teria chamado o Paissandu de “time pereba”, é um belo truque para fazer a massa esquecer rapidamente a derrota por 3 a 0. Desde ontem, ninguém fala mais no tropeço em campo, apenas no desaforo do cartola alagoano. De quebra, o técnico ainda atiça o próprio time a encarar o jogo de domingo como verdadeira batalha. Tacada de mestre.
A rodada da Série A teve dois grandes vencedores, que já pontificam como favoritos ao título. Corinthians e Flamengo, mais que os importantes pontos conquistados, têm a vantagem (sempre decisiva) de não precisar se preocupar com arbitragens. No Brasil, isso não é pouca coisa.
O Galo Elétrico, que conseguiu engrenar na Série D, levou uma cacetada em Cuiabá que soa como castigo. Os 2 a 0 não refletem o que foi o jogo, mas criam uma tremenda dificuldade para o campeão paraense. Mata-mata tem dessas coisas. Agora, para continuar no torneio e obter o acesso à Série C, precisa vencer por três gols de diferença. É possível, mas improvável.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 11)