POR GERSON NOGUEIRA
Ouvi um comentarista televisivo dizer que faltou audácia ao Brasil. Não, faltou futebol. Contra um limitadíssimo time peruano, a Seleção Brasileira confirmou o que já sabemos desde aquela vergonhosa peia de 7 a 1 (sim, sempre precisamos falar disso, para que ninguém esqueça).
Foi um time atrapalhado, como já havia sido nos últimos amistosos. Capaz de errar passes curtos e sem ter um jogador que lembre mesmo de longe aqueles armadores de verdade, como o Brasil já produziu às dúzias em outros tempos.
A vitória sofrida, com gol aos 46 minutos, veio mais pela ação individual do único craque em campo, que vislumbrou um companheiro desmarcado lá do outro lado da área e teve a competência necessária para enfiar a bola entre os zagueiros. Sem Neymar, o Brasil de ontem poderia ter sido tranquilamente derrotado pelo Peru, e não seria um resultado absurdo.
Os erros começam pela defesa, com David Luiz novamente inseguro e espalhafatoso, contribuindo para o gol de abertura dos peruanos. Por sorte, logo a seguir Neymar planejou e executou a jogada que redundou no empate. Lançou bola na direita e foi receber na área, livre de marcação, deslocando para as redes.
O restante da partida foi um castigo para os olhos de quem se acostumou a gostar de futebol pelas jogadas inspiradas, pelos dribles e lançamentos perfeitos. Deu saudades até da troca de passes, algo primário em futebol, pois isso a Seleção de Dunga não faz mais.
O jogo é sempre forçado em direção à área, mas sem criatividade ou organização. Willian, que aparece naquela zona do campo por onde normalmente os meias circulam, é intranquilo e parece ausente, pensando longe. Erra metade dos passes que dá, não consegue completar uma finta e chuta mal, como no lance em que bateu sobre um zagueiro quando o gol peruano estava escancarado.
Se o organizador do time tem perfil tão fraco, dá para imaginar os beques, os laterais, os volantes e os atacantes. Só escapa Neymar, cujas insistentes reclamações irritaram o árbitro no primeiro tempo e podem ser entendidas como impaciência com os companheiros ruins de bola. Qualquer um se aborreceria com tantos erros, com os passes que chegam muito à frente ou muito atrás, jamais perfeitos.
Dunga jacta-se de um recorde admirável – para ele. Onze vitórias consecutivas desde que o Brasil de Felipão saiu da Copa. A longa invencibilidade parece uma façanha, mas é pura fachada. Pegou pouquíssimas seleções de ponta pela frente. A maioria das vitórias foi na base do 1 a 0 e 2 a 1, refletindo a indigência ofensiva do time.
Dunga deve estar muito feliz com o jogo que a Seleção anda mostrando ao mundo. O Brasil não podia estar mais infeliz com a pobreza técnica do time. Aos trancos e barrancos, pode até vir a ganhar a Copa América, mas o futebol que exibe é feio e triste. Neymar é a notável e solitária exceção e dificilmente uma andorinha só faz verão.
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Um gigante que passou pelo meio-campo
Zito, o homem que segurava as pontas e ditava o ritmo no meio-campo do Santos e da Seleção Brasileira, morreu ontem à noite. Era um médio, função que nem existe mais hoje, substituída pelos volantes de corte mais grosso.
Como não sentir saudade de seu futebol objetivo e técnico, que foi fundamental nos primeiros títulos mundiais do nosso futebol e que geraria anos depois o surgimento de um Clodoaldo atuando na mesma faixa?
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O Remo na hora da verdade
Foi divulgado às 9h39 de ontem pelo conselheiro Heitor de Souza Freitas Filho o relatório final da comissão investigativa que apurou as denúncias de “gestão temerária” do ainda presidente do Clube do Remo, Pedro Minowa.
Na mensagem aos jornalistas, Heitor faz questão de observar que “as denúncias estão comprovadas, ensejando a aplicação da pena de destituição, no que pese a tal comissão ter se investido do poder de julgar e sugerir a ridícula pena de suspensão por 180 dias, enquadrando a situação como se fosse tão somente um associado”.
Acrescenta que o “relatório obrigatoriamente vai para julgamento da Assembleia Geral, que certamente aplicará a punição solicitada por mim e pelo Conselheiro André Cavalcante. Não peço sigilo e vocês podem informar a fonte”.
A correta posição assumida por Heitor descortina o que deve ocorrer na Assembleia Geral, já devidamente ciente das falhas graves cometidas tanto na gestão de Zeca Pirão quanto na de Pedro Minowa.
O que Heitor acentua é a necessidade de uma punição rigorosa dos dois gestores, com especial atenção para o atual, cuja administração se mostrou lesiva aos interesses do Remo. Os erros se acumulam desde janeiro em proporção assustadora, que pressupõe um cenário calamitoso caso o Condel e a Assembleia Geral não freiem as coisas.
A comissão optou por um caminho tortuoso, de abrandar as penas, preferindo avaliar os gestores como meros associados. Não são simples associados, pois foram eleitos para presidir a agremiação e não cumpriram satisfatoriamente suas gestões.
Cabem medidas que sejam compatíveis com o tamanho dos erros e que sejam exemplares para a vida futura do Remo. É fundamental que o Condel faça como no Campeonato Paraense, quando interveio e conseguiu apagar o incêndio, pagando salários de jogadores no período decisivo da competição.
Não é hora de omissão. Associados do clube, bem como a torcida, esperam que providências sejam tomadas de imediato.
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A travessia do grande Brant
Fernando Brant, um grande compositor da nossa música popular mais qualificada, nos deixou na sexta-feira, 12. A coluna de hoje é dedicada a ele, autor de versos como estes, de “Bola de Meia, Bola de Gude”, com os quais sempre me identifiquei muito:
“Há um menino, há um moleque/ morando sempre no meu coração. Toda vez que o adulto fraqueja/ Ele vem pra me dar a mão.”
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 15)
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