O golpe de Bolsonaro está em curso

Por Eliane Brum

Só não vê quem não quer. E o problema, ou pelo menos um deles, é que muita gente não quer ver. O amotinamento de uma parcela da Polícia Militar do Ceará e os dois tiros disparados contra o senador licenciado Cid Gomes (PDT), em 19 de fevereiro, é a cena explícita de um golpe que já está sendo gestado dentro da anormalidade. Há dois movimentos articulados. Num deles, Jair Bolsonaro se cerca de generais e outros oficiais das Forças Armadas nos ministérios, substituindo progressivamente os políticos e técnicos civis no Governo por fardados – ou subordinando os civis aos homens de farda nas estruturas governamentais. Entre eles, o influente general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, segue na ativa, e não dá sinais de desejar antecipar seu desembarque na reserva. O brutal general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, chamou o Congresso de “chantagista” dias atrás. Nas redes, vídeos com a imagem de Bolsonaro conclamam os brasileiros a protestar contra o Congresso em 15 de março. “Por que esperar pelo futuro se não tomamos de volta o nosso Brasil?”, diz um deles. Bolsonaro, o antipresidente em pessoa, está divulgando pelas suas redes de WhatsApp os chamados para protestar contra o Congresso. Este é o primeiro movimento. No outro, uma parcela significativa das PMs dos estados proclama sua autonomia, transformando governadores e população em reféns de uma força armada que passa a aterrorizar as comunidades usando a estrutura do Estado. Como os fatos já deixaram claro, essas parcelas das PMs não respondem aos Governos estaduais nem obedecem a Constituição. Tudo indica que veem Bolsonaro como seu único líder. Os generais são a vitrine lustrada por holofotes, as PMs são as forças populares que, ao mesmo tempo, sustentam o bolsonarismo e são parte essencial dele. Para as baixas patentes do Exército e dos quartéis da PM, Bolsonaro é o homem.

É verdade que as instituições estão tentando reagir. Também é verdade que há dúvidas robustas se as instituições, que já mostraram várias e abissais fragilidades, ainda são capazes de reagir às forças que já perdem os últimos resquícios de pudor de se mostrarem. E perdem o pudor justamente porque todos os abusos cometidos por Bolsonaro, sua família e sua corte ficaram impunes. De nada adianta autoridades encherem a boca para “lamentar os excessos”. Neste momento, apenas lamentar é sinal de fraqueza, é conversinha de sala de jantar ilustrada enquanto o barulho da preparação das armas já atravessa a porta. Bolsonaro nunca foi barrado: nem pela Justiça Militar nem pela Justiça Civil. É também por isso que estamos neste ponto da história.

Essas forças perdem os últimos resquícios de pudor também porque parte do empresariado nacional não se importa com a democracia e a proteção dos direitos básicos desde que seus negócios, que chamam de “economia”, sigam dando lucro. Esta mesma parcela do empresariado nacional é diretamente responsável pela eleição de um homem como Bolsonaro, cujas declarações brutais no Congresso já expunham os sinais de perversão patológica. Estes empresários são os herdeiros morais daqueles empresários que apoiaram e se beneficiaram da ditadura militar (1964-1985), quando não os mesmos.

Uma das tragédias do Brasil é a falta de um mínimo de espírito público por parte de suas elites financeiras. Elas não estão nem aí com os cartazes de papelão onde está escrita a palavra “Fome”, que se multiplicam pelas ruas de cidades como São Paulo. Como jamais se importaram com o genocídio dos jovens negros nas periferias urbanas do Brasil, parte deles mortos pelas PMs e suas “tropas de elite”. Adriano da Nóbrega – aquele que, caso não tivesse sido morto, poderia dizer qual era a profundidade da relação da família Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro e também quem mandou assassinar Marielle Franco – pertencia ao Bope, um destes grupos de elite.

Não há nada comparável à situação vivida hoje pelo Brasil sob o Governo de Bolsonaro. Mas ela só é possível porque, desde o início, se tolerou o envolvimento de parte das PMs com esquadrões da morte, na ditadura e além dela. Desde a redemocratização do país, na segunda metade dos anos 1980, nenhum dos governos combateu diretamente a banda podre das forças de segurança. Parte das PMs se converteu em milícias, aterrorizando as comunidades pobres, especialmente no Rio de Janeiro, e isso foi tolerado em nome da “governabilidade” e de projetos eleitorais com interesses comuns. Nos últimos anos as milícias deixaram de ser um Estado paralelo para se confundir com o próprio Estado.

