Que o futebol paraense vive há anos servindo de refúgio tranquilo para jogadores veteranos e sem mercado já não é nenhuma novidade. Acontece desde os anos 60 e 70, mas se tornou prática obrigatória e anual (às vezes, semestral) trazer bondes a título de “reforço”.
Há uma parcela da torcida que ainda aceita esse tipo de negócio, empolgando-se com nomes famosos, mas a consciência do torcedor médio mudou e é raro ver alguém celebrando a chegada de mais um dinossauro.
Remo e Paissandu são, por natureza, contumazes empregadores desse tipo de mão-de-obra sucateada. Algumas vezes, num rasgo de sorte, o investimento até frutifica. Foi o caso de Luiz Miller e Biro-Biro no Remo, nos anos 80, e de Vandick e Róbson no Paissandu, mais recentemente. São as tais exceções que confirmam a regra.
No ano passado, o Paissandu bateu todos os recordes de ousadia: de uma só tacada, chegaram Marcelo Ramos, Lúcio e Nildo. Obviamente, a aposta fracassou completamente. Para este ano, além de Vânderson, Sandro e Alex Oliveira, o clube trouxe Mendes, também na perigosa faixa dos 35 anos. São os chamados contratos explícitos de risco.
Quando se cuida e não tem histórico de lesões, o jogador pode encaixar na equipe e contribuir com a experiência para uma grande campanha. Mas, no futebol duríssimo de hoje, dificilmente um veterano consegue uma boa sequência de jogos.
De repente, com todo esse histórico de prejuízos sem conta, eis que a Tuna resolve apostar abertamente numa solução desesperada: contratar o atacante Viola, de 42 anos, cujas últimas passagens por clubes não duraram mais que meia dúzia de jogos, com baixíssimo rendimento. A rigor, a performance mais marcante do ex-ídolo corintiano foi a (também curta) participação no reality-show A Fazenda, na TV Record.
No começo, parecia apenas brincadeira, não mais que um factóide dos dirigentes. Ocorre que, ao que tudo indica, a coisa é séria. Viola é boquirroto, diz frases espirituosas. Faz, enfim, o gênero marqueteiro, mas não pode mais ser considerado um boleiro. Duvido que resolva os problemas da Tuna. Pelo contrário, tem tudo para agravar as mazelas da centenária Águia, recém-saída da segunda divisão estadual.
Para quem vive solicitando apoio para bancar o futebol profissional, se confirmar a contratação, a Tuna dá um passo rumo ao total descrédito. Berço de alguns dos nossos mais talentosos atletas – Manuel Maria, Geovani, Ganso –, a velha Lusa parece ter perdido o eixo e o juízo. Espero que sobreviva a mais essa fuga de idéia.
O sempre vigilante Jaciel Papaléo Paes informa, via e-mail, que o Paissandu está em vias de sofrer bloqueio de bilheteria em face de acordo trabalhista não cumprido com a lavadeira Lucimar Carrera da Cruz. Seriam dez parcelas de R$ 1,500,00. Como só pagou até o sexto mês, as demais parcelas são antecipadas e inicia-se o processo de execução com multa de 30%. Estranho que valor tão modesto esteja a pique de motivar mais uma séria dor de cabeça contábil ao clube.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 27)