Adeus ao grande capitão

POR GERSON NOGUEIRA

Costumo dizer que o Botafogo, além do escudo inigualável, concede aos seus adeptos orgulhos como nenhum outro clube. Cultuar alguns dos maiores craques da bola é seguramente o maior dos privilégios que todo botafoguense. Desfilaram pelos campos do planeta envergando a camisa alvinegra monstros sagrados da bola. Mané, Nilton, Didi, Amarildo, Heleno, Jairzinho, Gerson, Paulo César, Paulo Valentim, Zagallo, Quarentinha, Afonsinho, Marinho Chagas, Seedorf, Roberto Miranda, Manga e Carlos Alberto Torres, entre tantos outros nomes ilustres.

Boa parte dessa confraria de notáveis já não está por aqui. Ontem perdemos Carlos Alberto, o capitão da inesquecível Seleção Brasileira de 1970, emblemático time tricampeão mundial até hoje cultuado em todo lugar onde houver um amante do bom futebol.

unnamed-62Por isso mesmo, o mundo da bola parou ontem para reverenciar e prantear o Capita, que, além de suas óbvias qualidades como jogador, revelou-se um líder de primeiríssima qualidade naquela Seleção de craques.

Ser o capitão de um grupo que contava com Pelé, Gerson, Tostão, Piazza e Jairzinho não é para qualquer um. Carlos Alberto foi peça destacada ao longo de toda a campanha do Tri. Depois de integrar o time de feras de João Saldanha, firmou-se sob o comando de Zagallo e passou a desempenhar um papel inédito na lateral direita.

Além de defensor, muitas vezes se revezando com Brito e Piazza no centro da zaga, saía constantemente para dar suporte às ações dos gênios que integravam aquele ataque iluminado. Ao contrário do antigo ocupante da função, Djalma Santos, Carlos Alberto era agudo quando subia para apoiar. De chute potente, sempre foi bom finalizador.

O golaço que fechou em grande estilo a Copa do México é a prova maior desse talento como definidor. Todo mundo no mundo todo recorda o lance genial.

Passo a passo, a trama se desenrolou assim. Bola roubada por Tostão junto à linha lateral. Piazza recebe e entrega. Sequência sensacional de fintas de Clodoaldo, entortando quatro marcadores. Lançamento perfeito de Rivelino. Arrancada de Jairzinho e toque (de bico) para Pelé. Assistência fantástica do Rei, com açúcar e com afeto. E a bomba final do Capita, seca e rasteira, estufando as redes italianas.

Nunca uma Copa foi encerrada de maneira tão magistral. Pertence a Carlos Alberto essa belíssima honra. Aquela articulação, apontada até hoje como das mais brilhantes dos Mundiais, simboliza o futebol brilhantemente solidário daquela Seleção.

Tive sorte de acompanhar tudo com os olhos de um menino de 12 anos, fascinado por futebol de alta qualidade. Quando a mãe de todas as Copas foi disputada, o Brasil já era reconhecido como berço do melhor futebol. A conquista do tricampeonato carimbou de vez essa condição.

Carlos Alberto se diferenciava dos laterais de então até na numeração da camisa. Ao invés do tradicional 2 nas costas, ele preferia o 4, talvez a dizer que era bem maior do que seus antecessores.

No Botafogo, jogou em 1971, cedido por empréstimo pelo Santos. Foi por pouco tempo, mas suficiente para garantir identificação plena com a torcida e deixar seu nome gravado na galeria da Estrela Solitária. Suas passagens mais marcantes foram mesmo no Santos de Pelé e na “Máquina Tricolor”, ao lado de Rivellino e outros craques. Encerrou a carreira no futebol dos EUA, já nos anos 80.

O Pará sempre esteve na rota do Capita. Treinou o Papão em 2005, sem grande sucesso. Foi seu último trabalho como técnico. Depois, passaria a comentar futebol. Integrou, a convite de Guilherme Guerreiro, a equipe esportiva da Rádio Clube e grupo RBA na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Deixa saudades e uma carreira irretocável. Só temos a agradecer por tudo.

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Parazão 2017: formato simplificado e certeza de dois clássicos

Prevaleceu o bom senso. Conselho Técnico definiu ontem a fórmula de disputa do Campeonato Paraense de 2017, garantindo pelo menos dois clássicos Re-Pa. Serão dois grupos, com jogos de um contra o ouro, em ida e volta. No final das 10 rodadas, os dois primeiros de cada grupo se enfrentam em jogos de ida e volta. Os vencedores decidem em duas partidas.

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Adiar eleição fere o estatuto, diz presidente do Remo

O posicionamento do presidente do Remo, André Cavalcante, repudiando a hipótese de adiamento da eleição, teve forte repercussão entre associados e conselheiros. “O presidente da Assembleia Geral não possui competência para determinar qualquer modificação no calendário eleitoral do clube, em especial quando se trata de dispositivo específico, como a data de realização das eleições ordinárias (art.68, I)”, diz a nota oficial expedida ontem. Segundo André, adiar a eleição seria afrontar o Estatuto do clube, pois “não há previsão estatutária para o presidente da AG deliberar monocraticamente sobre questões administrativas, assim como para modificar qualquer disposição estatutária”.

(Coluna publicada no Bola desta quarta-feira, 26) 

3 comentários em “Adeus ao grande capitão

  1. O gol legendário de Carlos Alberto Torres devemos claramente a TV . Foi o 4º e quando ele saiu, a malta toda já estava embriagada. A geração de hoje é do futuro, não precisará correr atrás de testemunhas.
    Cheguei a ver o homem de perto. Seu filho, o Torres, jogou algumas temporadas no arquipélago . No Nagoya Grampus e eu sempre me assustava de como eram tão parecidos. Carlos A. Torres e seu gol proporcionou afagos merecidos , na gente sofrida, da década de 70. Em qual me incluo.

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  2. A fórmula do Parazão/2017 pode ser simplificada, mas não traz nada de novo que reflita em perspectiva de evolução. A única preocupação é se vai haver 2, 4, ou 6 RExPA. Mais objetivo seria um “play off” de 10 partidas entre estes os dois, para satisfazer o apelo comercial.
    Em termos técnicos nada se vislumbra; serão os dois maiores detentores de títulos repetindo velhos conceitos; contratando dezenas de ex-jogadores em atividades, preferencialmente de fora do Estado, que jogam mais no TRT que nos gramados. Os demais clubes mesclando velhas formações de jogadores locais, a maioria rodados, e que neste momento desfilam pela etapa chamada “Segundinha”, que sugere “segunda classe”. Estes são jogadores emprestados de Remo ou Paysandú, que depois retornam aos clubes de origem, para serem reservas de luxo. Oportunidades para jogadores locais, oriundos das categorias de base, quase nenhuma. Já seria tempo de começarmos a pensar em fixar cotas mínimas de jogadores locais, oriundos de categorias de base, tanto no elenco máximo inscrito como em cada jogo.

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  3. Sobre o novo regulamento. O ideal seria grupo único com ida e volta. Pra dar oportunidade dos times se montarem e melhorarem. É bom para o campeonato e é bom para os times paraenses que disputarão campeonatos nacionais depois.

    Nesse caso, os times do grupo não se enfrentarão entre sim.

    Mas os caras só pensam em quantos RexPa’s dá pra jogar.

    Mas pelo menos acabou essa história de turno e returno.

    Parece que não se dá pra querer tudo ao mesmo tempo no futebol paraense

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