Lula agradece prêmio internacional de direitos humanos

O ex-presidente Lula agradeceu o prêmio da Fundação Internacional de Direitos Humanos que recebeu nesta sexta-feira, dia 24. Ele disse: “eu acho que esse prêmio não é meu, é de todas as pessoas que lutam no mundo em defesa dos direitos humanos.”

A Fundação Internacional de Direitos Humanos havia anunciado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como homenageado na edição 2020 do Prêmio Nicolás Salmerón, na categoria Liberdade.

Em seu comunicado, a Fundação cita a homenagem em função da dignidade e natureza respeitosa, pacífica e democrática com que o ex-presidente enfrentou a perseguição judicial e política a que foi submetido, e que culminou em sua prisão política pelo período de um ano e oito meses.

“Esta instituição sustenta que a raiz dessa perseguição política responde ao objetivo de concluir o incidente inconstitucional e não democrático realizado anteriormente contra a presidente Dilma Vana Rousseff, em um ato inequívoco chamado de lawfare, cujo objetivo final seria forçar e alterar ilegitimamente as eleições presidenciais de outubro de 2018”, afirmou a entidade ao anunciar o prêmio.

Mídia blinda irmão do presidente envolvido com intermediação de verbas

O governo Jair Bolsonaro não cumpre o que prometeu durante a sua campanha, em 2018, e manteve o tal “toma lá dá cá”. Na análise de Rosemary Segurado, cientista política e professora da PUC-SP e da Fespsp, a denúncia de que Renato Bolsonaro, irmão do presidente, tem atuado como lobista para intermediar verbas do governo federal e atender demandas de prefeitos mostra a falta de transparência da atual gestão.

Apesar de a matéria ter sido publicada pela Folha de S.Paulo, a especialista critica a falta de repercussão do caso pelo restante da mídia tradicional. “Ele se dizia a nova política, mas vemos que não é bem assim. E a cobertura jornalística colaborou com o golpe de 2016, dizia defender a transparência e atacava a corrupção, mas se silencia sobre esses fatos envolvendo a família Bolsonaro. O combate à corrupção é seletivo por parte da imprensa”, disse em entrevista aos jornalistas Glauco Faria e Nahama Nunes, da Rádio Brasil Atual.

Sem cargo público, o irmão de Bolsonaro participa de solenidades de anúncio de obras, assina como testemunha contratos de liberação de verbas, discursa e recebe agradecimentos públicos de prefeitos pela ajuda no contato com a gestão federal. De acordo com a Folha, foram mais de R$ 110 milhões repassados aos municípios, após a atuação de Renato. (Da Rede Brasil Atual)

Meia pode reforçar Remo no Parazão

O Remo anunciou mais um reforço para 2020: é o meia Carlos Alberto, de 24 anos. Depois de mais de seis meses afastado do futebol em razão de uma rara doença no sangue, o jogador teve sua volta confirmada pela equipe médica do Leão Azul. A expectativa é de que adquira condições de jogo em cerca de 30 dias. Ele foi reapresentado no Hospital Porto Dias, onde parte principal do tratamento foi realizada.

“Eu sou muito emocional. Estou me aguentando aqui para não chorar, porque é difícil. Quando fui internado eu procurei nem pegar no celular. A gente não sabe, né. Tem gente que tem maldade, você falou que anunciaram até a minha morte. Agora estou aqui, estou bem, feliz, sorridente. Estou feliz e motivado”, disse Carlos Alberto.

Contratado pelo Remo em abril de 2019, o meia rapidamente conquistou a titularidade durante a Série C do Brasileiro. Mas, no último mês de julho, sentiu um mal-estar durante um treinamento e foi afastado para realizar exames. Uma análise mais profunda diagnosticou uma insuficiência medular aguda.

Carlos Alberto recebeu várias transfusões e contou com o apoio de torcedores do Leão e de outros clubes, ex-jogadores e técnicos.

“Como vocês todos lembram, no mês de julho, a partir de uma queixa vaga do Carlos Alberto, fizemos em poucos dias o diagnóstico de uma anemia plásica, que é realmente considerada uma doença grave, rara. A partir daí foi iniciado o tratamento, que foi todo conduzido pelo Dr. Thiago Xavier, o coordenador da hematologia aqui do Hospital Porto Dias”, explicou o médico Jean Klay, chefe do Nasp (departamento médico do Remo).

