
“O homem é do tamanho do seu sonho” (F. Pessoa)
POR RICARDO FLAITT, no LANCE
Ao mesmo tempo em que as redes sociais democratizaram os canais de comunicação, complexas e contraditórias, assim como se constituem os seres humanos, revelaram também o que há de melhor e pior na sociedade.
A corda da liberdade concedida pelo mundo virtual transformou-se, em muitos casos, no cadafalso para que as pessoas fossem condenadas por um tribunal inquisitorial virtual imenso, formado por milhões. Neste ponto, intrigante, o comportamento humano faz convergir dois tempos da história: a Idade Média, que queimava as pessoas em praças públicas; e o contemporâneo, que queima pessoas em redes públicas.
Getterson, jogador contratado pelo São Paulo, é a mais nova vítima do Tribunal da Inquisição Virtual. Foi julgado e condenado por ter, no passado, postado twitters exaltando o Corinthians, rival do São Paulo.
Não se julgou se o rapaz realmente joga bem, se realmente tem capacidade para compor o elenco do São Paulo. Getterson foi condenado por, no país do futebol(?), ter um time de coração.
Talvez ainda mais cruel que dispensá-lo pelas postagens nas redes sociais foi aniquilar o sonho de uma vida. Coloquemo-nos em alguns momentos no lugar de Getterson: você é jogador de futebol, vem de origem simples, luta como todo trabalhador para ter um futuro decente, a oportunidade de jogar em um grande clube aparece, seu coração palpita, o sonho ganha traços de realidade, e tudo cai por terra devido a besteiras de conversas de boteco, brincadeiras que fazer parte do futebol…
Com isso, o mundo real sucumbiu ao mundo virtual. A idiotice venceu o bom senso e o discernimento. Sem exageros, a atitude da diretoria do São Paulo contra o rapaz, contradiz toda a pantomima quando se posicionam pela paz no futebol.
O rapaz foi demitido por torcer pelo Corinthians e ter se referido ao São Paulo como “bambi”, apelido que a torcida não gosta, mas é justamente por isso que TODOS zoam. E a zoeira faz parte do futebol.
A diretoria do São Paulo deveria, em gesto nobre, rever a atitude infundada, e dar a oportunidade a Getterson, evitando que se arruíne a vida do rapaz. Que a famosa referência no São Paulo, dos “cardeais”, sejam pela grandeza e não por uma postura inquisitorial.
Ao contrário daqueles que se deixaram influenciar pelos inquisidores virtuais, digna foi a postura de Bauza, que teve a coragem de dizer, nas tribunas das ensaiadas coletivas, que tudo isso era uma grande besteira e que o jogador deveria ficar. Palmas, em pé, para Bauza. Abaixo a babaquice no futebol, e na vida.
Getterson, neste momento, bem que poderia postar o “Poema em Linha Reta”, de Fernando Pessoa, em suas redes sociais:
POEMA EM LINHA RETA
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Pois é, e cá entre nós:
1. até bem pouco tempo havia na porta de entrada do Mais Querido, na avenida Nazaré, a proibição de ingresso na Sede vestindo a camisa de outro Clube. Conscientes da barbaridade retiraram a ordem escrita, mas certamente ela ainda vigora;
2. o jornalista do EI está proibido de entrar na sede do listrado porque tirou um sarro com o Clube.
Será que vale a Lição de Pessoa para estes dois casos?
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Certamente. Mas o mal se alastra, amigo Oliveira. O Palmeiras não permite camisas ou símbolos corintianos em suas dependências. No Rio Grande do Sul, Grêmio e Inter aplicam a mesma ordem draconiana. Complicado.
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Este caso mostra bem como os dirigentes agem como torcedor fanático
Está se olhando o passado do rapaz e julgando no presente de forma esdrúxula
Amigo Antonio, no caso das camisas, acho isso um absurdo, o futebol deveria agregar e não invocar o mal
Claro que no caso de rivais, aí sim, a proibição nem precisaria, o simancol bastaria
No caso do Puget, ele sabe que errou
Liberdade tem pra torcer pra quem quiser, cantar o hino que quiser, mas cantar de forma desrespeitosa a uma instituição que como jornalista ele deve total respeito, até porque ele não repórter humorístico e nem setorista do rival desse clube
É o caso de em vez de haver corporativismo, exigir dele profissionalismo
Ronaldo Porto que é um remista assumido, mas é um cara sério fez isso, condenou a atitude dele.
