
Por Pablo Villaça
Se você tivesse que apontar uma única fala como sendo a mais importante de toda a trilogia O Poderoso Chefão, qual seria ela? Há tantos diálogos memoráveis nos três filmes de Coppola e Puzo que a escolha seria difícil, não? Mas reparem que não estou pedindo a mais impactante ou memorável, mas a mais importante. E, para mim, a resposta seria:
“Whoa, now, you’re telling me that the Tattaglias guarantee our investment without…?” (“Ei, um momento, você está me dizendo que os Tattaglias garantem nosso investimento sem..?”)
Hein? Não se lembra desta frase? Refrescarei sua memória: ela ocorre durante a reunião entre Don Vito Corleone e o traiçoeiro Sollozzo, que quer o apoio político da Família (além de um milhão de dólares) para iniciar o tráfico de drogas em Nova York. Presentes ao encontro estão os caporegimes Clemenza e Sal Tessio, o consiglieri Tom Hagen e Santino Corleone, filho mais velho do Don – e é justamente Santino quem diz estas palavras ao ser informado por Sollozzo de que a Família Tattaglia garantiria o investimento dos Corleone.
Irritado pela interrupção, Don Vito encara o filho com severidade, levando-o a se calar, para então comentar com Sollozzo:
– Eu tenho uma fraqueza sentimental pelos meus filhos e os mimo, como pode ver. Eles falam quando deveriam ouvir.
E assim que Sollozzo sai da sala, o Don repreende Santino:
– Qual é o seu problema? (…) Nunca diga o que está pensando para alguém que não pertença à Família.
O que nos traz à importância fundamental do que é dito por Sonny de maneira impulsiva: àquela altura, o Don já havia dito “Não” à oferta de Sollozzo e o questionamento de Santino, portanto, serviu apenas para que o traficante percebesse o interesse do jovem Corleone por sua oferta. É justamente por notar isto que Sollozzo decide matar Don Vito, apostando que, depois que as coisas se acalmassem, Sonny aceitaria o acordo para evitar uma guerra e também por reconhecer seu potencial financeiro. No entanto, como Vito sobrevive, Santino decide intempestivamente ir à guerra – o que eventualmente leva os Barzini a conspirarem com Carlo para assassinar o filho mais velho do Don.
Pois se Vito não tivesse sofrido um atentado (levando Michael a se ver na obrigação de matar Sollozzo) e Santino não houvesse sido assassinado (obrigando Michael a assumir o controle da Família), Michael Corleone teria mantido sua trajetória inicial de renegar a vida de crimes e jamais teria se tornado o Don – o que eventualmente o transformou num monstro capaz de ordenar a morte do próprio irmão, levando-o a perder tudo o que mais amava, incluindo esposa e filhos.
E tudo isso porque, numa certa manhã, seu irmão Santino não pensou antes de abrir a boca para fazer uma pergunta aparentemente inocente – mas cujas implicações seu pai, sábio como poucos, imediatamente percebeu.
Alguém ainda duvida, portanto, que aquela seja a fala mais importante da trilogia?
* “Mantenha seus amigos por perto. E seus inimigos mais perto ainda…” Don Vito dando uma aula de tática ao jovem Michael.
* “Deixe a arma e traga o cannoli…” O Gordo Clemenza ordenando o matador do traidor Paulie…
* “Um homem que não ama sua família jamais será um homem de verdade…” Don Vito ao seu afilhado favorito, Fontane (mais ou menos inspirado em Sinatra)…
E a melhor de todas: “Farei uma proposta que ele não poderá recusar…”
Poderoso Chefão é a Monalisa do cinema.
Gerson, vale a pena ler as continuações do livro: A Volta do Poderoso Chefão e a Vingança do Poderoso Chefão. Escritos pelo americano Mark Winegardner.
CurtirCurtir
Também gosto muito desta máxima de D. Vito, ensinando como se deve lidar com os pulhas.
CurtirCurtir
Tenho A Vingança do Poderoso Chefão. Vou atrás do outro.
CurtirCurtir
A Volta… é anterior à Vingança. Tem que ler primeiro a Volta e depois a Vingança… Já tem em inglês o encerramento por parte do Winegardner: ” The Godfather: Lost years”. Mais ou menos como “Os anos perdidos do Poderoso Chefão”.
* Tem um boato de que os dois livros já estão sendo planejados para o cinema. Sinceramente? Me dá um medo… Já pensou um Di Caprio como o Michael? Ai, ai, ai…
CurtirCurtir
Pô, Matheus, nem imagina essa tragédia! Já pensou no que vai dar essa hipótese, em vem de um “capo”, uma “Ragazza”?
CurtirCurtir
Ainda bem que o “BERLUSCONI” tem BOM HUMOR !!!
… rsrsrs …
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK !!!!!!!!
CurtirCurtir