Lula recebe Temer, aconselha e se mostra disposto a dialogar

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Chamados de “golpistas” e “assassinos” por militantes petistas na entrada do Hospital Sírio Libanês, Michel Temer e sua comitiva foram recebidos por Lula na noite desta quinta-feira com rara cordialidade. O líder máximo do PT agradeceu comovido à solidariedade recebida após a confirmação da morte de sua mulher, Marisa Letícia. Em meio à tristeza, encontrou disposição para fazer de política.

Lula distribuiu conselhos a Temer: “Não se faz reforma da Previdência com o país em recessão”. Queixou-se do Supremo Tribunal Federal: “Está acovardado”. Abriu uma fresta para o diálogo: “Michel, quando quiser conversar comigo, me chame. Não posso é ficar me oferecendo.” E Temer: “Ah, com essa abertura, vou chamar muitas vezes.”

Temer hesitara em voar para São Paulo. Receava não ser bem-vindo. Sondado, Lula estimulou a viagem. Acompanharam o presidente pajés do PMDB (Renan Calheiros, Romero Jucá, José Sarmey e Eunício Oliveira, por exemplo), um par de estrelas do tucanato (José Serra e Cássio Cunha Lima) e ministros (Moreira Franco e Helder Barbalho).

Vencido o “corredor polonês” da entrada, os temores dissiparam-se já na fase de cumprimentos. Lula foi de mão em mão. Abraçou do “golpista” Temer ao arquirrival Serra. Disse que a vida lhe ensinou a ”separar divergências políticas e embates eleitorais da amizade.”  Fez menções elogiosos ao grão-tucano Fernando Henrique Cardoso, que o visitara mais cedo no hospital.

O encontro com FHC, disse Lula, sinalizava para a juventude a necessidade de superar o ódio e a intolerância que intoxicaram a política brasileira. Lula não se recordou —ou lembrou de esquecer— que é de sua a autoria o bordão “nós contra eles”, que eletrizava a militância petista nos embates eleitorais contra o tucanato. “Todos nós aqui temos a responsabilidade de fazer esse país se reencontrar e voltar a sorrir”, declarou aos visitantes.

(A mesma cruzada, com mais ferocidade, foi desfechada pelos tucanos durante os governos de Lula e radicalizada no segundo mandato de Dilma Rousseff, culminando com o golpe parlamentar que a afastou.) 

Virando-se para José Sarney, Lula evocou uma viagem que os ex-presidentes brasileiros fizeram à África do Sul, a convite de Dilma. Integraram a comitiva presidencial, além de Lula e Sarney, Fernando Henrique e Fernando Collor. Foram assistir ao funeral de Nelson Mandela. “Na volta, combinamos de fazer encontros com certa frequência. Mas, depois de descer a escada do avião, cada um foi pra sua casa e nunca mais nos encontramos.” Lamentou não ter dialogado com FHC quando estava na Presidência.

Lula sentiu-se à vontade para aconselhar Temer. Disse, por exemplo, que uma reforma como a da Previdência só pode ser feita num período em que a economia estiver “bombando”. Chamado de você, Temer se dirigiu a Lula sempre em timbre cerimonioso: “O senhor também fez uma reforma da Previdência”. O ex-presidente petista não se deu por achado. Declarou que, sob recessão, a mexida nas regras da Previdência potencializará a impressão de que aposentados e pensionistas pagam a conta.

Noutro conselho, Lula disse a Temer que a retomada do crescimento da economia passa pelo estímulo ao consumo. Contou que o ex-governador pernambucano e ex-presidenciável Eduardo Campos, morto quando fazia campanha em 2014, costumava questioná-lo sobre a ênfase atribuída ao consumo. “Ele vivia me criticando.”, relatou Lula. “Mas sempre achei que não podemos desprezar um mercado consumidor como o nosso. Havendo consumo, as indústrias produzem.”

Lula invocou o testemunho do ministro da Fazenda de Temer, que foi presidente do Banco Central no seu governo. “O [Henrique] Meirelles me conhece. Ele lembra que eu o chamava no Palácio, junto com o Guido Mantega, e dizia: porra, quando é que vocês vão baixar essa taxa de juros?” Presente, Meirelles sorriu.