A política perversa da “guerra às drogas”, um massacre em que só morrem pobres enquanto os negócios dos ricos aumentam e se diversificam, foi mantida mesmo por governos de esquerda e contra todas as conclusões dos pesquisadores e pesquisas sérias que não faltam no Brasil. E seguiu sustentando a violência de uma polícia que chega nos morros atirando para matar, inclusive em crianças, com a habitual desculpa de “confronto” com traficantes. Se atingem um estudante na escola ou uma criança brincando, é “efeito colateral”.

Desde os massivos protestos de 2013, governadores de diferentes estados acharam bastante conveniente que as PMs batessem em manifestantes. E como ela bateu. Era totalmente inconstitucional, mas em todas as esferas, poucos se importaram com esse comportamento: uma força pública agindo contra o cidadão. Os números de mortes cometidas por policiais, a maior parte delas vitimando pretos e pobres, segue aumentando e isso também segue sendo tolerado por uns e estimulado por outros. É quase patológica, para não dizer estúpida, a forma como parte das elites acredita que vai controlar descontrolados. Parecem nem desconfiar de que, em algum momento, eles vão trabalhar apenas para si mesmos e fazer os ex-chefes também de reféns.

Bolsonaro compreende essa lógica muito bem. Ele é um deles. Foi eleito defendendo explicitamente a violência policial durante os 30 anos como político profissional. Ele nunca escondeu o que defendia e sempre soube a quem agradecer pelos votos. Sergio Moro, o ministro que interditou a possibilidade de justiça, fez um projeto que permitia que os policiais fossem absolvidos em caso de assassinarem “sob violenta emoção”. Na prática é o que acontece, mas seria oficializado, e oficializar faz diferença. Essa parte do projeto foi vetada pelo Congresso, mas os policiais seguem pressionando com cada vez mais força. Neste momento, Bolsonaro acena com uma antiga reivindicação dos policiais: a unificação nacional da PM. Isso também interessa – e muito – a Bolsonaro.

Se uma parcela das polícias já não obedece aos governadores, a quem ela obedecerá? Se já não obedece a Constituição, a qual lei seguirá obedecendo? Bolsonaro é o seu líder moral. O que as polícias militares têm feito nos últimos anos, ao se amotinarem e tocarem o terror na população é o que Bolsonaro tentou fazer quando capitão do Exército e foi descoberto antes: tocar o terror, colocando bombas nos quartéis, para pressionar por melhores salários. É ele o precursor, o homem da vanguarda.

O que aconteceu com Bolsonaro então? Virou um pária? Uma pessoa em que ninguém poderia confiar porque totalmente fora de controle? Um homem visto como perigoso porque é capaz de qualquer loucura em nome de interesses corporativos? Não. Ao contrário. Foi eleito e reeleito deputado por quase três décadas. E, em 2018, virou presidente da República. Este é o exemplo. E aqui estamos nós. Vale a pergunta: se os policiais amotinados são apoiados pelo presidente da República e por seus filhos no Congresso, continua sendo motim?

Não se vira refém de uma hora para outra. É um processo. Não dá para enfrentar o horror do presente sem enfrentar o horror do passado porque o que o Brasil vive hoje não aconteceu de repente e não aconteceu sem silenciamentos de diferentes parcelas da sociedade e dos partidos políticos que ocuparam o poder. Para seguir em frente é preciso carregar os pecados junto e ser capaz de fazer melhor. Quando a classe média se calou diante do cotidiano de horror nas favelas e periferias é porque pensou que estaria a salvo. Quando políticos de esquerda tergiversaram, recuaram e não enfrentaram as milícias é porque pensaram que seria possível contornar. E aqui estamos nós. Ninguém está a salvo quando se aposta na violência e no caos. Ninguém controla os violentos.

Há ainda o capítulo especial da degradação moral das cúpulas fardadas. Os estrelados das Forças Armadas absolveram Bolsonaro lá atrás e hoje fazem ainda pior: compõem sua entourage no Governo. Até o general Ernesto Geisel, um dos presidentes militares da ditadura, dizia que não dava para confiar em Bolsonaro. Mas aí está ele, cercado por peitos medalhados. Os generais descobriram uma forma de voltar ao Planalto e parecem não se importar com o custo. Exatamente porque quem vai pagar são os outros.

