brasil, com minúscula mesmo

POR MATHEUS NACHTERGAELE
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Eu achei, sim, que se ia investigar o tal Temer. A política venceu o bom senso. Uma presidente foi caçada, um país desmontado novamente, mais uma geração condenada à miséria de tudo por causa de um negócio que não saberemos qual é, posto que a nós resta pagar em silêncio os impostos para a manutenção dessa babel que é o DF.

Para nós não haverá escola, hospital ou transporte decente. Não haverá penicilina, nem água limpa. As chuvas inundarão pra sempre as ruas sujas e sem esgoto, e as crianças nossas serão marginais, criadas no país do desamor, da cocaína, das igrejas evangélicas, do futebol a todo custo.

Teremos sido o país castrado da festa, e transformado em campo de guerra e feiura. Não haverá, por muito tempo ainda, nenhuma alegria que não seja conquistada apenas por nós mesmos, nas reuniões singelas da dança e da festa. Teremos tido a melhor música do mundo, as mais lindas aves, as praias e a vasta fartura engolidas numa corrupção des-humanista e doente. Teremos sido o país do futebol…grande bobagem.

De minha parte, vou seguir fazendo filmes, peças e séries de televisão que me pareçam investigadoras do homem do brasil ( com minúscula mesmo, porque estou triste ), do que poderia ter sido uma brasilidade, e serei um dos arautos sinceros do que é bonito e feio em nós. Farei isso até a exaustão de mim. É o que sei fazer como artesanato.

Nas horas mansas, vou cantarolar um samba canção de arte e meus olhos vão se encher de água impura. Aos poucos, o que era o futuro será o passado, mesmo. Tendo sobrevivido a isso tudo, morrerei sem ter visto o país que ia inventar o novo. Tudo é um negócio. Sorte pra nós. Beijo.

FHC e o truque da ‘fulanização’

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POR FERNANDO BRITO, no Tijolaço

O golpe que ele apoiou virou piada. O governo Michel “Pinguela” Temer em matéria de economia não foi capaz nem de carregar malas de dinheiro. A máquina pública está parando, estrangulada pelos cortes. Seu partido tem o presidente Aécio Neves driblando, um após outro, dos pedidos de prisão de Janot. E Fernando Henrique Cardoso, recém escapado do processo de delação da Odebrecht por prescrição, propõe o “Fulano pelo Brasil-2018”, em seu artigo dominical.

Penso que o polo progressista, radicalmente democrático, popular e íntegro precisa se “fulanizar” numa candidatura que em 2018 encarne a esperança. As dicotomias em curso já não preenchem as aspirações das pessoas: elas não querem o autoritarismo estatista nem o fundamentalismo de mercado. Desejam um governo que faça a máquina burocrática funcionar, com políticas públicas que atendam às demandas das pessoas. Um governo que seja inclusivo, quer dizer, que mantenha e expanda as políticas redutoras da pobreza e da desigualdade (educação pública de maior qualidade, impostos menos regressivos, etc.); que seja fiscalmente responsável, atento às finanças públicas, e ao mesmo tempo entenda que precisamos de maior produtividade e mais investimento público e privado, pois sem crescimento da economia não haverá recuperação das finanças públicas e do bem-estar do povo.

Com a parca modéstia de se comparar a Charles De Gaulle –  n’est pas serieux – , faltou apenas o título: “O Fulano sou Eu!”.

Lógica do mercado rege o futebol e justifica as fortunas em jogo

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A chegada de Neymar ao Paris Saint-Germain já ficou marcada na história do futebol, não ainda pelos ganhos esportivos do clube com o craque brasileiro, mas pelo lado financeiro do negócio.

O clube pagou 222 milhões de euros (R$ 815 milhões) ao Barcelona para contratar o jogador, o maior valor já visto em uma transação do futebol – é mais que o dobro do recorde anterior, a contratação do meio-campista Paul Pogba pelo Manchester United, da Inglaterra, por 105 milhões de euros no início deste ano.

Além disso, a equipe francesa ofereceu R$ 110 milhões por ano em salários para convencer Neymar a trocar Barcelona por Paris. Numa conta simples, isso equivaleria a mais de R$ 300 mil por dia – ou a R$ 12,5 mil por hora. Um valor que poucos conseguem ganhar em uma vida inteira de trabalho.