Sem mencionar explicitamente a Lava Jato, Lula criticou a operação. Num dia em que o ministro Edson Fachin foi sorteado para substituir o colega morto Teori Zavascki na relatoria dos processos do petrolão, o morubixaba petista repetiu uma declaração tóxica: “O Supremo [Tribunal Federal] está acorvardado.”

Réu em cinco ações penais, Lula ensaiou uma crítica também ao STJ (Superior Tribunal de Justiça). Quando parecia engatar uma segunda marcha para investir contra Sérgio Moro, o orador deu meia-volta: “Melhor deixar pra lá”.

Lula estava rodeado de delatados, investigados, denunciados e réus. Gente como o próprio Temer, o amigo Moreira Franco, Renan Calheiros, Eunício Oliveira, Romero Jucá, José Serra…

Temer e sua comitiva chegaram ao Sírio Libanês por volta de 22h30. Deixaram o hospital às 23h10. Escaparam da hostilidade dos militantes saindo por uma porta lateral. Além de Lula, confraternizaram com Temer e sua comitiva petistas como o ex-ministro Jaques Wagner, o senador Jorge Viana e o faz-tudo de Lula Paulo Okamoto. A conversa foi testemunhada também pelo governador pernambucano Paulo Câmara (PSB).

Ao reproduzir o encontro, um dos participantes concluiu: ”Marisa Letícia, infelizmente, morreu. Mas Lula está vivíssimo.”

(Com informações de Josias de Souza, no UOL)

24 comentários em “Lula recebe Temer, aconselha e se mostra disposto a dialogar

  1. Lula está mais para Luís Carlos Prestes, embora os interlocutores estejam longe da dimensão de um Getúlio Vargas. Parecem mesmo símiles degradados do ‘Corvo’.
    De qualquer modo, diante das atitudes dos monstros da máfia de branco, dos hipócritas e da velha e famigerada mídia piguenta ressalta o alto nível de estadista daquele que consegue conviver com o estômago embrulhado diante de tanta canalhice, filtrado por uma cabeça privilegiada que o fez o mais lúcido político brasileiro desde que nos tornamos nação.

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  2. EIs um dos erros do governo do PT.

    Sei que nosso sistema é da ordem da barganha, mas não se negocia com este tipo de grupo que representam o pior do brasileiro.

    Nisso o PT cometeu seu maior equívoco.

    Nisso o Brasil deixou de avançar muito mais do que avançou.

    Agora regride na mão destes golpistas.

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  3. O comportamento de Lula e FHC nessa foto reflete o que o golpe nega: o respeito ao oponente político. Ao tratar com desdém a morte de Dona Marisa, a Globo pôde por em segundo plano a posse-confissão de Moreira Franco.

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  4. Prezado Oliveira, é claro que de acordões vivem os corruptos, pois de estratagemas, emboscadas e velhacaria vivem as quadrilhas. E tornar Lula réu, até agora sem motivo, é uma forma de torná-lo um suposto beneficiário disso, de incrimina-lo por ser um político, ainda que diferente daqueles notoriamente corruptos. Isso também deu certo com Dilma no curto prazo, que já passou. Estamos já no médio prazo do golpe. Nesse médio prazo esse discurso já tende a não funcionar para com ela porque o povo tem tido o entendimento da honestidade dela. Já não se trata mais, pois, de corrupção.

    Avalie que para um político o pior adjetivo que se pode dá-lo é corrupto, ou ladrão. Uma vez que um político vê seu ativo político se esvair em denúncias de corrupção, uma forma de recuperá-lo é tornar o oponente igual a ele e apontar-lhe o dedo, e fazer o ambiente político tão sujo como a si mesmo para dar a impressão de que as coisas são assim mesmo, esse discurso mais do que conhecido… e também conveniente.

    Notoriamente, Bolsonaro tem convencido alguns de que ele mesmo é exceção a essa regra. Uma regra que ele mesmo ajuda a divulgar e da qual se esquiva. A habilidade natural do fascista. A direita não é o mesmo que o fascismo, concordemos, mas uma das provas de que o fascismo tem crescido por aqui é a ascensão de Bolsonaro, um representante da direita mais retrógrada e reacionária, dita apenas conservadora. Eis o sinal do direitismo fascista. Ora, o que ela visa conservar? Um conjunto de valores morais do passado ou a manutenção da hierarquia social, ricos em cima e pobres embaixo? Permita-me dizer que uma coisa e outra se apoiam reciprocamente porque, logicamente, os valores morais do passado ajudaram a construir o passado. No passado se observa uma regra de ouro: aos ricos, tudo, e aos pobres, nada. A moral do passado era discriminatória para com a mulher, o negro, a diversidade religiosa, o homossexual e em certos tempos com estrangeiros. Ou seja, basicamente o fascismo visa proteger, uma elite de homens brancos cristãos heterossexuais e nacionalistas. Todas essas características reunidas são a cara do nazi-fascismo.

