O incômodo jejum

POR GERSON NOGUEIRA

Como em tantas outras ocasiões nesta Série B, o Papão começou o confronto de sexta-feira contra o Atlético-GO em alto nível, pressionando e jogando à vontade, como se estivesse em casa. O primeiro tempo foi quase todo jogado nessa intensidade, com recuperação de bolas no meio-campo e ataques que criavam dificuldades para os donos da casa.

Aos poucos, porém, os contra-ataques do Atlético foram se tornando mais frequentes e perigosos. Até que, aos 39 minutos, numa arrancada pela direita, o ala Mateus aproveitou o espaço que lhe foi concedido e entrou na área. Entre cruzar e chutar direto, ele optou pela segunda alternava. Deu certo. A bola surpreendeu Emerson, que não conseguiu evitar o gol.

unnamedO Papão, porém, estava tão bem assentado no jogo que assimilou o golpe e partiu para a reação. Quatro minutos depois, Tiago Luís apanhou bola junto à entrada da área e, depois de se livrar de um marcador, mandou um chute certeiro no ângulo direito do gol de Kléver. Com o golaço, o jogo voltou a ficar igual, estabelecendo-se a justiça pela melhor atuação alviceleste no primeiro tempo.

Podia ter ficado melhor ainda, pois aos 46 minutos o ala João Lucas invadiu a área goiana e mandou um disparo forte, cruzado. A bola passou pelo goleiro e estourou na forquilha esquerda. Se o gol tivesse acontecido seria um prêmio à arrumação tática e à proposta ofensiva do Papão.

Na verdade, Dado Cavalcanti surpreendeu a todos com a escalação em 3-5-2, formato que ele ainda não havia utilizado desde que retornou à Curuzu. Contou depois do jogo que havia treinado duas vezes o sistema de três zagueiros, prevenindo-se para um possível sufoco no estádio Pedro Ludovico. A estratégia mostrou-se apropriada, o time se apresentou bem e o Atlético não conseguiu tomar conta da partida.

Apesar do bom funcionamento do esquema, Dado deixou de corrigir uma falha. O atacante Jobinho era peça decorativa e deveria ter sido trocado no intervalo. Leandro Cearense e Tiago Luís precisavam de alguém para ajudar nas manobras ofensivas. Talvez com Bruno Veiga em campo, o Papão tivesse escapado da pressão que o Atlético impôs no recomeço do jogo.

Pressão que deu certo logo aos seis minutos. Mateus avançou pela esquerda, passou pelos marcadores e soltou um míssil em direção ao gol. A bola entrou no ângulo direito da trave de Emerson. Na sequência, o Atlético perdeu grande chance com Junior Viçosa.

O Papão só foi sair da inércia aos 18 minutos. Tiago Luís cobrou falta e obrigou o goleiro a defender em dois tempos. A bola escapou e ainda bateu no pé da trave. Podia ter sido o gol de empate.

Os bicolores, já com Veiga no lugar de Jobinho, limitavam-se a cruzar na área. Tiago Luís, exausto, desapareceu – com ele foi junto o que havia de vida inteligente do lado bicolor.

No fim das contas, um resultado negativo, mas com o consolo de ter revelado uma nova maneira de jogar. Persiste o incômodo jejum de vitórias fora de casa, mas Dado tem a opção de jogar com três zagueiros como forma de compensar as fragilidades de marcação nas laterais.

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Bola na Torre

O programa terá apresentação de Giuseppe Tommaso, com a participação de Valmir Rodrigues e deste escriba de Baião. Começa por volta de 00h20, logo depois do Pânico, na RBATV.

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Desabafo de um grande combatente azulino

O grande benemérito remista Ronaldo Passarinho, um dos baluartes deste espaço, encaminhou o seguinte comentário sobre o atual momento do Remo. “Os fracassados nas últimas ‘gestões’ têm sempre uma desculpa, com ecos na imprensa. Atribuem os seus desatinos à falta de união no CR. Infeliz de governos (ou clubes) que não têm oposição. Democracia exige o dissenso. Consenso é ditadura. A oposição no clube deve ser atuante e consistente. No Remo, o principal problema é a insistência de um modelo falido de contratações. Raríssimos merecem o alto salário que recebem (¿), ocasionando ações seguidas na Justiça do Trabalho. O poder das citadas contratações fica nas mãos de um tal ‘executivo’ que encanta diretores. Li declaração do Alex Ruan, cria da nossa base, afirmando que no início do ano o gerente disse que não havia mais espaço para ele no Remo. Vejam quantos laterais esquerdos foram contratados e qual o benefício que trouxeram ao clube. Aos 78 anos de idade, arvoro-me a aconselhar o futuro presidente: volte à realidade financeira do Remo. Siga o exemplo de Ubirajara Salgado, que, em 1998, salvou o clube com o chamado Esquadrão Cabano. O que golpeou o clube foi uma farra irresponsável e criminosa de contratações que só enriqueceram empresários, aliados a falsos remistas. Para não falar no inexplicável roubo, termino saudando uma nova mentalidade que está surgindo no Remo: Paulo Storino, Hilton Benigno, Edgar Medeiros, Marcelo Carneiro e outros que estão a se organizar, aliados a Sérgio Reis, Domingos Sávio e Ângelo Carrascosa, dentre outros. É um grupo que vai oxigenar o CR. O Remo precisa de ideias e transpiração”.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 16) 

