Um passeio alviceleste

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POR GERSON NOGUEIRA

Foi pouco. Pelo que o Papão produziu durante o primeiro tempo, o placar deveria ter sido bem mais dilatado. O 3 a 1 retrata a tranquila superioridade no jogo, mas não é revelador do que foi a pressão avassaladora dos primeiros 20 minutos, quando o ataque alviceleste fez um gol e perdeu três. No segundo tempo, o Remo voltou a sofrer gol logo de cara e se perdeu de vez. Ainda descontou, mas levou o terceiro logo em seguida.

A tarde foi inteiramente favorável ao Papão no Mangueirão. A vitória se desenhou logo nos primeiros instantes, fato raro em clássicos. Não pelo placar de 1 a 0, plenamente reversível, mas pelo espírito vencedor que o Papão trouxe para o confronto.

Enquanto o Remo parecia hesitar até nos arremessos laterais, o Papão verticalizava o jogo. Os volantes Augusto Recife, Ricardo Capanema e Jonathan participavam intensamente das ações de bloqueio e não permitiam qualquer esboço de reação por parte dos remistas, que só deram o primeiro chute aos 19 minutos, com Val Barreto.

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Antes disso, Bruno Veiga e Aylon já tinham aprontado o diabo na defesa azulina, incluindo uma bola na trave logo depois do gol de Dão. Com volantes menos participativos do que os do adversário, o Remo encontrava imensas dificuldades para se estabilizar em campo.

Eduardo Ramos, o mais lúcido, sofria de isolamento crônico, retendo a bola excessivamente por falta de opção de tabelas ou triangulações. Val Barreto mal pegava na bola entre os zagueiros do Papão e era obrigado a cair pela esquerda, deixando o ataque despovoado.

Do lado bicolor, Bruno Veiga e Aylon não entrava na área, mas puxavam o jogo pelos lados, atraindo a marcação dos zagueiros e abrindo espaço para que Rogerinho, Pikachu e Marlon se arriscassem no ataque.

Dado Cavalcanti deu mostras de que observou muito bem o Remo e seus muitos defeitos. Notou, por exemplo, que o time de Zé Teodoro costuma entrar desplugado e apático. Ao longo do campeonato, o Remo cansou de evidenciar esse déficit de atenção. O Papão entrou preparado para explorar isso e se deu bem.

O reinício da partida no segundo tempo premiaria a capacidade de observação do técnico do Papão, pois na primeira incursão bicolor rumo à área nasceu o penal infantil cometido por Jadilson. Pikachu converteu e o time passou a administrar inteligentemente o 2 a 0, tocando a bola e exasperando um atabalhoado Remo.unnamed (16)

Sem encontrar um lugar para Bismarck, perdido entre os marcadores, e com Eduardo Ramos sobrecarregado com a dupla função de armador e atacante, o Remo mal trocava três passes. Expostos, os laterais Levy e Jadilson eram constantemente envolvidos pelas manobras de Pikachu, Jonathan, Veiga e Aylon. No centro da área, Ciro Sena e Igor João não escondiam a insegurança.

Imperturbável, o Papão conduzia a bola com passes curtos e rápidos, envolvendo todos os jogadores de meio e encontrando sempre alternativas pelos lados. O desenho de jogo, simples e óbvio, não era percebido por Zé Teodoro, que trouxe Flávio Caça-Rato para o lugar de Barreto. Rony substituiu Dadá. Como o time estava encaixotado pela melhor distribuição dos bicolores, nenhuma mudança de jogadores tinha como dar certo.

Quase ao final, Rafael Paty entrou no lugar de Bismarck para tentar o tradicional abafa. O Papão, acomodado, tocava a bola para os lados, deixando o tempo passar. Minutos depois, Levy foi empurrado por Romário e Paty bateu o pênalti, reanimando o combalido esquadrão azul.

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O gol reanimou o Remo. Havia tempo para pressionar em busca do empate imerecido. Ocorre que quem chegou ao gol foi o Papão. Aproveitando-se de seguidos erros de passe nas laterais, Bruno Veiga, Pikachu e Jonathan voltaram a rondar com perigo a área.

Em jogada nascida de um arremesso lateral, a zaga hesitou na marcação, Jonathan foi mais rápido e a bola chegou a Bruno Veiga, que bateu rasteiro no canto direito de Fabiano. Festa da torcida do Papão, feliz com a partida impecável de seu time e as mexidas certas de seu técnico. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)

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Veiga e Jonathan em tarde inspirada

O Papão jogou muito, fez por merecer o triunfo e isso deve ser atribuído ao excelente desempenho do conjunto, que se mostrou afiado e atento às orientações do técnico Dado Cavalcanti. Alguns jogadores, porém, estiveram em plano ligeiramente acima dos demais. Casos de Bruno Veiga, incansável nas investidas sobre a defesa remista; Augusto Recife, seguro como rocha em frente à zaga; e Jonathan, voltando aos bons tempos de quase meia-armador, esbanjando habilidade.

Veiga não perdeu uma disputa sequer com Levy e Alberto, seus marcadores mais constantes. Quase ao final, aplicou uma finta que fez Levy perder o equilíbrio e sair de campo. Marcou um gol em lance que combina bom posicionamento e perícia no arremate.

Jonathan foi quase perfeito atuando pelo lado direito do ataque, sem se descuidar do combate ao lado de Augusto Recife e Capanema, este mais dedicado a acompanhar Eduardo Ramos. No final da partida, antecipou-se aos dois beques do Remo e deu o passe para o gol de Veiga.