    Em tempo, nacionalismo não é o mesmo que estadismo ou em favor do Estado nacional.

    A intolerância política que toma conta da rede não é fruto da atuação de Bolsonaro, mas ele mesmo como expoente desse pensamento é a realização dela.

    Dito tudo isto, dou o benefício da dúvida a Lula e à Dilma enquanto não for apresentada prova cabal do atribuído a ambos nas incriminações do MP de Curitiba e por Sérgio Moro, que tem-se mostrado parcial e tendencioso e tem mesmo agido em benefício do PSDB.

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  5. É, no que respeita a crimes relacionados à corrupção, antes de que a decisão seja definitiva (isso se houver decisão condenatória), não há como condená-los.

    Mas, politicamente, por se envolver com todo este povo aí, e, inclusive, se aliar a todos eles e lhes proporcionar a oportunidade de cometer as malfeitorias que cometeram, não há dúvida, não há benefício que lhes seja possível conceder

    Aliás, nem pode haver dúvida ou benefício. Afinal, se acho tudo o que acho dos sujeitos em questão, é até contraditório que os repudie pelas malfeitorias que cometem, e dê benefício de dúvida àqueles que se aliaram com eles e lhes permitiram, proporcionaram, possibilitaram cometer referidas malfeitorias.

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  6. Amigos,

    Respeito a opinião de todos, mas não se negocia com bandidos (grave erro do governo do PT).

    Isto não quer dizer que Lula deva recusar o abraço sincero de FHC ou Temer que tenho certeza que é tão sincero quanto a ligação de Gilmar.

    Nunca se deve alimentar o ódio.

    Mas, assim como a cordialidade espanta o ódio, negociar com bandidos apodrece governos.

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  7. Amigo Celira, também respeito todas as opiniões, mas creio que no caso do governo petista temos de olhar mais do que as negociações.

    De fato, é preciso atentar para o fato de foram estas negociações que possibilitaram que os cunhas e cia fizessem tudo o que fizeram.

    Sendo importante dizer que o governo petista não foi surpreendido com uma mudança de comportamento dos sujeitos. Não, o governo petista quando se aliou a eles e lhes entregou generosas parcelas do governo, já sabia de há muito, de tudo o que eles são capazes. Aliás, o próprio temer quando foi convidado a compor a chapa como vice já era envolvido e muito envolvido com as empreiteiras.

    Com efeito, é de perguntar: a respeito do que pode tratar um diálogo entre o ex detentor do poder, implicado na lavajato, e os atuais detentores do poder, também implicados na lavajato?

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  8. Caro Oliveira, algumas obviedades devem ser ditas. O treinador que é contratado pelo clube no meio da temporada encontra um elenco montado por terceiros e com problemas de rendimento tem aí já um grande desafio pela frente, e o treinador deve adaptar-se a essa realidade para fazer o time jogar bem. Inclua aí uma dificuldade. Imagine que durante a partida a maioria dos jogadores discorde do técnico e resolva propor táticas, escalação e jogadas ao longo do jogo… A situação do presidente é parecida com a situação imaginária, principalmente no aspecto da montagem do elenco, em ter que fazê-lo funcionar bem e em ter que ouvir pacientemente a proposta de jogo de cada um. Ele tem que trabalhar em equipe com 512 deputados e 81 senadores que ele não escolheu (embora ele mesmo tenha indicado alguns aos eleitores para que os problemas de entrosamento diminuíssem) e que pensam cada qual de um jeito e que representam diversos interesses da sociedade, com mais de 200 milhões de pessoas. Alguns daqueles indicados pelo então candidato a presidente, poucos, até foram eleitos, mas a maioria entrou já em dissonância com o executivo.