As polícias são a base eleitoral mais fiel de Bolsonaro. Quando essas polícias se tornam autônomas, o que acontece? Convém jamais esquecer que Eduardo Bolsonaro disse antes da eleição que “basta um cabo e um soldado para fechar o Supremo Tribunal Federal”. Um senador é atingido por balas disparadas a partir de um grupo de policiais amotinados e o mesmo filho zerotrês, um deputado federal, um homem público, vai às redes sociais defender os policiais. Não adianta gritar que é um absurdo, é totalmente lógico. Os Bolsonaros têm projeto de poder e sabem o que estão fazendo. Para quem vive da insegurança e do medo promovidos pelo caos, o que pode gerar mais caos e medo do que policiais amotinados?

É possível fazer muitas críticas justas a Cid Gomes. É possível enxergar a dose de cálculo em qualquer ação num ano eleitoral. Mas é preciso reconhecer que ele compreendeu o que está em curso e foi para a rua enfrentar com o peito aberto um grupo de funcionários públicos que usavam a estrutura do Estado para aterrorizar a população, multiplicando o número de mortes diárias no Ceará.

A ação que envergonha, ao contrário, é a do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que, num estado em dificuldades, se submete à chantagem dos policiais e dá um aumento de quase 42% à categoria, enquanto outras estão em situação pior. É inaceitável que um homem público, responsável por tantos milhões de vidas de cidadãos, acredite que a chantagem vai parar depois que se aceita a primeira. Quem já foi ameaçado por policiais sabe que não há maior terror do que este, porque além de terem o Estado na mão, não há para quem pedir socorro.

Quando Bolsonaro tenta responsabilizar o governador Rui Costa (PT), da Bahia, pela morte do miliciano Adriano da Nóbrega, ele sabe muito bem a quem a polícia baiana obedece. Possivelmente não ao governador. A pergunta a se fazer é sempre quem são os maiores beneficiados pelo silenciamento do chefe do Escritório do Crime, um grupo de matadores profissionais a quem o filho do presidente, senador Flavio Bolsonaro, homenageou duas vezes e teria ido visitar na cadeia outras duas. Além, claro, de ter empregado parte da sua família no gabinete parlamentar.

Não sei se pegar uma retroescavadeira como fez o senador Cid Gomes é o melhor método, mas era necessário que alguém acordasse as pessoas lúcidas deste país para enfrentar o que está acontecendo antes que seja demasiado tarde. Longe de mim ser uma fã de Ciro Gomes, mas ele falou bem ao dizer: “Se você não tem a coragem de lutar, ao menos tenha a decência de respeitar quem luta”.

A hora de lutar está passando. O homem que planejava colocar bombas em quartéis para pressionar por melhores salários é hoje o presidente do Brasil, está cercado de generais, alguns deles da ativa, e é o ídolo dos policiais que se amotinam para impor seus interesses pela força. Estes policiais estão acostumados a matar em nome do Estado, mesmo na democracia, e a raramente responder pelos seus crimes. Eles estão por toda a parte, são armados e há muito já não obedecem ninguém.

Bolsonaro têm sua imagem estampada nos vídeos que conclamam a população a protestar contra o Congresso em 15 de março e que ele mesmo passou a divulgar por WhatsApp. Se você não acha que pegar uma retroescavadeira é a solução, melhor pensar logo em outra estratégia, porque já está acontecendo. E, não se iluda, nem você estará a salvo.

Este artigo se encontra em https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-02-26/o-golpe-de-bolsonaro-esta-em-curso.html

PM amotinado ameaça governador do Ceará e cita até a ‘facada fake’

Armado, Inspetor Alberto ameaça governador do Ceará

Circula nas redes sociais o vídeo de um homem, identificado como Inspetor Alberto, ameaçando, de arma em punho, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e em defesa da greve da PM no Estado, declarada ilegal pela Justiça e pelo comando da corporação.

“Camilo Santana, se alguém se atrever a vir aqui no batalhão para mexer com as crianças, com as senhoras e os policiais, eles vão receber o que merecem. Meu nome é Inspetor Alberto e eu não tenho medo de você”, diz o militar no vídeo.

Este não é o primeiro vídeo do PM. Em outro, em que também aparece armado, postado na terça-feira 25, denuncia haver um “infiltrado”, “ativista do PT”, dentro do batalhão onde os PMs estão amotinados. 

