POR GERSON NOGUEIRA
O futebol é apaixonante, arrasta multidões e atiça tantas emoções porque mexe com sentimentos, divide o mundo em grupos. Quanto mais identificação e afinidade, mais união entre as pessoas. É fato que costumamos simpatizar de cara – mesmo sem conhecer – com quem veste as mesmas cores, desfralda as bandeiras de nosso time do coração, segue a mesma ideologia ou curte o mesmo tipo de música. A isso chamamos de empatia natural.
A raça humana precisa desses referenciais para se sentir pertencente a turmas, partidos, países, comunidades, patotas, igrejas e até gangues uniformizadas, comuns em clubes de massa.
Torcedores agem e se agrupam assim. Descobrindo pontos de convergência e gostos parecidos. A coisa sai dos trilhos quando passam a considerar como inimigos todos os que pensam ou vivem de forma diferente. A não aceitação de contrários é um caminho que pode conduzir à barbárie.
Ideologias radicais, extremistas e xiitas se alimentam desse distanciamento em relação a grupos diferentes. O diálogo nem chega a se estabelecer e os ajuntamentos tornam-se bolhas impenetráveis.
É possível vislumbrar o mesmo mecanismo no futebol. Nem sempre de forma tão excludente. A relação entre torcedores rivais pode ser amistosa, restrita aos limites do desporto.
Tudo degringola, porém, quando o fanatismo exacerbado contamina quem deveria pensar racionalmente. Dirigentes não podem agir movidos pela bílis. O lado mercurial deve ficar com o torcedor. Aos líderes compete aplacar as labaredas, conter os incendiários. Jogar para a plateia já foi sinal de sagacidade política; hoje é quase sempre um sinal de primarismo demagógico.

Alguns exemplos extremamente auspiciosos têm brotado no Nordeste, com gestões esclarecidas e responsáveis. O Bahia foi o pioneiro e o Fortaleza segue seus passos.
Em fase de recuperação financeira e resgate da velha hegemonia, o Tricolor da Boa Terra entendeu que o inimigo maior não é o rival Vitória. Passou, então, a mirar no verdadeiro desafio: a luta contra os clubes do Sul e Sudeste, que dominam a cena há décadas. Coincidência ou não, foi o Bahia que quebrou a banca conquistando títulos importantes inserindo-se entre os maiorais antes da era dos pontos corridos.
A máxima napoleônica ensina que saber escolher seus inimigos é também uma forma de poder. Ao entender isso, o Bahia se libertou das amarras domésticas e voltou a ser visto e respeitado como agremiação grande pelo resto do país.
Não significa que o clube baiano vá se desapegar dos embates domésticos. Nada disso. Apenas passou a olhar para além-muro e projetar avanços, administrativa e esportivamente falando.
O modelo ganha adeptos também entre nós, o que é uma ótima notícia. Para a agenda de debates do Troféu Camisa 13, Zaire Filho tem convidado frequentemente executivos e gestores que tiveram êxito ao abraçar a causa de libertar os clubes das amarras da rivalidade interna.
Não quer dizer que alimentar uma histórica porfia seja algo negativo. Pelo contrário. É válido e ancora raízes históricas, só não pode ser a razão de existir de um clube. Há objetivos maiores a conquistar num mundo que muda velozmente.
Pensar grande significa, acima de tudo, agir com grandeza.
Leão aproveita quarentena para recompor elenco
O Remo começa a reduzir elenco em plena quarentena. A incerteza advinda da quarentena tem encorajado acertos contratuais. Há uma coincidência entre o desejo de ir embora por parte de alguns atletas e a insatisfação da comissão técnica com a produção de boa parte do elenco.
Jackson, artilheiro do time no campeonato, e Nininho, último jogador contratado para o Parazão, foram apenas os primeiros a deixarem o clube. Pelo menos mais cinco atletas devem seguir o mesmo caminho, entrando em acordo nos próximos dias.
As saídas devem ser repostas apenas para a Série C, cujo início deve ocorrer em julho ou agosto, conforme estimativas mais otimistas. O técnico Mazola Junior já se movimenta para, ao lado do executivo Carlos Kila, iniciar a busca por atletas que recomponham o elenco.
De acordo com o planejamento interno, o clube deve chegar ao Brasileiro com uma folha salarial mais enxuta, a partir das reduções já confirmadas neste período de quarentena. Somente os salários de jogadores oriundos da base (em torno de R$ 3 mil) não foram alterados.
Para a disputa do Brasileiro, o clube deve contratar um ou dois talentos revelados no atual Parazão.
Bola na Torre
Lino Machado apresenta o programa, que hoje começa às 21h30, na RBATV. Participações de Saulo Zaire e Mariana Malato. No sistema de home office, comentários de Guilherme Guerreiro, Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião.
Ainda doente, ídolo remista está de volta a Macapá
Quase ninguém mais falou em Bira, mas o filho do ídolo azulino traz notícia nova. Ele informou na quarta-feira que o pai já está em Macapá, cercado pelo carinho e as atenções da família.
No final de 2019, Bira veio para Belém em estado grave e foi hospitalizado na Beneficente Portuguesa, com problemas decorrentes do diabete. Trava agora a luta para recuperar a saúde plena.
(Coluna publicada na edição do Bola de domingo, 12)