    O pior de tudo é que nem Lula, nem Dilma, puderam reclamar de o congresso ser formado por figuras como Renan Calheiros, Romero Jucá, José Serra, Aécio Neves e outros ícones do neoliberalismo e da privataria. Isso, a formação do congresso, é competência exclusiva do eleitor. Reclamar de ter que lidar com eles seria o mesmo que reclamar da democracia. O republicanismo petista foi inaugurado para conciliar o inconciliável. Veja, esse desafio foi imposto pelas escolhas do eleitor. Se Lula ou Dilma treinassem times e não fossem presidentes, poderiam sugerir contratações e dispensas mas o presidente da república não tem o mesmo direito. A presença deles no congresso é absolutamente legal e dentro da Lei. Eles se candidataram e venceram eleições. O time foi montado pelo povo. Não há aquele menos legítimo e nem o mais legítimo ao início do mandato e a Lei da Ficha Limpa termina por legitimar-lhes o mandato, dado que não foram punidos pelo critério imposto por ela. A culpa do eleitor no processo de marginalização da política brasileira é essencialmente real. E é pesaroso observar isso. A maior culpa de um congresso tão corrupto é a do eleitor, e essa afirmativa não é motivada por um ponto de vista romântico da política, mas prático, dado que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio do voto. A democracia é arriscada porque exige máxima atenção do cidadão na hora da escolha.

    Os protestos dos cidadãos que ocorrem pela imoralidade dos políticos é correto, mas não há qualquer reflexão acerca dos próprios eleitores sobre o que os levou a votar nesse congresso. Nunca vi um mea culpa, uma admissão de erro. Nada. Os eleitores brasileiros preferem pôr a culpa uns nos outros e não admitem um debate maduro sobre política. Resultado, o brasileiro não vota racionalmente, ou segundo uma lógica idealista ou partidária, mas seguindo uma tendência de moda. O pensamento político do eleitor médio se assemelha ao modo como o adolescente escolhe seu guarda-roupas. É curioso observar que os eleitores de políticos canhestros como Bolsonaro e Feliciano simplesmente não sabem o que eles defendem politicamente. Converse com jovens e pergunte a que partido cada qual pertence e o resultado será que menos da metade acertará a resposta. Isso torna provável que os mesmos que hoje estão na lava-jato ainda sejam reeleitos se se candidatarem novamente. Para muitos, votar no mesmo candidato é uma identidade política, mas é apenas um personalismo sem ideologia. Daí a identificação com o fascismo.

    Não sei que tipo de interesses tem os eleitores de Cunha, Jucá, Aécio e Renan, para ficar num rol apenas demonstrativo e não taxativo. Lula e Dilma depararam-se com eles lá, eleitos democraticamente, quando chegaram à presidência. Quero lembrar que o governo teve que compor com esses representantes legítimos do povo, como todo presidente deve compor para contar com algum apoio político. Nesse sentido, vejo Lula como qualquer um que tenha votado num desses congressistas, da câmara e do senado.

    Discutir seriamente a política é uma necessidade atual urgente. É preciso que a Lei que regula o direito político passe por uma reforma ampla com apoio popular.

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  9. Bom, amigo Lopes, apesar de toda sua bem concatenada explanação, meu que stinker acabou ficando sem resposta. Por isso o reitero: a respeito de que pode tratar um diálogo entre o ex detentor do poder, implicado na lava a jato, e os atuais detentores do poder, também implicados na lavajato?

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  10. Quanto ao mais, é indagar:

    1. Quer dizer que o governo petista ter aceito se aliar com aqueles que historicamente sempre agiram em prejuízo da população era algo óbvio?

    Para mim não era nem um pouquinho óbvio. E não só pra mim. Para vários dos próprios petistas tal não era um comportamento óbvio e esperado. Tanto não era que vários parlamentares petistas deixaram a legenda.

    2. Quer dizer que era algo óbvio que o governo petista disponibilizasse os órgãos e entidades do governo petistas para estes que historicamente agiram em prejuízo da população?

    3. Mas, o governo não julgou que era óbvio que quem historicamente sempre agiu em prejuízo da população, fosse continuar agindo em prejuízo da população quando assumisse a parcela do governo que lhe foi proporcionada?

    Se tudo isso (“2” e “3”) era óbvio para o governo petista quando resolveu se aliar e entregar parte do governo a estes sujeitos historicamente habituados a fazer malfeitos e a prejudicar a população, a entrega do governo aos tais sujeitos não se tratou de uma contingência política, nem de uma necessidade conjuntural, mas, sim, de uma autêntica parceria, uma inegável cumplicidade.