“Um Adélio Bispo infiltrado dentro do 18º BPM”, disse, fazendo referência ao homem acusado de esfaquear Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial em 2018.

“E, quando eu tiver saído para fora do teu círculo, não serei nem terás sido…”

Morre Valdir Espinosa, campeão com o Botafogo em 1989

Vitor Silva/Botafogo

Morreu, na manhã de hoje (27), Valdir Espinosa, ex-jogador e treinador brasileiro. Ele tinha 72 anos e fez seu último trabalho foi no Botafogo, clube em que ocupou o cargo de gerente de futebol desde dezembro do ano passado. Espinosa havia se licenciado no último dia 14 justamente para a realização da cirurgia na na região abdominal. Após o procedimento, porém, o quadro de saúde apresentou uma piora.

Nascido em Porto Alegre, Espinosa começou a carreira no Grêmio. Ele também defendeu CSA, Esportivo e Vitória como jogador antes de se aposentar dos gramados. No cargo de treinador, passou por diversos grandes clubes do Brasil e também esteve no comando de Al-Hilal, da Arábia Saudita, Cerro Porteño, do Paraguai, Tokyo Verdy, do Japão, e Las Vegas City, dos Estados Unidos.

Espinosa ganhou maior identificação no Grêmio e no Botafogo. No Tricolor gaúcho, foi o técnico da conquista da Libertadores e do Mundial de 1983. Além disso, era o coordenador técnico na época que a equipe levou a Copa do Brasil em 2016.

No Alvinegro, foi o treinador que levantou a taça do Campeonato Carioca de 1989, garantindo o título que tirou a equipe de General Severiano de uma fila de 21 anos sem chegar ao topo do pódio. Entre os anos de 2008 e 2010, Espinosa também chegou a atuar como comentarista do Grupo Globo. Pouco depois, criou um canal no YouTube em que falava sobre futebol e tática.

Na sala de troféus de Espinosa, há ainda o Campeonato Cearense de 1980, com o Ceará, o Campeonato Paranaense de 1981, com o Londrina, Campeonato Gaúcho de 1986, com o Grêmio, o Campeonato Saudita de 1985, com o Al-Hilal, o Campeonato Paraguaio de 1987 e 1992, com o Cerro, o Supercampeonato Paranaense de Futebol de 2002, com o Athletico Paranaense, e o Campeonato Brasiliense de 2005, com o Brasiliense.

HOMENAGEM DO BOTAFOGO

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É com muita dor e imenso pesar que o Botafogo de Futebol e Regatas comunica o falecimento do Professor Valdir Espinosa, aos 73 anos (Nota da redação: na verdade, o técnico tinha 72 anos). Comandante do título Carioca em 1989, Espinosa exercia a função de Gerente Técnico desde dezembro de 2019.

Muito querido no Clube por torcedores e por quem conviveu com ele no dia a dia, Espinosa vai fazer muita falta. Sua liderança, exemplo e ensinamentos seguirão no Botafogo como legado dessa figura tão representativa na história do Clube.

O presidente Nelson Mufarrej decretou luto oficial de três dias. Em sinal de respeito por este grande profissional, o pavilhão alvinegro de General Severiano encontra-se a meio-mastro.

A sentença eterna

“Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito: rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio, o cemitério.”

Ulysses Guimarães

Uma aula de marketing dos infernos (estrelando o AC/DC!)

Por André Forastieri, no Linkedin

Nesse mundo moderno, a gente virou um bicho muito desatento, distraído, maria-vai-com-as-outras. A moda é Twitter? Começa um Twitter. Facebook? Vamos lá. Instagram, Snapchat? Realidade virtual? Queremos novidade toda hora. Queremos moda nova toda hora. O seriado quente do ano passado? Já era. A banda que estreou com aquela música fantástica? Ih, já está na terceira música, ficou velha, tem coisa nova.

Isso interfere na nossa vida, interfere no nosso trabalho. Fazemos um monte de coisas, corremos atrás de um monte de coisas, prestamos atenção em um monte de coisas. Você vai ao supermercado e dá até vertigem, de tanto produto diferente, e sempre tem mais, mais, mais. Em uma loja virtual, é isso vezes mil.

