POR GERSON NOGUEIRA
O Remo sentiu na pele a falta que um camisa 10 pode fazer a um time. Contra o Brusque, quinta-feira, havia até um jogador envergando o número mais emblemático do futebol. Na prática, porém, Fininho apenas caminhava pelo campo e se posicionava como um segundo volante, o chamado centro-médio dos velhos tempos de Dodô no Andaraí.
Camisa 10 é outra história. É o sujeito que, por habilidade e noção de jogo, comanda o time em campo. É o centralizador das jogadas, o homem que recebe todas as bolas e redistribui com competência. Em suma, é “o” cara.
Não se pode esperar isso tudo de um jogador valoroso e esforçado como Fininho. Não para as necessidades atuais do Remo. Aliás, não se pode esperar esse rendimento nem mesmo do titular Flamel, que também não é um organizador por excelência. É, na verdade, um meia-atacante. Aproxima-se dos homens de frente e às vezes se torna um deles.
O Remo precisou em Brusque e precisa no Parazão de um legítimo meia-armador. Um Eduardo Ramos da Série D 2015, que adotou ares de general da banda, com autoridade e talento. Produzia para a equipe e muitas vezes se transformava até em marcador em prol da segurança defensiva.
Ramos nem sempre foi unanimidade, porém foi o último genuíno camisa 10 a desfilar com o uniforme azul, gostem ou não seus críticos. É verdade também que na Série C do ano passado já não foi o mesmo jogador de antes por pretender resolver tudo sozinho. Como em futebol não há lugar para Dom Quixote, Ramos fechou a temporada sem os aplausos da torcida e foi embora sem gerar lamentos.
Josué Teixeira talvez tenha dentro do próprio Evandro Almeida um autêntico armador. Rodrigo, que despontou nas divisões de base e era o craque do time que fez bonito na Copa do Brasil Sub-20, passou um tempo fora e voltou para se integrar ao elenco meio cabano que o Remo montou para 2017.
Josué tem optado por utilizar Rodrigo como um falso atacante, sem que este justifique a escalação. O ideal seria que fosse lançado em sua verdadeira posição, para que possa fazer lançamentos e coordenar a transição. De todos os meio-campistas do Leão, Rodrigo é o mais apto a usar a 10 sem moderação.
O jogo deste domingo contra o Paragominas poderia servir de campo de experiência para o aproveitamento de Rodrigo na função, aproveitando que Flamel ainda se recupera de contusão. Talvez esteja aí a solução para o maior dos problemas do limitado time remista. É bom observar que a derrota em Brusque, entalada nas gargantas leoninas, teve muito a ver com a ausência de vida inteligente na meia cancha.
——————————————————
Bola na Torre
Giuseppe Tommaso comanda a atração, que terá Valmir Rodrigues e este escriba baionense na bancada de debates. Começa às 21h10, na RBATV.
——————————————————
Éramos felizes e não sabíamos
Aquelas imagens vibrantes dos estádios cheios e fervilhando de emoção, tão características dos grandes momentos do futebol do Rio de Janeiro – e, por extensão, do Brasil – e que emolduravam o espetáculo, estão com os dias contados. A pedido do Ministério Público, a Justiça carioca concedeu liminar que obriga a realização de clássicos com torcida única.
Existem fortes razões de segurança a respaldar o posicionamento do MP, mas é de se lamentar que os baderneiros ganhem mais esta batalha contra o esporte mais popular do país. E todos que lidam e fazem o futebol têm, de algum modo, responsabilidade por esse estado de selvageria, seja por ação, conivência ou omissão.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 19)