Por Hélio Doyle
O presidente Jair Bolsonaro arriscou tudo, e está perdendo. Sua postura irresponsável e politizada diante da pandemia que assola o planeta levou-o ao isolamento político, a sofrer queda de popularidade e a ser vítima de escárnio em todo o mundo. Difunde-se, inclusive, a hipótese — não suficientemente comprovada ainda — de que não mais governa de fato, sendo tutelado por ministros militares que têm gabinete no Palácio do Planalto.
Qualquer presidente razoavelmente inteligente teria feito o contrário do que fez Bolsonaro: veria na pandemia a oportunidade de se impor como liderança no combate ao vírus e na defesa da população diante das inevitáveis agruras econômicas. Um político experiente faria o discurso de unidade de toda a nação para enfrentar o “inimigo” e, após derrotá-lo, reconstruir o país. Tomaria imediatamente as medidas necessárias, nos campos sanitário, social e econômico.
O deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara, disse que Bolsonaro, ao contrário do que pensam, é inteligente. Não, não é, ao contrário do que pensa ou diz pensar Maia. O presidente da República tem dado demonstrações cotidianas de falta de inteligência. Isso, porém, não quer dizer que Bolsonaro seja bobo, não pense politicamente e não tenha um projeto de poder. Tem, ainda que, delineado sob inspiração do guru Olavo de Carvalho, seja um projeto rasteiro e simplista, sem qualquer sofisticação intelectual. Mas é um projeto, factível e realizável.
A atuação de Bolsonaro diante da pandemia é coerente com esse projeto: mantém fortemente unida e fiel a parcela do eleitorado que lhe assegura a passagem para o segundo turno em 2022 ou, se as circunstâncias favorecerem, lhe possibilita dar um autogolpe para acumular mais poderes. É para esse segmento, que vai da classe A+ à E-, da alta classe alta aos extremamente pobres, que Bolsonaro fala e age. Não lhe interessam consensos, concessões e coalizões. É sempre “nós” contra “eles”.