Num mundo com abundância de distrações, o que mais falta? Foco. Clareza. Permanência. Na vida real, é fundamental fazer algumas coisas muito bem. Você pode ter mil amigos no Facebook, mas isso só faz mais importante amar muito algumas poucas pessoas especiais.  Requer concentração e dedicação.

Como requer esforço ficar bom em qualquer coisa. Até coisas que muita gente acha estúpida. E mesmo que leve décadas para você realmente ficar bom. Como, por exemplo, o AC/DC.

Angus Young usa aquele shorts, toca daquele jeito e esperneia como um epiléptico desde 1973. E, incrível, desde aquela época os caras sabiam que leva um tempão para você chegar ao topo. A primeira faixa do primeiro álbum do AC/DC avisava: “It´s a Long Way To The Top if You Wanna Rock´n´roll”.  

Você pode dizer que o AC/DC, como os Ramones ou o Motorhead, fazem sempre a mesma coisa. O AC/DC faz basicamente a mesma música, com as mesmas letras toscas, desde que eu tinha nove anos de idade. Sou fã desde os dezenove, 1985, quando vi os caras no Rock In Rio. Eu detestava heavy metal. Me rendi ali na hora. Até hoje, não vi show mais poderoso.

O AC/DC faz sempre a mesma coisa, mas ninguém faz essa coisa melhor que eles. Eles não se distraem com a novidade do momento. Nunca mudaram o show, as roupas, os arranjos. Não seguem modinha. Não facilitam para os serviços de streaming, gostam mesmo é de vender CD, e vendem, e de lotar shows, e lotam.

Uns anos atrás, vi uma entrevista com a banda na MTV americana. O apresentador perguntou, vocês acompanham as novidades do rock? Qual a última banda que vocês acharam bacana? Angus respondeu, “os Rolling Stones”.

É de chorar de legal. E é uma aula de como focar no que importa. Repetição leva à perfeição. E manter a fidelidade ao que te fez requer uma disciplina infernal. Mas compensa. Ainda faz sentido Angus Young, nascido em 1955, usar aquele uniforme de colegial enquanto se atira pelo palco? Estádios lotados no mundo inteiro respondem em coro: “Sim!”.

O AC/DC vem passando por uma temporada dura. Malcolm, irmão de Angus, e fundador da banda, teve que se aposentar por questões de saúde. Depois foi a vez de Phil Rudd, baterista, que teve problemas com a lei. Recentemente, um baque aparentemente insuperável: no meio da turnê Rock or Bust, o vocalista Brian Johnson saiu da banda, alertado por seu médico que corria risco iminente de perder a audição.

Pois o que fez o AC/DC? Foi pra casa? Mas de jeito nenhum. Há grana pra faturar, há contratos a serem cumpridos com promotores de shows planeta afora. Angus chamou um baterista antigo. Botou o sobrinho no lugar de Malcolm. E recrutou ninguém menos que Axl Rose para substituir Brian.

Jogada brilhante. Quem já viu o AC/DC dez vezes ganhou uma razão para ver de novo. Quem é fã do Guns N´Roses, idem. E é uma oportunidade única, porque sabe-se lá se no futuro Axl voltará a cantar com o AC/DC. Aliás, nem sabemos se a banda continua: o baixista Cliff Williams já anunciou que depois que a turnê acabar, também está fora.

Você conhece produtos como o AC/DC. São aqueles com que você conta, chova ou faça sol. Que não mudam. Que estão sempre lá quando você precisa. São relações longas, às vezes para toda a vida. Receitas perfeitas são perfeitas. Não há o que melhorar. Não tem duas maneiras de assar uma picanha perfeita.

Pensando agora como empresa. Não há meta mais difícil no mercado que criar um AC/DC, uma Coca-Cola, um leite condensado Moça, uma paçoquinha Amor, um creme Nivea, uma Harley-Davidson. Ou, para ficar na minha vizinhança, o x-salada do Burdog.

Ou, pensando bem, talvez haja algo mais difícil. Que é resistir à tentação de mudar o time que está ganhando. Porque, afinal, o tempo passa, as pessoas mudam, as equipes das empresas mudam, e profissionais naturalmente querem deixar suas marcas por onde passam. De vez em quando dá certo e o cara fica famoso pela esperteza. Na maioria gigantesca das vezes dá errado.

Para ficar em dois casos engraçados, lembro de quando um gênio lá decidiu que Arnold Schwarzenegger deveria fazer comédias para toda a família. E quando a Mercedes, sinônimo de carro de luxo, lançou o Classe A, minúsculo e popular, o contrário do que a marca significava.

