POR GERSON NOGUEIRA
O Papão, que já não teria Ricardo Capanema (suspenso) para o jogo desta noite, perdeu peça ainda mais decisiva: Leandro Cearense, um dos artilheiros do time na competição, não poderá jogar. O atacante sofreu lesão na coxa durante o confronto com o Mogi Mirim e está de volta ao departamento médico.
Sem seu centroavante titular, a opção natural de Dado Cavalcanti para o ataque é Betinho, que jogou em Mogi e fez o gol bicolor, aproveitando cruzamento de Cearense. Como é jogo para ganhar de qualquer maneira, Dado deve lançar três homens na frente, escalando Welinton Jr. e Aylon (ou Misael) ao lado de Belém.
É a alternativa mais ofensiva que o Papão pode ter a essa altura, embora não se localizem exatamente no ataque os principais problemas da equipe.
As dificuldades encontradas pelo Papão nas últimas rodadas, chegando a ficar seis jogos sem vencer, concentram-se na parte criativa do meio-de-campo. Mesmo tendo vários jogadores para executar a função de organizador (Carlinhos, Valdívia, Carlos Alberto, Edinho, Léo e Roni), Dado não se sente seguro para efetivar qualquer um dos citados.
Todos os seis meias tiveram chances para agarrar a posição, mas não conseguiram convencer. Carlinhos e Carlos Alberto foram os mais utilizados, sempre deixando a desejar e até comprometendo o equilíbrio tático do time. Valdívia chegou depois, mas passa mais tempo lesionado do que jogando. Roni e Edinho não são exatamente jogadores de armação, preferindo conduzir a lançar a bola. Léo é o maior enigma. O campeonato está terminando e não se sabe exatamente o que ele faz em campo.
Para encarar o Luverdense-MT, Dado deve contar com Valdívia, que foi o meia que menos errou quando escalado como titular. Sabe controlar o jogo, tem boa visão e peca apenas pela falta de maior intensidade e aplicação.
Com ou sem Valdívia, é certo que o meio será complementado com os volantes Fahel e Augusto Recife. Jonathan, apesar das boa atuações, não conseguiu agarrar a titularidade, embora possua recursos técnicos que lhe permitiriam jogar mais à frente – como ocorreu algumas vezes quando jogava no Remo.
Além de Jonathan, um outro jogador talvez pudesse ser testado naquela faixa de campo onde o talento e a habilidade falam mais alto. Refiro-me a Pikachu, que enfrenta espaço cada vez mais reduzido na lateral direita devido à dura marcação que sofre. Contra o Mogi foi acompanhado o tempo todo pelo lateral-esquerdo Dieguinho.
Apesar de reunir atributos técnicos que o habilitam a jogar como meia-armador, a dificuldade de remanejar Pikachu para o centro do campo está na própria resistência do jogador em atuar por ali. Sempre que foi deslocado, por Lecheva e depois por Mazola Jr., mostrou inibição e desconforto. Além disso, pelo que se sabe, Dado jamais o testou ali nos treinamentos. Uma pena. Em todo o elenco do Papão não há outro jogador com características tão compatíveis com o ofício de criar jogadas.
O fato é que a penúltima apresentação do Papão em Belém requer esforço, entrega e comprometimento. Mesmo que as chances de acesso sejam remotíssimas, o time tem a obrigação de construir um digno encerramento de campanha e de brigar por uma boa colocação no campeonato.
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Última vaga é disputada por 4 nordestinos
A batalha pela última vaga de acesso à Série A vai sacudir a Segundona neste final de semana. Considerando que Botafogo (68 pontos), América (63) e Vitória (60) já se garantiram, resta a Santa Cruz (58), Sampaio Corrêa (57), Náutico (56) e Bahia (55) a batalha sangrenta pelo último lugar no bonde.
Dos quatro, Santa e Sampaio parecem mais fortes a essa altura, sendo que o Coral pernambucano tem uma rota mais favorável. O Náutico ensaia uma arrancada fulminante e o Bahia parece ter perdido definitivamente o gás.
A conferir.
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Del Nero e o pavor do xilindró
O todo-poderoso presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, ingressou com um pedido de habeas corpus preventivo no Supremo Tribunal Federal. Está com medo de vir a ser enjaulado durante o depoimento que irá prestar à CPI do Futebol no Senado, em Brasília.
Motivos não faltam para tal receio. O FBI mantém Del Nero – ao lado de Ricardo Teixeira – no topo da lista de cartolas a serem presos por falcatruas com o dinheiro gerado pelo futebol. Depois que José Maria Marin foi em cana, nenhum dirigente do alto escalão da CBF consegue dormir em paz.
Coincidência ou não, a solicitação de Del Nero será analisada no STF por ninguém menos que Gilmar Mendes. Pelo histórico do ministro, é bem provável que o HC lhe seja concedido, mas persiste a dúvida: até quando ele vai conseguir driblar a sempre atenta polícia federal norte-americana?
Olha, nunca aquela filosofia do folclórico Dimas Teles esteve tão atual: quem tem, tem medo…
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Argentina e Brasil buscam afirmação
Caso a chuva permita, Argentina e Brasil se enfrentam hoje pelas eliminatórias à Copa do Mundo de 2018 com responsabilidades (e aflições) parecidas. O maior clássico das Américas pode relegar o perdedor às últimas posições na classificação, principalmente depois da terceira vitória consecutiva do surpreendente Equador.
Sem Messi, Aguero e Tevez, a Argentina perde muito de sua capacidade ofensiva, tornando-se um time quase comum. Já a presença de Neymar faz o Brasil esconder melhor suas próprias limitações.
Ocorre que os argentinos, mesmo desfalcados, são sempre competitivos e impõem respeito jogando em casa. É bom não esquecer também que a seleção deles chegou à final da Copa 2014 pelos méritos de seu sistema defensivo.
Já o Brasil está na chamada encruzilhada do destino. O time foi remontado por Dunga, mas ainda não adquiriu consistência e passa a impressão de não saber o que faz em campo. Ganhar da Argentina pode dar o impulso e a confiança para crescer na competição.
(Coluna publicada no Bola de sexta-feira, 13) 