Também participou da entrevista coletiva o fisiologista do Remo, Eric Cavalcante. O profissional está responsável por recolocar Carlos Alberto em condições físicas de jogo, ou seja, voltar a ser um atleta. O processo será similar ao retorno de uma lesão comum.

“Um atleta, quando tem uma lesão, faz a transição na fisiologia, na fisioterapia. No caso do Carlos Alberto, ele passou agora para fazer a transição lá na fisiologia porque a gente pode aplicar a carga com controle. Fizemos isso durante nove dias e temos alguns parâmetros para que possamos liberar o atleta para o grupo”, argumentou. (Com informações do GE e da Rádio Clube)

O disparate do dia

“Índio tá evoluindo, cada vez mais é ser humano igual a nós”.

Jair Bolsonaro, presidente do Brasil

ER pode ganhar novas funções

POR GERSON NOGUEIRA

Nas redes sociais, nas ruas, no meio do pitiú do Ver-o-Peso e também nas arquibancadas, a torcida do Remo mostra-se cada vez mais impaciente com Eduardo Ramos, maior artilheiro da equipe na década (33 gols) e que já desfrutou merecidamente da condição de ídolo até bem pouco tempo atrás. Em algumas manifestações já surgem sinais de irritação com o jogador.

Afinal o que mudou nessa relação que parecia tão sólida e inquebrável há quatro anos, quando Ramos era chamado por alguns de “Maestro” e por outros de “Mito” – bem antes que o termo adquirisse conotações pouco nobres?

Aos 33 anos, o meia goiano está no Baenão pela quarta vez. Voltou em 2019, para suprir a saída do meia-armador Douglas Packer, que foi jogar no exterior. Parecia a melhor das opções para fortalecer a meia cancha azulina e preservar o bom futebol da fase inicial da Série C.

Ramos vinha de uma boa passagem pelo Cuiabá, na Série C 2018, com a vantagem de já conhecer o clube e a torcida, dispensando adaptação. Com atuações opacas, pouco contribuiu para que o Remo resgatasse o futebol das primeiras rodadas. Marcou dois gols, mas ficou devendo.

Ao lado de outros meio-campistas experientes, Yuri e Ramires, Ramos formou um tripé que caía de rendimento físico nos 30 minutos finais dos jogos. Quase todos os times do grupo sabiam disso e exploravam a deficiência óbvia da equipe treinada por Márcio Fernandes.

Rafael Jaques, que enfrentou com o São José o Remo de Eduardo Ramos, não pode cometer a imprudência de insistir com o camisa 10 naquela mesma faixa de campo. Em outros tempos, ele partia com a bola em disparadas que verticalizavam o jogo e rompiam as linhas de marcação.

Contra o Tapajós, na primeira rodada do Parazão, ele até tentou empreender uma dessas arrancadas, mas ficou sem a bola antes de chegar ao destino pretendido. Sobra vontade, mas falta fôlego. É normal que a limitação física chegue para um jogador de 33 anos, mas é aconselhável que alguém descubra outras possibilidades de aproveitamento.

Cabe, portanto, ao técnico encontrar o melhor jeito de explorar as virtudes do jogador. O ataque deve ser o setor ideal para reabilitar ER. Bom finalizador, pode ser um ponta-de-lança moderno, sem precisar percorrer grandes distâncias em campo. E não há oportunidade melhor que o Campeonato Estadual para testar esse novo posicionamento.

Liverpool e a virtude de confiar na regularidade

Já são 40 jogos de invencibilidade no mais difícil campeonato de clubes do mundo. O Liverpool está cada vez mais perto de pulverizar um recorde histórico – fica atrás apenas do Arsenal (49 partidas invictas) e Nottingham Forest (42). Ontem, diante do surpreendente Wolverhampton, o Liverpool de Jurgen Klopp reafirmou a condição de time mais regular do mundo.

Empatava em 1 a 1 até 39 minutos do 2º tempo na casa do adversário quando, de repente, numa trama que envolveu Salah e Henderson, a bola chegou aos pés de Roberto Firmino dentro da área. O chute saiu seco, estufando as redes.