Fazer sucesso é difícil. Fazer sucesso por muito tempo é quase impossível. Qual é o segredo da empresa mais valiosa do mundo? Ser como o AC/DC. A Apple faz a mesma coisa pelo menos desde o primeiro Mac que eu comprei, um LC II, em 1992: produtos eletrônicos super charmosos e amigáveis. Que qualquer um pode usar, e depois não quer trocar por outra marca. Os produtos da Apple mudam, o DNA permanece.

Na verdade, a Apple quase foi à falência quando abandonou sua identidade. Foi a volta de Steve Jobs à companhia, e um foco redobrado na identidade da marca, que criou a Apple que conhecemos hoje. Outro dia Tim Cook chamou para o palco Shigeru Miyamoto, o maior gênio dos videogames, criador do Mario, para anunciar os primeiros jogos Nintendo para o iPhone. Lembrei na hora de Angus convocando Axl. Cross-branding perfeito. Mas mantendo a identidade.

Inovação é importante? Nem sempre. Não no caso de marcas como o AC/DC. Tudo que não queremos é que elas inovem. São nossos portos-seguros. Podemos promovê-las usando as mais recentes novidades da tecnologia, as jogadas de marketing mais quentes? Podemos. Precisa ver se é necessário mesmo, ou só dinheiro jogado fora. Mas sempre lembrando da máxima de Tomaso di Lampedusa: “as coisas têm que mudar para que permaneçam exatamente como são.”

Ah, já ia esquecendo: a previsão é que o faturamento total da turnê Rock or Bust passe de 250 milhões de dólares! O AC/DC é assim: é TNT, é dinamite…

Última grande chance para ER?

POR GERSON NOGUEIRA

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Depois da eliminação na Copa do Brasil, o Remo passa a ter como prioridades na temporada a conquista do tricampeonato do Parazão e a campanha no Brasileiro da Série C. A casa ganhou anteontem um novo gestor, com fama de linha-dura, e o elenco será submetido a uma rigorosa avaliação técnica a partir desta semana.

Em meio às afirmações de Mazola Jr. durante a apresentação oficial, chamou atenção o tempo que dedicou a Eduardo Ramos. Elogiou o meia-armador, recordou a tentativa de levá-lo para um dos clubes que dirigiu e foi categórico: se o jogador estiver bem será ele (ER)  “e mais 10”.

A afirmação do técnico divide opiniões na torcida. Nem tanto pelas qualidades do jogador, mas, principalmente, pelo ritmo lento que tem exibido desde que voltou ao Evandro Almeida no ano passado.

Poucas vezes foi possível ver em ação o meia incisivo, que recebia a bola no meio-campo e partia em arrancadas rumo à área inimiga, ultrapassando adversários e chegando em condições de arremate ao gol.

Não que seja justo esperar de um jogador de 33 anos a mesma resistência física do começo da carreira. O problema é que, mesmo quando se posiciona mais atrás, Ramos não consegue mais render a contento.

Fica a impressão de que o jogador que se destacava no plano individual não conseguiu se reinventar para servir ao coletivo. Rafael Jaques chegou a apostar nele como articulador nos primeiros jogos do Campeonato Estadual, mas o rendimento ficou muito aquém do esperado.

A chegada de Mazola coincide com a volta do meia aos treinos, depois de ficar cerca de um mês tratando uma contusão. A oportunidade oferecida pelo técnico é, seguramente, uma das últimas que ER terá no Remo, cuja torcida já o vê com forte desconfiança.

A lesão de Douglas Packer deixa o caminho aberto para a reentronização do camisa 10 já a partir de domingo, contra o Carajás. É provável que Mazola descubra novas atribuições para Ramos, até mesmo conectado ao ataque – como Jaques tentou fazer com Packer, sem sucesso.

Como a coluna já defendeu antes, Ramos tem afinidades com a finalização. Sempre marcou gols e sabe se colocar na linha ofensiva. Se a ideia for bem ensaiada, poderia funcionar como ponta-de-lança clássico ocupando a faixa junto à linha da grande área, alguns passos atrás do camisa 9.

Papão mantém esquema sem homem de criação

A partida contra o Bragantino será a primeira desde que o PSC saiu da Copa do Brasil. Os jogadores falam em virar a chave, trocar o chip e retomar a campanha bem sucedida no Parazão. Líder, com 12 pontos e saldo superior ao de Castanhal e Remo, o time ainda não saiu de Belém para enfrentar os campos do interior.