7 comentários em “O incômodo jejum

  1. Perfeita a observação a respeito da experiência positiva com o 3-5-2 usado pelo Papão, sexta última. Só acho um pouco injusta a observação a respeito do Jobinho por achar que esse jogador movimentou-se bastante e parece ter assimilado sem percalços a forma de jogar. O maior problema dele é a visível forma física precária.
    Já o Cearense é que achei ter ido muito mal pela insistência em querer jogar apenas de costas para o adversário. Justamente na era da polivalência, nosso centroavante insiste em querer repetir apenas um tipo de jogada, mesmo já tendo mostrado sua capacidade de variação.
    Quanto ao Bruno Veiga, que entrou tão bem contra o Vasco, nada acrescentou nas partidas contra o Joinville e Atlético(GO), dando a entender que ainda carece de melhor condicionamento físico. E aí parece residir a maior dificuldade do Papão. Fora o incansável Cearense, restam os limitados fisicamente Jobinho e o próprio Veiga, além do delegado Maílson, este a antítese do futebol coletivo, além de dotado apenas daquilo que Nelson Rodrigues chamava de ‘velocidade burra’, insignificante diante das dificuldades.
    Pra encerrar, uma observação ociosa: como joga esse Radamés, conforme puderam constatar, ontem, aqueles que assistiram Juventude1x2 Boa Esporte . E não se diga que na Série C é moleza porque aqui teve gente reclamando a presença de Edno na seleção brasileira.

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  2. O Remo teima em não fazer o óbvio, ou seja, trabalhar dentro de suas possibilidades financeiras, e como se isso não fosse o bastante, ano após ano, seja lá qual for o presidente, sempre inventam de trazer muita gente de fora com salários exorbitantes (considerando a realidade financeira do clube), daí você cria um desequilíbrio financeiro, não honra com seus compromissos e gera um novo bolo de ações trabalhistas. A fórmula é simples, plantel regional mesclado com jogadores que se destaquem na base, estabelecendo piso e teto salarial de forma que as receitas possam cobrir as despesas do clube e assim dar subsídios e melhores condições de trabalho para o grupo de jogadores e para os funcionários do clube. mas o remo não faz e ao que parece nem pretende fazer isso, o que é no mínimo lamentável.

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  3. Gerson, o comentário do Camilo Ferreira, vai ao encontro do que prego há 4 anos. A farra de contatações desastradas só terá um ponto final, quando o Presidente responder solidariamente pelos compromissos não honrados. Você, Gerson, é testemunha do que falo.

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  4. Creio que uma política de austeridade na contratação de jogadores é a única salvação para o Clube. Aliás, defendo isso desde minha turbulenta primeira participação aqui no Blog. O tempo mostrou que eu não estava errado.

    Mas, Camilo, creio que seja possível um pouquinho mais do que regionais e egressos da base. Nada contra a base e os regionais, muito pelo contrário. Mas, é que, há muito “estrangeiro” por aí que ostenta bom futebol e pode vir sem causar os problemas com os quais nos acostumamos a conviver: ruindade absoluta, salários incompatíveis com a realidade do Clube e com o futebol apresentado, “barcas” repetitivas, além de problemas na justiça do trabalho. Aliás, o Águia aqui e acolá revela jogadores bons de bola e sem os já referidos nefastos efeitos colaterais.

    Mas, para isso seria necessário uma medida complementar: eliminar do quadro dos gestores e candidatos a tal, aqueles muito apegados ao auxílio dos empresários de jogadores e também aqueles que não tomam o mínimo cuidado com o patrimônio do Clube de um modo geral, e com o numerário propriamente dito, como por exemplo, deixando que haja demolições, negociando bons e jovens valores a preço de banana, contratando pencas a peso de ouro, não contratando empresas de segurança para guardar o produto da arrecadação nos jogos. Mas, pelo jeito, tá difícil, pois enquanto tudo de ruim acontece, tá difícil. O Clube segue com focos diversos, como por exemplo, investindo em futebol americano ou jogando cortina de fumaça através do recurso ao tribunal desoortivo.

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  5. Dr. Ronaldo Passarinho, o nosso amigo colunista é testemunha de que também prego o mesmo discurso há anos e de que sempre prezei por um planejamento estratégico e financeiro enxuto, sem exorbitâncias, dentro de um equilíbrio financeiro, aproveito o espaço para ressaltar que sempre admirei os seus comentários e posicionamentos acerca da situação do nosso amado Clube do Remo. Prezado amigo Antonio, concordo com a política de austeridade nas contratações, um ou dois “estrangeiros” poderiam vir a calhar, desde que seus salários não fossem exorbitantes (pois isso traria conluio dentro do plantel) e que houvesse um critério baseado em uma medida de desempenho nas contratações em comento.

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