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  11. Ah, só mais uma coisa:

    Se é óbvio que os próceres petistas, especialmente a impedida e o ex, não poderiam escolher os integrantes do Congresso Nacional, também não é óbvio que poderiam não ter escolhido o T e m e r, então já notoriamente implicado com as empreiteiras?

    Ou não teria conseguido vencer a eleição sem o T e m e r?

    E se poderiam vencer a eleição sem o T e m e r , notório implicado com as empreiteiras, por que o escolheram, então?

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    1. Sinceramente, eu me recuso a crer, amigo Oliveira, que você desconheça as condições impostas aos partidos pelo sistema presidencialista no Brasil. Os partidos que se coligam têm plena autonomia para indicar seus candidatos. Esta é condição básica para alianças, sempre foi. Portanto, não foi Dilma (nem o PT) que escolheu Temer. É de conhecimento até do reino mineral que a escolha de seu nome foi feita pelo seu partido.

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  12. Dito o que deveria ser dito, avancemos então, caro Oliveira.

    Lula e PT delatados, pelo que parece até o momento, não preocupam muito, afinal, Mantega foi inocentado, a acusação contra Palocci tem só perdido em consistência e mesmo contra Dirceu e Genoíno não existe mais que teoria, sendo que um já está em liberdade, Genoíno, e Dirceu, na perpétua, por enquanto, sem contar Lula, que não se nega a depor e tem sistematicamente provada a inocência, e Dilma, que sequer é investigada. Nem Delcídio sustentou a denúncia que fez para tentar escapar da cassação e da vergonha, sem sucesso, porque não a provaria, e disse claramente após ser cassado que a denúncia que fez enquanto senador era uma opinião que poderia dizer enquanto gozava da imunidade parlamentar. E as ações contra Lindbergh e Gleisi não prosperaram, por falta de provas. Estão postos em liberdade por Sérgio Moro somente os que delataram suspeitas contra petistas, mas não os que ousaram (sim, tratemos de ousadia!) delatar tucanos, contra os quais há farta prova de irregularidades mesmo durante o governo petista. Contra tucanos há provas em vários Estados e em vários processos, na verdade.

    Voltando ao assunto, o sistemático desfecho de investigações contra petistas com falta de provas não demonstra aquilo que o senso comum tem apontado para continuar desconfiando de que Lula seja um gênio do crime financeiro e de lesa-pátria, mas, na direção oposta, desconfio, desde sempre, e muitos o farão desde agora, de que as provas, na verdade, incriminam tucanos e peemedebistas, dada a delação da Odebrecht ir na direção de toda a cúpula peemedebista no senado e no governo (sic) de Temer. Tudo isso acompanhado da confissão de Moreira Franco, ao receber o status de ministro diretamente de Temer. Aliás, receber o status de ministro de estado após delação foi a razão para Gilmar Mendes suspender a nomeação de Lula por Dilma, para a Casa Civil. E até agora, nada, nem uma panela solitária, nenhum moleque vendido do MBL foi fazer questão de impedir Moreira Franco, nem um pato amarelo ou de outra cor, ou outro bicho, foram inflados por Skaff na Paulista. Nem uma edição do Jornal Nacional quase inteira para inferir o impedimento de Moreira Franco ou receitar a queda de Temer por isso ou por todo o conjunto da obra. E nem Gilmar Mendes parece decidido a repetir o veredito.

    Tudo isso aponta para uma estratégia muito clara e bem definida. O MP-PR, por meio dos procuradores da Lava-Jato, oferece/recebe a denúncia e tenta prová-la a todo custo. Sérgio Moro designa a PF (aecista) para investigar as denúncias recebidas pelo MP-PR. Moro conduz o processo de modo a não atingir tucanos, e nem tanto peemedebistas. A criminalização do PT se dá pela forma que a mídia divulga delações como certas e provadas, tentando criminalizar a esquerda, para favorecer tucanos nas próximas eleições. Logo, a implicação (atual) de Lula na Lava-Jato não parece ser algo que deve ir além da suspeita e da denúncia, como tem sido até aqui. E nem contra os principais petistas.

