POR GERSON NOGUEIRA
Um executivo de clube grande, com grande experiência de negociação com técnicos e jogadores, analisava ontem pela manhã a sinuca em que o Remo estava metido no afã de contratar um novo técnico. Comentou com a coluna, por telefone, que não se surpreenderia se no final o clube acabasse se contentando com um nome novo, com pouca rodagem no futebol brasileiro e custando um pouco menos do que os treinadores do chamado nível médio – Flávio Araújo, Léo Condé, Marcelo Chamusca, Marcelo Villar, Tarcísio Pugliese e outros. E, para trazer um profissional, talvez fosse mais sensato ter permanecido com Cacaio.
Sem querer, ele acabou acertando em cheio. O Remo – se não houver nova reviravolta – deve anunciar hoje Leston Izaías Junior como seu novo técnico. Aos 38 anos, é um profissional da nova geração, contemporâneo de Dado Cavalcanti e Sidney Moraes. Vem recomendado pela conquista do acesso à Série B pelo Tupi de Juiz de Fora (MG) e pela boa campanha na Copa do Brasil.
Curiosamente, vêm também de Minas as notícias menos lisonjeiras sobre o técnico. Segundo a imprensa esportiva mineira, Leston foi demitido pela diretoria do Tupi logo depois de obter o acesso por dois motivos: o técnico seria excessivamente retranqueiro e teria contra si a suspeita de empresariar jogadores veteranos.
Como não há nada que se possa afirmar sobre ele, além desses comentários, Leston Junior deve ser observado pelo que realmente representa. É uma verdadeira novidade, pois tem currículo ainda pouco vistoso. Começou como treinador das divisões de base do Cruzeiro, Flamengo-MG, América-MG e Bahia.
Há quatro anos passou a dirigir equipes profissionais. Passou pelo Inter de Bebedouro, Olímpia-SP, Guarani de Divinópolis, Madureira-RJ e Tupi. Sua melhor performance foi justamente no time de Juiz de Fora. Por ironia, as críticas mais fortes ao seu estilo surgem de lá. Reluz em seu currículo a ausência de experiência em clubes de massa, detalhe importantíssimo para quem assume o comando de um dos mais populares times do Norte.
Depois do fracasso das negociações com Marcelo Chamusca, não restavam muitas alternativas ao Remo no mercado. Quase todos os bons técnicos de salário na faixa de R$ 40 mil já estão empregados. Continuam livres alguns que insistem em negociar valores maiores, ajudados por empresários argutos que se aproveitam da inexperiência de dirigentes.
Quando essa combinação funesta – empresários de técnicos + cartolas de primeira viagem – entra em cena a tendência é que o clube acabe se dando mal. Não se pode dizer que o Remo fez a escolha errada, mas é inegável que a diretoria nunca incluiu Leston Junior em sua lista de prioridades.
É quase certo que a menção a seu nome tenha surpreendido muita gente no primeiro escalão azulino. O mesmo ocorreu em relação aos torcedores, cuja imensa maioria jamais havia ouvido falar em Leston. Muitos, inclusive, de imediato lembraram do ex-técnico Cacaio, descartado por não ter a experiência necessária para encarar a Série C.
Cabe ao novo contratado – ressalvando sempre que no Remo atual as notícias podem sempre mudar a qualquer momento –, chegar e mostrar trabalho. Terá como primeiro grande desafio pela frente montar o elenco para o começo da temporada com um orçamento dos mais modestos.
A segunda empreitada difícil para Leston será encarar um campeonato estadual que é diferente dos demais disputados pelo Brasil. Aqui, a competição é jogada sob muita chuva, com campos pesados e de péssima qualidade. Isso requer um perfil diferente de jogadores, preferencialmente adaptados às condições locais.
Há quem avalie que o Parazão não deve ser a prioridade do Remo, que tem torneios mais importantes a disputar na temporada. É apenas meia verdade. Quem conhece as nuances do futebol paraense sabe que se o técnico, qualquer um que seja, não for bem sucedido no Parazão dificilmente chegará às competições do semestre.
————————————-
Vergonhosa exibição de anti-futebol
A primeira partida da final da Copa do Brasil, anteontem, expôs bem a realidade do futebol praticado hoje no país. Santos e Palmeiras, duas equipes da primeira divisão nacional, se lançaram ao confronto com a voracidade e a pouca técnica de peladeiros de fábrica. Os dois times passaram mais da metade do jogo distribuindo coices e voadoras. Isso quando não se dedicavam a atormentar a arbitragem com reclamações sem sentido, apenas com o objetivo de tumultuar.
Ao final, pouco mais de 44 minutos de bola rolando. Um autêntico recorde nacional em jogos de campeonatos de ponta. Feio, muito feio.
O pior é que os jogadores saíram de campo ainda dispostos a brigar, empurrando-se uns aos outros e lançando provocações. Jogadores de várzea não conseguiriam fazer pior.
Do pouquíssimo tempo de jogo propriamente dito pode-se extrair dois ou três lances. Um deles o golaço de Gabriel, driblando dois adversários e chutando fora de alcance do goleiro Prass. Outra jogada digna de menção foi do lateral Vítor Ferraz, ex-Águia, que entrou fintando na área e deu um passe perfeito para Ricardo Oliveira chutar em cima do goleiro. Alguns dribles de Lucas Lima, e só.
Do lado palmeirense, apenas luta, transpiração e (principalmente) pancadaria. Eram tantas rasteiras e carrinhos que seria praticamente impossível o time terminar completo. Não deu outra: o lateral Lucas acabou expulso por um pontapé em seu xará santista.
Caso o jogo de volta seja no mesmo nível, o mais correto seria encerrar a competição sem vencedor. Sim, porque futebol é outra coisa.
Já se faz necessário que se perca a noção equivocada, emprestada de rivais sul-americanos, de que há mérito em vencer de qualquer jeito. Bobagem. Só há valor real nas vitórias categóricas, incontestáveis e baseadas no talento. Quando um título nasce de outra forma, sem brilho, rapidamente cai no esquecimento.
————————————-
Papão fecha as contas do ano
Em silêncio, como convém a essas providências, o Papão já quitou todos os salários de jogadores e funcionários. De quebra, acaba de acertar as rescisões com o elenco, pagando mais de R$ 1,1 milhão nas negociações. É um jeito novo de gerir futebol por aqui, com zelo e seriedade, pagando o que deve e evitando futuras batalhas jurídicas.
Que o exemplo frutifique.
(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 27)