No estádio Diogão, cujo gramado é um desafio à parte para os visitantes, o PSC vai colocar em xeque outra vez o esquema que abre mão de um jogador de criação no meio-de-campo.

Desde que Alex Maranhão foi barrado, passando a ser uma opção para o decorrer das partidas, a tarefa de imprimir dinamismo e movimentação à equipe tem ido entregue a volantes. PH vinha desempenhando esse papel, com eficiência e sem brilho.

Em Bragança, a missão deve ser dividida entre Serginho e Caíque Oliveira (provável substituto de PH). Ao mesmo tempo em que fecha a linha de marcação, Hélio procura disfarçar a falta de um especialista na articulação imprimindo velocidade na transição.

Às vezes, tudo se encaixa e o sistema dá certo, como no Re-Pa. Em outros momentos, a estratégia fracassa, como contra o CRB. Fica claro que a dificuldade aumenta contra equipes que bloqueiam a meia-cancha.

Como o Bragantino libera mais seus jogadores e deve se lançar à frente em busca da vitória, é provável que abra espaços para o trio de volantes do Papão. É bom lembrar que não é exatamente uma novidade o que Hélio vem fazendo. Dado Cavalcanti e João Brigatti chegaram a apelar aos volantes quando faltava jogador criativo no elenco.

Galo faz aposta de risco para reagir no Parazão

Jobson foi anunciado na terça-feira como reforço do Independente para o Campeonato Estadual. Não é o Jobson driblador e de futebol empolgante dos primeiros tempos de Botafogo. Não é nem mesmo o Jobson que tentou um último suspiro pelo Brasiliense.

O atacante que chega como tentativa de salvar a campanha trôpega do Galo Elétrico no Parazão é apenas sombra do atacante que chegou a ser especulado para a Seleção Brasileira.

A suspensão em 2015 pela Fifa, pela recusa em fazer exame antidoping na Arábia Saudita, botou praticamente um fim na carreira, que já era opaca. Depois, vieram as três prisões e iguais tentativas de voltar a jogar.

“Agora é oficial, torcedores. Sou do Galo! Estamos juntos. Cheguei pra somar e ganhar título. Nem cavalo aguenta”, disparou Jobson ao anunciar a chegada a Tucuruí, imitando o estilo marqueteiro que fez a glória de Túlio.

Caso seja regularizado até amanhã, Jobson pode estrear contra o Itupiranga, sábado, pela 6ª rodada do campeonato. Segundo o clube, o jogador está bem fisicamente porque treinava na Portuguesa (RJ), seu último emprego.

APJ empossa novos imortais

Um grande camarada, Douglas Jaceguai Dinelli, será empossado hoje à noite na Academia Paraense de Jornalismo, que é presidida por Franssinete Florenzano. Escolha das mais meritórias, que coroa uma vida dedicada à atividade jornalística.

No grupo de novos acadêmicos estão outros dois queridos companheiros de ofício, Antônio Praxedes – cujo nome se confunde com a Sudam – e Anthero Eloy Lins. A cerimônia acontece no salão nobre da Associação Comercial.

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 27)

Escória bolsonarista expõe família de jornalista do Estadão

Do Estadão:

A jornalista Vera Magalhães, colunista do Estado, é alvo de ataques nas redes sociais desde que revelou, nesta terça-feira, 25, que o presidente Jair Bolsonaro usou seu celular pessoal para compartilhar um vídeo que convoca a população para manifestações contra o Congresso Nacional.

Uma conta falsa em nome da jornalista foi criada no WhatsApp e mensagens fraudadas foram distribuídas em outras redes sociais. Além disso, houve compartilhamento de uma cobrança de 2015 do colégio onde estudam os filhos de Vera, expondo, dessa forma, a família da jornalista.  (…)

Apoiadores conhecidos de Bolsonaro como o youtuber Leandro Ruschel também publicaram textos defendendo a exposição de informações pessoais de Vera como, por exemplo, o salário que ela recebe da TV Cultura para apresentar o programa Roda Viva.

A deputada Alê Silva (PSL-MG) postou uma mensagem no Twitter na qual diz que Vera “também está louca para dar o … furo”. Na semana passada o próprio Bolsonaro insultou a jornalist