    Desse modo, a questão sobre o que Lula poderia estar fazendo ao dialogar com os golpistas deve considerar o momento pessoal mesmo e ainda o contexto histórico-político pelo que o país passa. Para mim, é fácil imaginar que políticos tão copiosamente cínicos foram fazer no Sírio Libanês. Foram tentar ganhar popularidade e se mostrarem superiores a qualquer diferença política. Não o são, tanto que o MBL já ensaiou discurso no sentido de que Lula já transformou o velório da esposa em ato político, como se a direita já não tivesse se feito presente na porta do hospital e na internet com o desejo inumano de cobrar a morte de Dona Marisa. O triste espetáculo tem mostrado do que são capazes esses mesmos políticos que foram ao hospital supostamente prestar-lhe condolências.

    É preciso refletir contra a narrativa cômoda, oportuna e parcial da mídia que condena uns (os inimigos) e absolve outros (os aliados).

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  13. Fora os já condenados em caráter definitivo, reitero o que já disse reiteradas vezes, inclusive aqui mesmo nest post: Antes da condenação em caráter definitivo, e só se forem condenados em caráter definitivo, nehum petista poderá ser chamado de criminoso.

    Quanto ao mais, me parece uma boa resposta esta segundo a qual o tema do diálogo proposto pelo ex detentor do poder, implicado na lavajato, aos atuais detentores do poder, implicados na lavajato, seja o momento pessoal do ex e o contexto histórico-político que o país passa.

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  14. Amigo Gerson, independentemente das formalidades burocráticas, a verdade é que o governo petista que inicialmente queria o Henrique Meireles, num segundo momento escolheu, convidou o temer para ser vice.

    E para não ficarmos na dúvida sobre o que eu digo e sobre o que você diz, fiquemos com o que disse, para todo o Brasil e o Mundo todo (inclusive o mineral), a própria impedida. Tal dicção ocorreu em 24\08\2016, há menos de um ano atrás, no Senado Federal. O vídeo comprobatório segue no link abaixo:

    https://www.youtube.com/watch?v=eNnzbZ9nMm8

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  15. Pois por aí mesmo veja bem a diferença entre Lula, Dilma e Temer. O que tinham cada qual como objetivo em suas políticas econômicas? Certamente, Meirelles atuou no sentido de garantir lucros aos bancos nos dois governos de que participou até agora e a presença mesma de Meirelles no BC de Lula era uma das consequências da carta aos brasileiros. Meirelles baixou os juros em dado momento porque era pressionado para tal e porque tinha os requisitos técnicos para tal. Esses requisitos foram obtidos graças às medidas de Lula ao longo do mandato. Já Temer… Dilma perdeu o controle errou. Sem dúvida, mas não no intuito de quebrar empresas nacionais ou de entregar o pré-sal aos estrangeiros. Errou por que não acertou, mas não errou porque quis errar, como um certo Armínio Fraga… que privatarizou o Estado brasileiro. Por aí mesmo, caro Oliveira, você encontrará as respostas de que precisa para sair do discurso legalista e adentrar no historicismo e marxismo. Um abraço.

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  16. Amigo Lopes, o Brasil, o governo federal com seus ministérios, suas secretarias, suas autarquias, empresas públicas e de economia mista, são dos brasileiros e para os brasileiros.

    Pois bem, sob esta ordem de ideias, os três governos petistas entregaram o Brasil tanto quanto o fizeram os tucanos. A diferença é que os petistas entregaram o Brasil, com seus órgãos e entidades estatais, para as velhas raposas da política nacional, raposas estas que os petistas conheciam muitíssimo bem.

    Quanto à “Carta ao Povo Brasileiro”, ela foi escrita pelos petistas para garantir que aquilo que havia sido entregue pelos tucanos não seria retomado pelos petistas, como a constituição e a lei, autorizam que fossem retomados. Na realidade ela era uma promessa ao grande capital, nacional e estrangeiro, de que tudo ia ficar como estava.

    E a promessa foi cumprida muito bem. Tão bem que o ex chegou a proclamar, com razão, que nunca na história do Brasil os banqueiros ganharam tanto, quanto ganharam no governo dele. E ele falou a verdade.

    Quanto ao marxismo e ao historicismo, e mesmo ao legalismo, devo dizer que eu certamente não ostento os atributos para alcançá-los, daí que me contento com o criticismo apenas.

    Pode não ser lá grande coisa, pois me impõe o cansativo trabalho de ficar diuturnamente atento com a autenticidade de tudo aquilo que me vem ao conhecimento, mas, pelo menos me livra da religiosa inclinação ao petismo e ao lulismo.

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