O ex-atacante Didi ameaça levar um caminhão de dinheiro do Paissandu – e tem boas chances de conseguir o objetivo. Alegando vários meses de salários atrasados, desde os tempos de jogador do clube, Didi viajou para São Paulo na madrugada desta sexta-feira afirmando que o clube também deixou de pagar seu aluguel, conforme acerto que havia sido firmado. Além dessas pendências, Didi reclama de compromissos não cumpridos quando dirigiu o Time Negra e quando ocupou a função de gerente de futebol. Por baixo, o ex-funcionário avalia que pode arrancar cerca de R$ 2 milhões do clube.
Dia: 14 de janeiro de 2011
Capa do Bola, edição de sexta-feira, 14
Coluna: Marketing entra em campo
Quem acompanha meus escritos e comentários na Rádio Clube e Bola na Torre sabe o quanto questiono essa repatriação de veteranos para o futebol brasileiro. Tecnicamente, não há qualquer contribuição para o crescimento dos clubes ou para o nível geral das competições. Trata-se, na prática, de uma clara involução, na medida em que os jogadores contratados já deram o que tinham de dar, são caros e atravessam o chamado crepúsculo da carreira.
A lista de importações de risco é expressiva: Ronaldo Fenômeno, Adriano, Deco, Fred, Robinho e agora Ronaldinho Gaúcho. Desses atletas, somente Adriano e Robinho – justamente os mais jovens do grupo –, apresentaram bom aproveitamento. Por isso mesmo, conseguiram nova chance em clubes europeus.
Toda essa nova-velha onda está vinculada a um forte exemplo do passado. Romário retornou do Barcelona e consolidou carreira, arrancando para a consagração definitiva com o papel exercido na Seleção, na Copa de 1994. Há, porém, uma fundamental diferença: ao contrário dos demais, Romário voltou mais amadurecido, mas no auge da carreira. E não fez isso forçado pelas circunstâncias; veio por vontade própria, cansado da vida no exterior.
Os exemplos citados, incluindo Gaúcho, são jogadores que experimentam curva descendente e já esgotaram suas chances nos grandes clubes do Velho Continente. Na prática, queimam os últimos cartuchos e sobrevivem do nome construído no passado. Para esses ex-craques, contratos milionários, em condições vantajosas e tolerantes, só são possíveis hoje no futebol brasileiro.
Cabe observar, porém, que o marketing é capaz de transformar limão em limonada. Que ninguém duvide do talento criativo de nossos publicitários. Ronaldo Fenômeno, mesmo com aquela barriga de dono de padaria, carreou para os cofres corintianos uma pequena fortuna. Quase não jogou, fez poucos gols, mas o Corinthians fatura os tubos com a venda de sua camisa 9 e capta uma série de outros bons negócios a partir da exploração de sua imagem.
É o que o Flamengo pretende fazer com Gaúcho. Como o Fenômeno, o meia-atacante vai jogar só de vez em quando. Marcará presença na praia e nas boates, e só brilhará em competições menos exigentes, como o Campeonato Carioca e a Copa do Brasil.
Apesar disso, é obrigatório reconhecer o negócio tem tudo para dar certo no plano financeiro. Patrocínios e rendas serão as principais fontes de faturamento. A apaixonada torcida fará sua parte e a venda de camisas vai explodir, contribuindo para pagar o investimento.
Pouco importa se Ronaldinho já não tem a mesma arrancada, se já não dribla como há cinco anos e se leva um mês para marcar um gol. O marketing, pelo menos no Brasil, ainda se encarrega de jogar por ele. Só não se sabe até quando.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 14)