O medo diante do pênalti

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POR GERSON NOGUEIRA

O futebol, que evoluiu tanto nas linhas externas, principalmente quanto a gestão e finanças, segue aferrado a princípios quase esotéricos dentro de campo. Planejada para gerar lucro e riqueza para muitos, pelo menos aos que se encontram no topo da cadeia alimentar, a modalidade ainda não aprendeu a conviver com as armadilhas do jogo. Isso fica bastante explícito quando os times são submetidos a decisões em cobranças de penalidades máximas, com suas incertezas, caprichos e variáveis.

No meio da semana, em jogo pela Libertadores-2017, o Palmeiras passou por penosos minutos de aflição ao decidir seu futuro no torneio em série extra de penais contra o Barcelona de Guayaquil. Time que mais gastou para a competição, mobilizando aproximadamente R$ 90 milhões em reforços desde o começo da temporada, o time paulistano viu-se de repente à mercê das falsetas do destino.

Nenhum dos caros jogadores contratados pelo atual campeão brasileiro foi capaz de tranquilizar a massa torcedora, que ficava naturalmente apreensiva a cada cobrança bem executada pelos equatorianos. Jailson, o goleiro que substituía Fernando Prass, teve ótima participação no Brasileiro do ano passado, mas parecia pequeno diante da imensidão de riscos enfeixada na bateria de pênaltis.

Como se sabe, ao final da disputa, o Barcelona saiu vitorioso depois que o goleiro defendeu chute do palmeirense Egídio. Foi quase como se os deuses do futebol quisessem pregar uma peça, fazendo justiça social em campo ao premiar a agremiação mais modesta financeiramente.

Chamou atenção, em meio à agonia palmeirense, a figura do técnico Cuca. De calça vinho, aparentemente para dar sorte, o treinador juntava as mãos em prece e dirigia um olhar suplicante para o céu, rogando proteção. Naqueles momentos, nada do que foi treinado ao longo da semana dava a ele mais segurança e conforto do que a fé religiosa.

Atento e meticuloso com detalhes de natureza técnica, caprichoso na montagem de seus times e extremamente preocupado com o rendimento de cada atleta, Cuca abriu mão de todos os primados da objetividade para abraçar com fervor a crença no poder da oração – e da superstição. Mais do que a capacidade de seu goleiro ou a perícia dos cobradores, valia mesmo a força do pensamento positivo e o respeito ao imponderável.

É claro que os aperreios emocionais de uma batalha de penalidades não são exclusividade de Cuca e do Palmeiras. Afetam qualquer time, do Íbis ao Real Madri, semeando apreensão onde deveria haver tranquilidade e frieza. Afinal, se um time é preparado para encarar qualquer competição, não deveria se abalar ante uma reles série de tiros da marca penal.

Os fundamentos exigidos são os mesmos de um jogo normal: precisão nos chutes e segurança nas defesas, itens treinados exaustivamente por todos os times do planeta, todos os dias. No entanto, naqueles breves instantes, algo de indefinível ocorre e não há exercício mental que consiga deixar jogadores, técnicos ou torcedores tranquilos.

Talvez porque todos saibam que um erro inevitavelmente irá ocorrer, como um impulso primitivo, botando abaixo as convicções mais cartesianas quanto à supremacia da técnica sobre as leis do acaso. Vai daí que resta ao homem a certeza de que, por mais sólidas que sejam suas crenças, jamais vai vencer o medo diante do pênalti.

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Bola na Torre

Giuseppe Tommaso apresenta o programa neste domingo, a partir das 21h, na RBATV. Na bancada, Saulo Zaire e este escriba de Baião.

Em destaque, a participação dos clubes paraenses na rodada de fim de semana das Séries B e C.

Esperamos vocês.

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Direto do blog

“A grande vantagem deste regulamento da Série C é que ele considera o trabalho dos gestores do clube e, portanto, é um acerto porque exige profissionalismo e o abandono incondicional do amadorismo. Clubes que passem por esse filtro tendem a ser mais bem sucedidos depois de obter o acesso e a não serem imediatamente rebaixados, naquele bate-volta que frustra o esforço empreendido numa campanha de acesso.

O Remo não deve pensar em subir, mas em subir e permanecer na série B para brigar por vaga na série A, pois esse é o objetivo de estar na série B. Uma coisa de cada vez: estando na C, almejar a B e, depois, quem sabe?, estando na B e almejar a série A. É preciso planejamento e gana para se chegar onde se quer.”

Lopes Jr., azulino e atento observador das possibilidades de acesso.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 13)