Rivais iguais em quase tudo

POR GERSON NOGUEIRA

O Campeonato Estadual começa no próximo fim de semana. Em alguns centros, a competição é mero cumprimento de calendário, sem despertar interesse maior dos times e das torcidas. Aqui é diferente. O Parazão não é uma simples competição de início temporada.

Os dois maiores rivais travam uma empedernida disputa secular em busca do protagonismo particular, com os bicolores na dianteira (47 a 46 títulos conquistados). Os times emergentes brigam por visibilidade, respeito e empoderamento.

Nem mesmo o primarismo que tumultua a organização, como a inaceitável lambança na definição da forma de disputa, tira por antecipação o brilho do torneio e a expectativa em torno dos confrontos.

Por não ter vencido nenhuma competição em 2019, o PSC é o time mais pressionado. Tem obrigação de fazer um bom papel. Sua torcida espera bem mais do que uma participação digna: quer o título estadual. Além da necessidade de festeja alguma coisa, há ainda a preocupação em não permitir que o maior rival seja tricampeão.

A única – e pequena – vantagem dos bicolores é a permanência da comissão técnica que trabalhou no ano passado e a manutenção de 70% dos jogadores titulares. É garantia de continuidade e de melhor assimilação das ideias do técnico pelos atletas.

Do lado azulino, a mudança de comando foi bem assimilada, pois o técnico Rafael Jaques chegou logo no começo de dezembro e participou diretamente da escolha dos reforços, com tempo suficiente para descobrir a potencialidade do grupo de atletas e perseguir o entrosamento necessário para uma competição cujas peculiaridades são desconhecidas para ele.

Quanto à força dos times, ainda é cedo para mensurar. O Papão faz hoje o único amistoso da pré-temporada. O Remo já testou as principais peças, mas a primeira rodada é que vai começar a clarear as reais possibilidades de cada um em relação ao oponente e aos demais times.

A dose que diferencia o remédio do veneno

A notícia sobre o interesse de um bilionário russo em investir no futebol brasileiro gerou um alvoroço no combalido mercado brasileiro de clubes. Todo mundo quer ter um mecenas para chamar de seu. Pensa-se de imediato nos exemplos dos times da Premier League inglesa e no dinheiro abundante que rola na Ásia. É claro que, bem ao estilo tradicionalmente açodado dos dirigentes (e torcedores) brasileiros, poucos se preocupam em analisar o outro lado da moeda.

Parcerias são sempre bem-vindas, mas é necessário avaliar cada situação específica. Como há um modelo de clube-empresa em fase embrionária no país – com o Botafogo aparecendo como o primeiro a se interessar pelo novo formato –, seria oportuno que os clubes se cercassem de especialistas e consultores, a fim de evitar que a aparente panaceia para todos os males acabe por se revelar um veneno fatal.

O debate em torno dos clubes-empresa ainda divide opiniões, mas é fato que o simples anúncio de que um magnata russo está a fim de comprar uma agremiação no país já deixou muita gente disposta a fechar negócio. Em outros países, o processo já é adotado há tempos, mas, mesmo assim, ainda enfrenta oposição.

A mais concreta experiência no processo de clube-empresa, embora ainda sem assumir essa denominação, é a do Red Bull Bragantino, que venceu a Série B e vai disputar a Série A neste ano. Apostando num modelo de negócio que o diferencia dos demais clubes no Brasil e tem semelhança com o que existe no futebol inglês, por exemplo, o clube mostra-se à vontade para estabelecer parcerias.

É claro que a transição tem sido mais tranquila por se tratar de um clube sem torcida expressiva, o que facilita bastante o processo de modernização. O Leipzig da Alemanha, por exemplo, sofreu bastante pressão da torcida, que chegou a protestar atirando uma cabeça de touro para dentro do gramado numa partida recente do time.

Por aqui, só teremos noção do grau de aceitação do modelo clube-empresa quando a coisa chegar a um clube histórico e tradicional. Não por coincidência, o investidor russo está interessado em entrar no mercado brasileiro através de um clube emergente – no caso, o Fortaleza.

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro apresenta o programa, neste domingo, às 22h30, logo depois da transmissão do jogo da NBA, na RBATV. Giuseppe Tommaso e este escriba de Baião participam dos debates. Em pauta, os preparativos dos clubes para o Campeonato Paraense.

Campeonato já começa bagunçado quanto aos mandos

A bola ainda nem rolou, mas o Parazão já reapresenta as velhas práticas. Uma das piores – e mais danosas ao equilíbrio da competição – é a falta de um critério obrigatório quando ao mando de jogos. Como não poderá utilizar o estádio Navegantão, em Tucuruí, por estar em reformas, o Independente vai enfrentar o Castanhal no Parque do Bacurau, em Cametá, no próximo sábado (18), com portões fechados.

Diante do prejuízo financeiro, o Galo Elétrico já pleiteia trazer seu jogo contra o Remo, válido pela 3ª rodada, para o estádio Jornalista Edgar Proença, em Belém. Tem razão a diretoria do clube em reivindicar a mudança de local, visto que o Parque do Bacurau está sem o laudo da Vigilância Sanitária.

Dentro da lógica do jeitinho, o Mangueirão foi definido no regulamento do certame estadual, a partir deste ano, como “campo neutro”. Pode ser um expediente legal, mas é inegável que compromete a lisura da competição, pois os jogos com mando invertido acabam afetando terceiros.

(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 12)

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