Lambanças sem fim

POR GERSON NOGUEIRA

Quando despontou no cenário das arbitragens brasileiras, Sandro Meira Ricci chamava atenção pela indisfarçável vocação para “árbitro caseiro”, aquele tipo que na dúvida costuma tomar decisões que beneficiam os times mandantes. Seu primeiro escorregão sério foi num Corinthians x Cruzeiro válido pelo Brasileiro de 2010, no qual inventou um penal sobre Ronaldo em lance de disputa normal de bola pelo alto com o zagueiro Gil. Além da penalidade, o Cruzeiro ainda teve o zagueiro expulso. A vitória corintiana, garantida pelo gol de pênalti, se mostraria decisiva para a conquista do título nacional daquela temporada.

Lembro que, após o jogo, o então técnico cruzeirense Cuca disse que Meira Ricci não era ruim. Pelo contrário, era bom em apitar para o time da casa e só punir os jogadores da equipe visitante. Antes de inventar o pênalti para o Corinthians, ele havia ignorado uma falta sobre o cruzeirense Tiago, derrubado pelo goleiro quando ia fazer o gol.

unnamedAo contrário da opinião irônica de Cuca, sempre considerei Meira Ricci um árbitro fraco e suscetível a pressões de jogadores e técnicos, sempre tentando contemporizar para não desagradar clubes e cartolas poderosos.

Como quer tanto agradar, termina por desagradar quase sempre. Lembra, nesse particular, os notórios Wagner Tardelli e José Roberto Wright, já aposentados, adeptos da mesma cartilha de acomodação.

O que surpreende é que agora ainda se esteja discutindo outra trapalhada do mesmo Meira Ricci depois de tantas lambanças ao longo da carreira. Mais espantoso ainda é que ele – pelos critérios e determinações da CBF – seja  principal árbitro brasileiro.

Mesmo sob críticas ferozes às suas atuações, ele conseguiu chegar ao topo da carreira. Apitou em duas Copas do Mundo, uma Copa América e no torneio olímpico de futebol da Rio-2016. Donde se conclui que ou o Brasil só consegue árbitros ruins ou os critérios de escolha são viciados.

A última lambança de Meira Ricci ocorreu no clássico Fla-Flu de quinta-feira, quando um gol do Fluminense foi anulado, validado e finalmente desmarcado pelo árbitro. Tudo teria sido aceitável se a decisão final não tivesse demorado longos 13 minutos, em meio a empurrões entre jogadores e o juiz.

Depois de esperar todo esse tempo, o árbitro decidiu anular definitivamente o gol, não sem antes ouvir o inspetor de arbitragem informar que a TV havia mostrado impedimento no lance. Meira Ricci instaurou na marra o sistema de consulta a terceiros para analisar uma jogada, aceitando a interferência externa proibida pelas normas da Fifa.

Quando preferiu malandramente esperar uma informação vinda da beira do campo, o árbitro abriu mão de sua autoridade e mostrou falta de convicção para decidir a marcação. Ao mesmo tempo, estimulou o tumulto em campo e a discussão que pode motivar recurso junto ao STJD, ameaçando a continuidade do campeonato.

Cabe lembrar que o torcedor paraense teve o desprazer de ver Meira Ricci em ação nesta Série B. No jogo entre o Papão e o CRB, ele também aprontou das suas. Hesitou no lance em que o goleiro Emerson cobrou tiro de meta nas costas do atacante Zé Carlos e a bola se encaminhou para as redes. Com receio de dar o gol, ele levou vários minutos até reiniciar o jogo como se nada tivesse acontecido.

Árbitros incompetentes cometem erros que mudam o destino de competições e prejudicam o futebol porque geram um clima geral de desconfiança quanto à seriedade dos campeonatos.

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Campanha eleitoral no Remo promete turbulências

O Remo abre o processo eleitoral já sob o risco de escaramuças internas e até batalhas judiciais pela frente. Marcada para hoje, a reunião convocada pelo presidente do Conselho Deliberativo para avaliar contas da gestão do presidente André Cavalcante é o primeiro round do embate.

A intenção de discutir supostas inconsistências na prestação de contas do presidente seria digna de aplausos se não carregasse o peso de interesses diretos por parte de um dos candidatos à eleição presidencial – o próprio presidente do Condel, Manoel Ribeiro.

Além disso, a convocação da reunião feriu o regimento interno do Condel, pois o relatório do Conselho Fiscal não foi enviado no prazo legal (cinco dias antes) aos conselheiros. Com isso, eventuais acusações ao presidente não poderão ser respondidas ou contestadas.

A essa altura, o Remo não pode ficar refém de práticas arcaicas, com intuitos inconfessáveis. Curiosamente, não há notícia de qualquer iniciativa interna para apurar contas dos ex-presidentes Zeca Pirão, Pedro Minowa, Henrique Custódio e Manoel Ribeiro.

O fato é que, em nome da lisura e da equidade, o Condel deveria analisar as contas de todos, principalmente quanto a situações pontuais graves, como a transação envolvendo o jogador Roni, a destruição do estádio Baenão e o célebre assalto que custou R$ 420 mil às combalidas finanças do clube.

(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 17)

7 comentários em “Lambanças sem fim

  1. Eis o grande entrave do Remo de hoje. A falta de união gera deterioração do clube. Mas, aqueles que compõe o clube, preferem ver seus interesses em primeiro plano. Grande equívoco! Esquecem que o Remo é maior do que todos eles.

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  2. É bom lembrar que isto já aconteceu do outro lado da avenida. Há pouco tempo atrás, Tourinho, o presidente mais vitorioso do Norte, teve seu título caçado. Outro grande equívoco! Tourinho já estava “chamuscado” pela situação que deixou o clube de suíço. Caçá-lo foi um ato desnecessário.

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  3. Clube do Remo não merecia o acesso, as questões de gestão do Clube são criticas do ponto de vista administrativo, as 03 candidaturas são fracas e não passam esperança para torcedor, ou seja, 2017 irá acontecer os mesmos problemas dos últimos 20 anos.

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  4. Gerson e amigos, são aqueles que se acham os donos do Remo, não querendo largar o osso.. Só pra que os amigos tenham ideia, eleições diretas só existem hoje no clube, por causa da pressão feita pela ASSOREMO… Por eles, os “donos”, nunca teríamos eleições diretas

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  5. Um detalhe que não percebi ninguém falando e que aumenta a lambança do Sandro Meira Ricci. No exato momento do gol a primeira reaçao dele é fazer gesto anulando o gol, provavelmente atendendo ao aceno do auxiliar, que era o “dono” do lance. Ele estava na meia lua. Depois, estranhamente ele volta atrás e em seguida

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