
POR GERSON NOGUEIRA
O ano da dupla Re-Pa começou do mesmo jeito que em 2019: com vitória do PSC, que mantém um tabu de sete jogos sem perder para o rival. Organizado, o time de Hélio dos Anjos controlava situações de jogo, apesar de atacar menos que o adversário. Fica, outra vez, patente a noção que o técnico goiano tem da importância do clássico. Sabe que não é um jogo qualquer e entra sempre focado, como se fosse uma decisão.
Hélio veio com uma surpresa: um híbrido de 3-4-3 e 4-3-3. Quando era atacado, Perema ficava na lateral direita. Com a bola, ficava no 3-4-3. Terminou no 4-4-2 velho de guerra, por força das circunstâncias.
A vitória por 2 a 1 foi construída em lances fortuitos, típicos de clássico de início de temporada, mas com um destaque: Nicolas, novamente decisivo, fazendo um gol e sofrendo o pênalti que levou ao segundo.
Sem dois titulares (Caíque Oliveira e Tony) e abrindo mão de um armador de ofício, o PSC se estruturou como dava, talvez esperando um Remo mais agressivo. O rival, porém, foi escalado num formato conservador, com dois atacantes, Jackson e Wesley. No fim das contas, a estratégia de Hélio se revelou triunfante. Mesmo improvisado, o time sofreu pouco.
Mais vibrante no 1º tempo, a partida foi rica em demonstrações de garra e vontade, tão ao gosto das torcidas, embora tecnicamente fraca, com muitos erros de passe e faltas em excesso. Logo aos 4 minutos, Vinícius Leite pegou de fora e quase acertou o gol. Ronaell salvou em cima da linha.
A partir daí, o Remo foi melhor e ameaçou em falta cobrada por Charles aos 13’ e em chute forte de Ronaell sobre a trave, aos 19’. Até então, Douglas Packer funcionava bem, lançando e indo até a entrada da área, como no lance em que sofreu falta de Micael que o árbitro não deu.

Faltava o oportunista Nicolas aparecer em campo. E ele se fez notar, em grande estilo, ao completar toque de cabeça de Uilliam, após escanteio cobrado por Vinícius Leite no segundo pau. Gol do Papão, aos 31’.
O gol abateu o Remo, que começou a errar muito nas saídas de bola com Xaves e Charles. Robinho seguia tímido e Packer já não aparecia com a constância necessária, enquanto o bloqueio bicolor prevalecia no meio.
A ausência de um organizador era compensada pela aproximação entre os volantes (Uchoa, Serginho e PH), que marcavam e também acionavam os atacantes Nicolas, Vinícius e Uilliam. Resumo da ópera: no meio-campo, o trio alviceleste trabalhou melhor que o quarteto do Remo.
No finalzinho da primeira etapa, depois de uma bola alçada por Jansen, novo lance meio casual resultou em gol. Em erro de Micael, que matou de canela, a bola ficou se ofereceu para Jackson pegar de primeira e chutar no canto esquerdo da trave alviceleste.
Aos 46’, Vinícius Leite sofreu falta junto à grande área e em seguida cobrou falta rente ao travessão, para sensacional defesa do goleiro Vinícius.
Depois do intervalo, o Remo voltou mais plugado, com Gustavo Ermel no lugar de Wesley e botando fogo no jogo, com dribles em cima de Perema e jogadas que quase resultaram em gol. Ermel cruzou para um cabeceio de Jackson e arriscou um chute cheio de curvas, que passou perto.
O jogo voltaria a mudar em favor do Papão aos 16’, quando Jackson agarrou Nicolas na área e o árbitro assinalou pênalti, que Uilliam converteu. O cansaço, a lentidão e os erros de marcação do lado remista reproduziram um cenário visto nos clássicos de 2019, quando Hélio dos Anjos explorou o desgaste do rival para impor o jogo que lhe convinha.
Com a vantagem, o Papão trocou Uilliam e Serginho por Deivid e Alex Maranhão, a fim de segurar o jogo no meio e conter os avanços do Remo, que quase empatou com Packer que acertou uma bomba na trave, aos 36’. Nem a sorte parecia caminhar ao lado do Leão.
A análise fria do jogo mostra que o equilíbrio foi quebrado pela aplicação e objetividade do PSC, que soube achar os caminhos necessários para vencer. (Fotos: Jorge Luiz/Ascom PSC)
Nível dos times preocupa para o Brasileiro
Os destaques individuais do clássico pelo lado bicolor foram Nicolas e Uilliam, ambos com participação nos dois gols. Nicolas, porém, se consolida como o “Mr. Re-Pa”, marcando sempre contra o rival. Os volantes Uchoa e Serginho também tiveram boa atuação.
Paulo Ricardo, que enfrentou uma prova de fogo ao substituir o titular Gabriel Leite, saiu-se bem. Fez duas boas defesas e mostrou tranquilidade. Ao contrário de Perema e Micael, que tiveram problemas para marcar o ataque do Remo, principalmente Jackson e Ermel.
Do lado do Leão, Packer e Jackson atuaram bem, mas prejudicados por um sistema que ainda não deu o ar da graça. O setor de marcação não funciona e, com isso, toda pressão se torna um pesadelo para a defesa. Foi assim contra o Tapajós, contra o Independente e se repetiu ontem.
Chama atenção, no Remo, a demora do técnico em fazer mudanças ao longo do jogo. Hoje mexeu no intervalo, mas Robinho destoava e deveria ter saído junto com Wesley. Na escalação, tinha a alternativa de lançar Ermel desde o começo ou de colocar Djalma no setor de marcação.
De maneira geral, o baixo nível técnico do jogo deve servir desde já para ligar sinais de alerta para o Brasileiro da Série C.
Times interioranos lideram a classificação
A tabela de classificação mostra uma novidade: dois interioranos assumem posições de liderança. Com quatro times empatados com 9 pontos, o saldo de gols põe Paragominas em 1º e Castanhal em 2º lugar. O PSC, também pela artilharia, é o 3º, com o Remo em 4º lugar.
O Paragominas bateu o Independente por 1 a 0, o Castanhal aplicou 3 a 0 no Carajás e o Bragantino venceu o Tapajós por 2 a 0. O Tubarão já aparece em 5º lugar, com 7 pontos. A quarta rodada registrou, ainda, o segundo empate da competição: Itupiranga 2 x 2 Águia.
A dupla Re-Pa precisa ficar atenta ao formato da competição. Com vitórias prevalecendo, a tendência é que a briga pelas quatro vagas nas semifinais seja duríssima até a 9ª e última rodada da fase de classificação. O cenário aponta para riscos tremendos para a dupla da capital.
(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 10)