POR GERSON NOGUEIRA
Pertenço àquele grupo de pessoas que em nenhum momento se surpreendeu com o papelão que a Seleção Brasileira vem fazendo na Copa América em gramados chilenos. Acompanhar os amistosos vencidos burocraticamente pelos comandados de Dunga, que representam a decantada nova geração do futebol do Brasil, foi suficiente para antever as agruras que o torneio sul-americano iria oferecer ao escrete.
Quando Neymar salvou o time no jogo com o Peru, fazendo um gol e dando passe precioso para outro nos acréscimos, ficou evidenciada de novo a tal Neymardependência. Como já ocorria na Copa do Mundo, fato confirmado pelo estrago que seu afastamento causou à equipe na ocasião.
Veio a peleja contra a Colômbia na quarta-feira e aí tudo que de ruim se falava da equipe de Dunga teve confirmação pública, com papel passado e tudo.
O time não existe, é um mistão de jogadores pouco talentosos. O Capitão do Mato catou o que há de mais representativo da atual geração de boleiros. Fred, Douglas Costa, Roberto Firmino, Philipe Coutinho. Alguns não tão novos assim – Willian, Fernandinho, Robinho, Filipe Luís, Diego Tardelli, Daniel Alves, Elias. E Neymar, obviamente.
O truque era juntar operários em torno do único talento que temos. Não deu certo porque os operários de agora não conseguem ajudar ninguém, por mais que se esforcem – e eles até se esforçam bastante.
A questão é que o futebol sempre foi mais jeito do que força, que o digam Gerson e Romário, para ficar em craques de épocas e posições diferentes. Por privilegiar os jeitosos, o esporte sempre nos favoreceu. Legiões de craques nasceram aqui, e brilharam pela habilidade incomparável.
Em transformação radical, o manancial de craques foi secando e hoje não existe mais a antiga fartura. Na verdade, a bonança começou a rarear já no final dos anos 80. Mesmo assim, ainda foi possível ganhar duas Copas, a partir de fenômenos isolados e bons coadjuvantes. Em 1994, Romário comandou a campanha, auxiliado por Bebeto, Mazinho, Zinho e Branco, dentre outros. Em 2002, Ronaldo e Rivaldo deram conta do serviço.
Depois disso, por motivos variados, não mais foi possível montar nem mesmo exércitos de um homem só.
No ano passado, na Copa das Copas, havia Neymar. Ainda verde demais para uma competição tão importante e exigente. Neymar que havia sido deixado de lado (com Ganso) por Dunga em 2010. Naquele mundial, o Capitão do Mato tinha o “grupo fechado” e não teve olhos para reparar nos garotos que comiam a bola no Santos.
Neymar estava indo bem, apesar do fraco time formado por Felipão. Mesmo que não tivesse sido golpeado por Zuniga naquele fatídico jogo, dificilmente seria capaz de levar o Brasil muito longe na Copa. Desta vez, vitorioso nas batalhas europeias, ele chegou em alta na Copa América. Deu azar de ter ao lado jogadores ainda piores do que no Mundial.
Imagine o desalento do jovem atacante ao olhar em volta e se deparar com uma linha de meio-campo cuja base é o Shaktar. Pelas barbas de Netuno, o Shaktar! Fred, Fernandinho, Douglas Costa e Willian (hoje no Chelsea). Fernandinho, por sinal, não devia nem ser lembrado depois daqueles erros toscos que ajudaram a Alemanha a construir o 7 a 1.
Desconfio que, além dos rolos que envolvem problemas com o Fisco e a compreensível bronca em relação à Colômbia, sua fúria desmedida foi também um protesto por estar tão mal acompanhado na Seleção, além de ter aturado inúmeras provocações, inclusive do próprio Zuniga.
Com o gancho de quatro jogos, Neymar deixa a Seleção de novo em momento delicado. E Dunga se volta outra vez para o “grupo fechado” de boleiros amestrados. Pode ser até que inicie hoje uma arrancada vertiginosa rumo ao título, afinal o futebol também é caprichoso e brincalhão, mas esta Seleção é um retrato claro da ausência de talento. Como talvez nunca tenha sido visto antes em selecionados brasileiros.
É grave a crise.
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Sem Neymar, qualquer adversário assusta
Philippe Coutinho é o provável substituto de Neymar. No treino de sexta, foi utilizado por Dunga para executar a mesma função do titular no confronto decisivo diante da briosa Venezuela, neste domingo. Coutinho tem habilidades, está bem acima dos egressos do Shaktar, mas não parece capaz de segurar a barra de substituir Neymar, cuja suspensão representa um adeus à competição.
No ano passado, Felipão optou por Bernard, aquele que teria alegria nas pernas. Coutinho pode não ter essa virtude rara, mas sabe jogar. Pena que pareça sempre tão acanhado na Seleção.
Imaginava-se que o substituto natural de Neymar fosse Robinho. Dunga parece não pensar assim. Deve insistir com Tardelli (ou Firmino) e Coutinho. Como o adversário tem uma defesa pouco mais que bem-intencionada, é provável que a Seleção obtenha a vitória salvadora.
Aliás, houve um tempo em que a Venezuela era mais conhecida pelo fato esquisito de ser o único país sul-americano que tinha (e tem ainda) o beisebol como esporte favorito. Mesmo adorando a bola em formato de cacau, eles já deixaram a condição de exóticos e agora ameaçam a confusa tropa de Dunga. É, literalmente, de assustar.
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Bola na Torre
O programa terá Guerreiro na apresentação, Tommaso e este escriba de Baião na bancada, tendo como convidado o atacante Aylon, do Papão. Começa por volta de 00h10, depois do Pânico.
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Galinho na área
Candidato declarado à eleição da Fifa, o ex-jogador Zico chega na quarta-feira, 24, para o lançamento da I Copa e do I Congresso de Educação e Esporte Zico 10, eventos que serão realizados em agosto deste ano em Vitória do Xingu, oeste paraense, onde o Galinho mantém projeto com o município para atender crianças da comunidade. No Brasil, são mais de 100 crianças incluídas nas ações em parceria com prefeituras.
Em Belém, Zico vai atender os jornalistas e participar do jogo entre Masters do Remo e Amigos de Zico.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 21)