A máquina de jogar futebol montada por Klopp tem muitos destaques individuais, variação de jogadas, passe sempre verticalizado e contra-ataque mortal, mas o trunfo maior do time é a capacidade de repetir sempre o mesmo padrão, jamais se perturbando com desvantagens eventuais no decorrer do jogo.

O normal é que os times saiam de sua zona de conforto quando se sentem ameaçados pelo adversário ou quando percebem que as jogadas habituais não estão funcionando. O Liverpool faz diferente. Insiste sempre com o mesmo modelo de jogo, faça chuva ou sol, ganhando ou tendo problemas em campo.

Isso significa confiança inabalável nas próprias forças e absoluta prevalência da disciplina tática. Quando essa fé cega no plano de jogo vem acompanhada de toques individuais inspirados, a receita torna-se praticamente imbatível.

Abel elogia derrota e desafia a paciência vascaína

Desde que foi dispensado pelo Flamengo, no primeiro semestre do ano passado, abrindo lugar para a entronização de Jorge Jesus, Abel Baga parece ter perdido o rumo. Anda tropeçando nas palavras, mistura conceitos técnicos com jargão econômico e acaba sem falar coisa com coisa. Com isso, dá margem a todo tipo de gozação nas redes sociais.

O fato é que o veterano treinador morre pela boca a cada nova entrevista. Depois de ser derrotado pelo sub-20 do Flamengo, anteontem, Abelão analisou a atuação vascaína com uma fase lapidar e completamente desconectada do mundo real: “Foi lindo”, disse, em certo momento, para espanto dos repórteres e indignação da torcida cruzmaltina.

Lindo¿ Como assim¿ Impossível imaginar que uma derrota, por mais inofensiva que seja, possa fazer jus a tamanho elogio. Tratava-se de um revés diante do maior rival do Vasco, completando uma estatística cruel para o Almirante: um jejum de 15 jogos sem vitórias obre os rubro-negros.

Por mais tolerante que seja o torcedor, perder para o rival nunca é motivo de contentamento, mesmo que seja em jogo de damas ou palitinho.

Abel queria, aparentemente, valorizar a atuação do time reserva, tirando a responsabilidade dos jogadores. O problema é que, por decisão dele, o time titular foi poupado para não correr o risco de um vexame diante do Flamengo Kids. Pouco adiantou. O desgaste foi igual.

Pior é que, na tabela de classificação do confuso Campeonato Carioca, o Vasco segue lá atrás, com apenas um ponto ganho. Fica a impressão de que o Vasco (e Abel), por excesso de cautela, perdeu a grande oportunidade de vencer o adversário histórico e quebrar o incômodo jejum.

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 24)

Números do Corinthians na estreia de Nunes massacram os de Carille

Por Mauro Cezar Pereira

Com Fábio Carille o Corinthians era criticado por sua timidez ofensiva. O time recuava sempre que abria o placar, tinha menos a bola e não finalizava tanto. Claro que os 4 a 1 sobre o Botafogo marcaram apenas a primeira partida do time sob o comando de Tiago Nunes, mas não apenas pelo comportamento da equipe, como pelos números gerados, a diferença foi brutal.

A ideia é nitidamente outra, a proposta de jogo completamente diferente. O Botafogo perdia no primeiro tempo e mal passava do meio-campo. Os corintianos apertavam o adversário lá na frente, retomavam a bola e permaneciam no ataque. Mesmo depois de abrir o placar, tal postura não foi abandonada.

A alegria estampada no rosto de Mauro Boselli retratava a mudança. O artilheiro marcou quatro vezes (um dos gols anulado por impedimento) e não escondia a felicidade por jogar num time que cria chances. O argentino chegou a manifestar sua insatisfação em 2019, se referindo às poucas possibilidades de marcar sob as ordens de Carille.

Evidentemente por ser apenas uma partida não é possível fazer grandes projeções, mas não fica qualquer dúvida sobre o que o Corinthians 2020 se propõe a fazer com Tiago no comando. Mais agressividade, mais posse, capacidade de jogar assim ou em velocidade e maior busca pelos gols.