Agiu corretamente a diretoria neste caso, até preserva ele de algum ato hostil e violento por parte desse ou aquele fanático pelo clube
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Amigo Antonio Oliveira é um prazer debater com vossa senhoria e deixe eu me meter nessa prosa e tentar responder o que você perguntou ao Gerson Nogueira. Antes digo que já li a bela mensagem do Pessoa e sei da polêmica do atleta. Então antes de tudo para não cometer injustiça é necessário analisar detalhadamente cada ato, quem praticou , contra quem praticou e porque praticou o ato polêmico que chamou a atenção de muita gente. Aí deve analisar se cabe ou não punição. Não se deve jamais ou pensar em vingança. Começando pelo bicolor onde vs citou o jornalista do Ei, o qual sei quem é, cujo mesmo não entra mais nas dependências do clube, eu sinceramente acho que a punição foi merecida. Não foi vingança. Quem quiser saber os motivos que justificam a atitude da diretoria bicolor, é só rever o vídeo nas redes sociais que o cara montou e postou. Mas adianto para bicolor que não viu, que o vídeo é duro duro de assistir porque ofende diretamente a Instituição Paysandu, diretoria da época, torcida etc. Até o Wandick presidente na época, conhecido como homem pacato, sério e que não se mete nessas baixarias torcedor, foi ofendido moralmente no vídeo várias vezes taxado de “pamonha”. So vendo o vídeo para crer. Tem um apelido contra a Instituição Paysandu que está na boca de azulinos o qual provém desse vídeo. Aí digo que se isto partisse de torcedor comum, anônimo já seria ruim de aturar, imagina vindo de um homem público, conhecido, que milita na área esportiva, era comentarista do canal de transmissão de jogos inclusive do Paysandu???? não cabe essa “brincadeirinha” como tentou se justificar. O cara pisou feio na bola. faltou-lhe ética profissional mesmo reconhecendo que ele e qualquer profissional de imprensa tem direito de ter seu clube de coração e muitos tem. . Mas tem de ter ética. Não pode misturar as coisas, principalmente diante dos microfones. Isso não pega bem. A punição da diretoria bicolor a ele foi merecida. E como foi punição e não vingança ainda é possível voltar atrás. Mas para isso ele tem de se retratar por escrito da mesma forma, até porque a diretoria é outra, não custa nada.
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Não sabia, amigo Nélio, que este video não é atual
Mas que não diminui a gravidade da ofensa
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Outra amigo Antonio Oliveira, você sabe que o profissionalismo é uma das bases de sustentação forte para quem quiser seguir carreira profissional de sucesso em qualquer profissão. Espírito amador não chega a ligar nenhum e quando chega é por sorte, ou passando por cima dos outros. Isso vale demais e acho um princípio fundamental para atletas de futebol onde a carreira, é curta por natureza, é instável porque o cara pode ser craque é ídolo em certo clube, mas basta o time dele deixar de ganhar uns jogos para a torcida virar contra ele e pedir sua a cabeça. Então o cara precisa estar preparado para defender com profissionalismo esse clube que ele está hoje, praticar na medida do possível seu bom futebol, mesmo porque ele ganha para isso e deixar toda e qualquer sarro ou picuinha para torcedor. o Atleta definitivamente não deve pegar corda de torcedor e dirigente e se meter nessas ondas e baixarias. Vc Antonio como homem inteligente sabe melhor que ninguém disto. Então jogador que deixa de ser profissional e pega corda de torcida, cedo cedo sucumbirá da pior forma possivel. O profissiolismo não perdoa amadorismo.
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No caso da do remo proibir pessoas com camisas de outros clubes na sede azulina, aí não cabe mesmo e é ditatorial mesmo porque o mentor azulino disso já foi visto em redes sociais com camisa de pelo menos 3 clubes que não o Remo. Além disso o clube pode ser entidade privada, mas suas dependências sociais assumem algumas vezes características de pública dependendo do evento e ele não pode impedir o direito de ir e vir das pessoas, a não ser que o cara vá e faça baderna ou coisa parecida ou tenho faltado com respeito à instituição como fez um jornalista local contra o Paysandu. Mas impedir acesso só porque o alguém está com camisa de outro time é ridículo onde o cara está ignorando que em quase todas as melhores famílias inclusive na dele existem mistura de torcedores bicolores, azulino e que ainda torcem por outros times do Brasil.
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