Os números parecem exorbitantes, fora de qualquer realidade. Mas, segundo especialistas consultados pela BBC Brasil, têm alguma explicação lógica e matemática.

“Hoje está evidente que (o futebol) é um mercado de entretenimento. Nos Estados Unidos, é mais normal ver o esporte como essa indústria, mas o futebol está se consolidando nisso agora. Está virando cada vez mais espetáculo”, diz a economista Elena Landau, que trabalhou no BNDES, foi diretora do Programa de Desestatização do governo FHC e atuou no Atlético-MG e no Botafogo (seu time do coração).

“A final da Liga dos Campeões, por exemplo, é hoje em dia quase um Super Bowl (final da NFL, a liga de futebol americano)”, compara.

Landau compara o mercado do futebol ao mercado de entretenimento de Hollywood – um ator como Brad Pitt recebe valores altíssimos para fazer um filme, o que seria proporcional à movimentação financeira que se espera da película.

A lógica para o futebol hoje seria a mesma: as estrelas, como Neymar, são muito bem pagas porque são as protagonistas de um espetáculo que envolve cada vez mais dinheiro.

“O futebol é um dos poucos segmentos, senão o único, em que o funcionário ganha mais que o patrão. O presidente de um clube ganha menos que o jogador”, observou o especialista em marketing esportivo Erich Beting.

Isso porque sem os jogadores, sem as estrelas, não há o espetáculo que movimenta todo esse dinheiro, explica Beting. Ele ressalta que, principalmente na última década, os clubes europeus passaram a “internacionalizar” sua marca e, com isso, multiplicaram seus lucros.

“Eles estão a cada ano aumentando a receita porque as marcas dos clubes europeus se tornaram globais. O PSG tem programa de associação de membros (algo como um “sócio-torcedor”) mundial, qualquer um pode se associar no mundo inteiro. Os clubes se tornaram potências globais como nunca foram, ajudados pela Liga dos Campeões, que também se tornou mundial.”

Para se ter uma ideia desse crescimento, o Barcelona, por exemplo, aumentou quase 300% seu faturamento nos últimos 10 anos – de 259 milhões de euros em 2006 para 689 milhões em 2016 -, segundo os números oficiais do clube. (Transcrito da BBC Brasil)

Indignados reagem cedo contra bilhões empenhados por Temer para compra de votos

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POR JANIO DE FREITAS, na Folha SP

Reagem muito cedo os indignados com os R$ 4,1 bilhões do Tesouro Nacional empenhados pelo denunciado Michel Temer para compra de votos na Câmara contra o seu afastamento.

Deputados esfregam as mãos e abrem os bolsos: o que a Câmara derrubou foi só o primeiro dos processos criminais contra o denunciado Temer previstos pelo procurador-geral Rodrigo Janot. A pirataria no Tesouro não está completada, portanto. Os deputados devem votar outra vez. E segundos votos queimativos na opinião do eleitorado, a caminho de ano eleitoral, não dispensam o aumento de preço.

Os R$ 4,1 bilhões deram gorda contribuição ao rombo, estimado em R$ 10 bilhões, nas previsões de Henrique Meirelles. Tiveram, assim, presença pesada nas causas do aumento de impostos nos combustíveis. Logo, o assalto para a vitória de Temer foi duplo, ao Tesouro e aos que o desejam fora do governo. O que virá da compra de mais votos e, depois, da necessidade de cobrir novo rombo, aí, sim, dará a escala da indignação merecida. Esta seria uma questão para discutir-se agora, em tempo de impedir o assalto enquanto Janot recheia a nova denúncia, diz ele, “sem ter pressa”. Depois, será apenas pagar em dinheiro, em custo de vida, em desemprego.

A par de uma espera estratégica, a atividade de Janot foi um tanto deslocada do denunciado Temer, por força da recondução de Aécio Neves ao Senado pelo ministro Marco Aurélio. Daí resultou que Janot veio a ser, à revelia e talvez sem saber até agora, o solucionador do impasse no PSDB, que os próprios peessedebistas não conseguiam dissolver. Aécio Neves articulara para a última sexta-feira o seu retorno à presidência do partido, com o objetivo de mantê-lo atrelado ao denunciado Temer. Janot, no entanto, reiterou a Marco Aurélio inesperado e irritado pedido de prisão de Aécio.