Augusto Recife fez o mais do mesmo. Quase não erra passes, mantém um estilo sóbrio e econômico, evitando se desgastar e ainda assim conseguindo impor marcação eficiente.

Do lado azulino, os melhores foram Fabiano, fazendo três excelentes intervenções; Bismarck, enquanto teve fôlego; e Eduardo Ramos, que, mesmo vigiado por Capanema e jogando sozinho, demonstrou lucidez e capacidade de organização.

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Papão renasce e Leão corre perigo

Em termos de campeonato, a vitória renasce todas as esperanças do Papão, que agora só precisará se impor dentro da Curuzu contra São Francisco e Parauapebas para chegar à semifinal do returno. Mais que isso: tira a equipe da desconfortável rabeira na classificação geral.

Por ironia, todos os demais resultados da rodada favoreceram o Remo, que não conseguiu se ajudar e agora se encontra em situação aflitiva, pois terá que decidir sua classificação dentro da Arena Verde, em Paragominas. Não precisa ir muito longe para descobrir o quanto o Remo se atrapalha jogando lá, ainda mais tendo Charles Guerreiro no comando do PFC.

Com sete pontos, o Remo precisa vencer para ir à semifinal. Um empate pode até servir, dependendo dos outros jogos, mas a derrota praticamente decreta a eliminação e o fim do sonho de chegar à Série D.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 30)

13 comentários em “Um passeio alviceleste

  1. Gerson, digo sempre que na minha idade, não sou pessimista nem otimista: sou realista. O Remo além se ser um time apático, não tem sistema de jogo nenhum. Bola alta na área é teste para cardíacos, como eu. O placar foi generoso para nós, pois sofremos um massacre de bola. Lembras que passei o ano inteiro de 2014, reclamando da falta de oportunidade ao Jhonatan ? Hoje tivemos a resposta.

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  2. Confesso que o passeio bicolor me surpreendeu. Pelo que o time do Paysandú não vinha produzindo e pela motivação que o time azulino tinha, principalmente pelo fato de que se vencesse o jogo, conseguiria dois fatos importantes, primeiro a classificação antecipada para as semi-finais e de quebra a eliminação do rival do campeonato paraense.
    Fui bastante pessimista em dar total crédito às possibilidades para o rival vencer o jogo de hoje com propriedade, mas, em jogo de Paysandú x Remo, tudo pode acontecer, e o de hoje, calou a minha boca!
    De fato, o Dado Cavalcanti estudou as fragilidades do adversário e nelas construiu todo o caminho para a vitoria bicolor. O placar, nem de longe revela o que foi a partida, que sem exagero nenhum, 5 x 1, ou 6 x 1, teria sido um placar mais justo pelo que produziu o Paysandú mas que esbarrou em sua falta de competência na tradução destas em gol.
    No próximo domingo teremos mais um RexPa, mais uma vez, a mística de que tudo é imprevisível, veremos o que irá acontecer na partida valendo pela Copa Verde.
    A vitória de hoje já deve ser arquivada e o ship carregado para uma nova competição!

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  3. papão sobreviveu ao seu maior secador o miguel angelo.

    vaticinou goleada do remo de 7 gols.

    isso mesmo: 7 gols em favor do remo.

    esse é sem duvidas o maior secador do papão.

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  4. Eu acreditava, antes da partida iniciar-se, em vitória do Esquadrão de Aço ! E tirei fotos, com a camisa, antes do jogo e postei em meu perfil do FB.

    PAPÃOOOO !!!!!!!!!!!

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  5. E eis que o Leão irá, novamente, morrer na Toca do Jacaré ! E com o Charles Guerreiro mordido por não ter recebido do CR, vai ser legal ver o Jacaré devorar o Leão. Como o CR entrará em férias, acho que seria bom o PAPÃO sondar sobre a contratação do atacante Roni, pra Série-B, pois o mesmo não é bem aproveitado pela Antônio Baena. No PAPÃO, o Roni destacar-se-ia !!!

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  6. Borges, pela bolinha que o Paysandu vinha jogando e pela largura que o rival estava levando em suas partidas não poderia esperar outra coisa, a forma sonolenta que o time bicolor tem se apresentado e mais ainda com a displicência de alguns dos seus principais jogadores não se poderia prever uma vitória alvi-celeste da forma como aconteceu. E nunca secarei o meu time, não seco nem o Remo, imagine torcer contra o meu Grande Bicolor Amazônico.
    Porém, a vitória de ontem não me iludiu não. O que vi em campo, foi um Paysandú, finalmente, aguerrido e com vontade de jogar bola, contra uma equipe que não entrou em campo.
    Diga-se que o Remo continuou exibindo suas mazelas que até então, não tinham sido aproveitadas pelos seus adversários.
    Lembre que vencemos do terceiro pior time do campeonato que antes da partida era apontado como favorito, teve louco remista que apostou em 12 x 0 para eles!
    O Paysandú ainda tem mais duas pedras pela frente, Parauapebas e São Francisco. E os times do interior estão em boa fase.
    Vamos aguardar para dizer que o ‘Esquadrão de Aço’ retornou!

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  7. Dr. Ronaldo, torci muito para que o Jonathan fosse contratado, e quando foi, elenquei ele como um dos principais reforços pra este ano.

    Com SC tava se acabando, chegou o Dado, viu o que já sabemos dele, e taí o garoto só começando a brilhar, vem muito mais.

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