Confira o comparativo abaixo.

Passes certos:

Paulista 2019 358

Brasileiro 2019 368

x Botafogo 696

Finalizações:

Paulista 2019 11,9

Brasileiro 2019 10,2

x Botafogo 14

Fonte: Footstats

“Ricos com influência são os que mais desmatam a Amazônia”

Transcrito da DW

Para o cientista Paulo Artaxo, que pesquisa a Amazônia desde 1984, não há dúvida: a recente fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a pobreza é a maior inimiga do meio ambiente está equivocada.

“A maior parte do desmatamento é feita por empresas e pessoas ricas que detêm o poder na região, têm muita influência no Judiciário e no Poder Executivo. Elas simplesmente fazem invasões de terras públicas, e o Ministério Público e a polícia não vão atrás”, afirma.

Doutor em física atmosférica pela USP, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) desde 2003 e um dos cientistas mais citados no mundo segundo a Highly Cited Researchers, Artaxo falou com a DW Brasil sobre a gestão do presidente Jair Bolsonaro em relação ao meio ambiente e as ações mais recentes nesse sentido.

Nesta terça-feira (21/01), o presidente anunciou a criação do Conselho da Amazônia e de uma Força Nacional Ambiental, com o intuito, segundo ele, de preservar e combater o desmatamento. A taxa de desmatamento da Floresta Amazônica cresceu, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 29,54% entre agosto de 2018 e julho de 2019, ante o período imediatamente anterior.

DW Brasil: O presidente Jair Bolsonaro anunciou a criação de um Conselho da Amazônia, que a princípio vai coordenar os trabalhos relativos à floresta em diversos ministérios. Como o senhor vê essa iniciativa?

Paulo Artaxo: Depende de quem vai ser membro deste conselho, que autonomia política esse conselho vai ter para implementar políticas de preservação da Amazônia. Pode ser um conselho que incentive a ocupação de terras indígenas, que incentive o aumento de áreas de mineração em terras indígenas, que são as mais preservadas da Amazônia. É impossível saber se o papel vai ser negativo no desenvolvimento da Amazônia ou positivo, vai depender da autonomia de quem vai participar desse conselho.

Também foi anunciada a criação de uma Força Nacional Ambiental, ressuscitando uma iniciativa que se tentou implantar no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um efetivo militar seria eficaz no combate à destruição da floresta? Não faria mais sentido fortalecer o trabalho de fiscalização do Ibama, por exemplo?

Já está mais que demonstrado que se você faz um forte trabalho de fiscalização, de monitoramento, coloca a Polícia Federal para combater crimes na Amazônia, já que de 80% a 90% do desmatamento é criminoso, se você coloca o Exército, e dá autonomia para o Exército e para a PF fazer com que a lei seja cumprida na Amazônia, você vai conseguir reduzir o desmatamento em 90%, como na verdade ocorreu quando o Brasil reduziu de 2002, quando desmatava 28 mil quilômetros quadrados, para 2012, quando caiu para 4 mil somente. Hoje tá em 9.750 quilômetros quadrados. É possível reduzir desmatamento? É. Não custa muito dinheiro, na verdade não há maneira mais barata de reduzir a emissão de gases do efeito estufa do que reduzindo desmatamento. E pode ser feito de uma maneira muito rápida. Agora, é preciso que haja interesse político do governo, do Judiciário, do Ministério Público, do Ibama. Tem que fortalecer os órgãos fiscalizadores do Ibama, e com isso o Brasil conseguiria reduzir o desmatamento a praticamente zero.

Como o senhor avalia o que foi feito no último ano na gestão Bolsonaro em relação ao meio ambiente?

Os órgãos que fiscalizam foram todos enfraquecidos, sem orçamento, sem contratação de pessoal – por exemplo, o Prevfogo, que é uma ferramenta fundamental do Ibama na prevenção de queimadas na Amazônia. Foi muito eficiente na redução do desmatamento da Amazônia no governo Lula, e hoje foi totalmente desmantelado. Isso vai ter que ser refeito. Mas, para isso, é preciso que o Ministério [do Meio Ambiente] tenha uma orientação clara, forte e firme, tanto da sociedade quanto do governo, de que nós vamos trabalhar para reduzir o desmatamento a zero na Amazônia. É possível, não custa muito dinheiro, precisa somente de vontade política.