A articulação não resistiu ao vexame moral e aos riscos de repor na presidência do partido alguém ameaçado de suspensão do mandato e até de cadeia. No racha do PSDB, Janot fez a vitória de Tasso Jereissati. Mas Aécio Neves tem muito futuro. De problemas.

As más relações entre o denunciado Temer e escrúpulos já puderam ser vistas –pelos que se dispuseram a vê-las– na conspiração para o impeachment de Dilma Rousseff. Agora são de conhecimento geral. Não surpreenderá ninguém que apareçam, em breve, indícios de que passou do Congresso à Presidência a discussão de ações para salvar certos implicados em inquéritos. Um acréscimo ao que levou o ministro Luis Roberto Barroso a dizer, há pouco, que “a operação abafa é uma realidade visível e ostensiva”.

Sobre esses que “não querem ser punidos” e “os que continuam com o mesmos ‘modus operandi’ de achaque”, a observação de Barroso inclui uma pedra rara: “Essas pessoas têm aliados importantes em toda parte, nos altos escalões da República, na imprensa e nos lugares onde a gente menos imagina”. Por suas implicações óbvias, esse é um tipo raro de citação à imprensa por alguém da hierarquia institucional e não movido por ressentimento. Raro, mas fundado. Necessário, mas raro.

E, quando ocorre, admirável.

BRASILEIRINHAS

– A falência da Varig consumou-se devido à recusa de atenção do governo Lula, empenhado em favorecer a TAM, à época com seus velhos e arrendados Fokker de tantos desastres. A Varig venceu agora no Supremo, ao fim de duas décadas, sua queixa por prejuízos decorrentes de planos “de ajuste”, sobretudo o Cruzado. É uma decisão de Justiça. Deixará de sê-lo, porém, se as compensações financeiras não forem destinadas a pagamento das indenizações ao corpo de funcionários e ao fundo de aposentadoria Aerus.

– Caso faltem providências contra o corte nos recursos do CNPq para 100 mil bolsas de estudo e pesquisa científica, não se tratará de uma contenção de gasto imposta pelo plano “de ajuste” Meirelles/Temer, o denunciado. Será um crime contra o país.

“Hoje meu coração sangrou de novo lembrando como a vida é injusta”, diz filha de Genoíno

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POR MIRUNA KAYANO, no Facebook

Há quase 4 anos essa foto foi tirada. 15 de novembro de 2013, meu pai na Polícia Federal. De lá para cá, morando em São Paulo, obviamente vi a sede da PF várias vezes, mas nunca tinha ido para lá de novo… hoje tive que ir. Eu estava mentalizando isso há tempos, desde que não consegui outro lugar para agendar o passaporte, mas mesmo assim, foi muito, muito duro. Eu cheguei lá, com a Paulinha na mão, e na hora que olhei para aquela escada eu só pensava no meu pai, nessa imagem, nele do lado de lá da grade e eu do lado de fora, na calçada. Eu fiquei muito angustiada achando que não ia conseguir nem andar, parecia que eu não podia nem respirar. Mas e a minha filha?

Estava lá comigo.

Não dava para fraquejar. Ela percebeu, claro, não teve muito jeito, mas eu fui falando com minha alma de filha-mãe, dizendo de algumas coisas que eu estava lembrando, e ela só me observava com aqueles olhinhos lindos, mas tão, tão expressivos! Encaramos a escada, encarei a portaria, subi, fiz o que tinha que fazer, mas para onde eu olhava, pensava… foi aqui o primeiro lugar do confinamento injusto do meu pai. Foi aqui que ele entrou. Foi aqui que o pesadelo começou.

Não ficamos mais de uma hora por lá, mas ainda estou, mais de 7 horas depois, com o coração apertado. Fico só aqui lembrando da injustiça, de como foi lá que tudo começou, de como tanta gente se calou diante do nosso sofrimento, de como tantos pensaram que poderia ser algo que ficasse “só com o Genoíno”. E fiquei ainda mais triste por ter vivido isso hoje, um dia depois da indignação com a não investigação do Golpista. Meu pai não foi gravado pedindo nem oferecendo dinheiro, não foi visto com mala, não pediu para matar ninguém. “Ele só podia saber” foi o que o condenou, e hoje meu coração sangrou de novo um pouquinho lembrando de como a vida é injusta.