Olhando para nossa história, que políticas foram mais efetivas no combate ao desmatamento na Amazônia e quais foram mais desastrosas?

As políticas mais eficientes já são muito conhecidas hoje no Brasil. O Brasil é o país de maior sucesso na redução de desmatamento no mundo todo, nas décadas de 1990 e 2000. O Brasil sabe como fazer isso, funciona e custa muito pouco. A primeira delas é a implantação completa e fazer valer o chamado cadastro ambiental rural. Então, você vai poder monitorar por satélite e emitir multas para empresas que estão desrespeitando a lei, e para os indivíduos que estão desrespeitando a lei. As demais, que se tratam de invasões de terras públicas, aí é uma questão de polícia, porque é crime ambiental. Então, a Polícia Federal e o Exército têm que coibir esses crimes, porque, afinal, a lei tem que valer alguma coisa no nosso país.

E o que foi mais desastroso em termos de políticas para a Amazônia?

O que deu mais errado foi, na verdade, o incentivo a um processo de ocupação desordenado, sem qualquer planejamento e sem qualquer preocupação com a sustentabilidade ambiental do processo de ocupação da Amazônia. Hoje, o Brasil tem uma ciência muito forte, desenvolvida pela Embrapa, pelos institutos da Amazônia, pelas universidades, sobre como fazer o processo de ocupação da Amazônia ter o mínimo de dano ambiental. Isso é possível, temos exemplos muito fortes, inclusive financiados pelo Fundo Amazônia, de muito sucesso, de várias ONGs, como o ISA (Instituto Socioambiental), o Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), e assim por diante. Então, o Brasil tem o conhecimento científico necessário para implantar políticas públicas para a Amazônia. Agora, é necessário ter vontade política para implementar esse conhecimento científico. 

Quem são os maiores responsáveis pelo desmatamento ilegal na Amazônia? Nesta semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em Davos que as pessoas destroem o meio ambiente porque têm fome.

Obviamente, esse argumento é totalmente falho e errado porque a grande maioria do desmatamento não é feita pela população faminta da Amazônia. A maior parte do desmatamento é feita por empresas e pessoas ricas que detêm o poder na região, têm muita influência no Judiciário e no Poder Executivo e que simplesmente fazem invasões de terras públicas, e o Ministério Público e a polícia não vão atrás. Não são os pobres que desmatam a Amazônia. Na verdade, são empresas muito ricas e que têm uma taxa de lucros imensa. Esse discurso é totalmente falso.

Em dezembro, o presidente Bolsonaro falou em enviar um projeto para autorizar mineração e criação de gado em terras indígenas. Qual sua avaliação sobre uma medida como essa?

Bom, não precisa nem ser cientista para responder. As áreas mais preservadas na Amazônia são as áreas indígenas. Porque os índios, ao longo dos milênios ocupando a Amazônia, sabem como fazer o desenvolvimento sustentável da região. As áreas mais bem preservadas são as áreas indígenas, e são protegidas pela Constituição brasileira – é importante salientar isso. Ao tentar abrir para o garimpo e para a exploração agropecuária territórios que hoje são os mais preservados da Amazônia, primeiro você está fomentando atividades ilegais, segundo, você está indicando que vai aumentar a invasão de terras públicas, de terras indígenas.

No ano passado, alguns líderes, como a chanceler federal alemã, Angela Merkel, se pronunciaram a respeito da Amazônia. Que atores hoje têm poder para pressionar, nacional e internacionalmente, o Brasil a preservar a floresta?

A questão das commodities é muito importante, é uma fração importante do PIB brasileiro, e evidentemente pressões, por exemplo, para que atores internacionais não comprem carne advinda de áreas de desmatamento nos últimos dez ou 20 anos podem ser muito efetivas. Por exemplo, não comprar soja de áreas desmatadas nos últimos 20 anos. Isso faz com que o ganho de novas áreas a serem desmatadas diminua bastante, já que você vai ter limitado o seu poder de exploração econômica sobre aquelas áreas. Então, as sanções econômicas são sim uma ferramenta de combate ao desmatamento.

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