POR FERNANDO BRITO
A única ditadura que existe, mesmo, no Brasil, é a da mídia. Estamos em tempo de ruas cheias, fervor cívico, indignação popular contra a corrupção, não é?
O que diz Alberto Youssef, o ladrão que virou oráculo da verdade é o bastante para demolir reputações, prender, quase para linchar alguns.
Alguns, mas não a outros.
Os grandes jornais fizeram silêncio quase absoluto diante do vídeo em que ele expõe a informação que Aécio dividia com o PP as “mesadas” de uma diretoria de Furnas.
Um ou outro, discretamente, fala num “ouviu dizer”, “suposto”, “alega” e outros melindres que jamais se fez em relação a qualquer outro.
Um vago “sabiam” em relação a Lula e Dilma deu capa da Veja na véspera das eleições.
O “Aécio levava US$ 100 mil” por mês dá notinhas evasivas.
E olhem que não é um “vazamento”, não é o trecho de um documento, mas um vídeo, com toda a sua carga chocante.
Mesmo interrogado por um promotor que, além de “trocar” diversas vezes o nome de José Janene por José Genoíno – ah, o que vai na alma de nossos promotores! – não se preocupa em perguntar que diretoria, em que negócios, e outras informações objetivas, o vídeo é mais que notícia, seria manchete em qualquer país onde houvesse uma imprensa livre e independente.
Afinal, é um candidato presidencial, “dono” de 51 milhões de votos, que é diretamente acusado de receber propinas.
Vejam bem: não doações para a campanha eleitoral, mas “mesada”!
Mais, de uma empresa que tinha em seu Conselho de Administração ninguém menos que o pai de Aécio, Aécio Ferreira da Cunha, que ficou lá no Governo Fernando Henrique Cardoso e nos primeiros anos do governo Lula!
Isso não merece sequer investigação, não é, Dr. Janot?
Não precisa mais censor.
O seu direito de saber dos fatos, agora, está completamente vinculado a que seja da conveniência do cartel da mídia.
Ou de que você os procure em matérias pequenas, no meio do texto ou em referências esparsas.
Não se trata mais de “parcialidade”.
É silêncio.
Se alguém quer saber como é que uma ditadura encobre a corrupção, olhe para o que está acontecendo.
Se há malfeitoria, se é no governo atual que tudo é apurado, nada vai pra debaixo do tapete, se as autoridades têm autonomia e independência pra investigar, apurar, tudo e quem quer que seja, sem qualquer interferência do governo quanto às interpretacões e decisões que adotem, das duas uma: ou esta liberdade interpretativa e decisória existe mesmo e a imprensa seja ela golpista ou chapa branca, não tem nada a questionar quanto ao fato do mpf e a justiça terem liberado o ex candidato mineiro; ou a retórica aleatória é a única alternativa que resta ao governo, e a parte da midia que lhe apoia, para fins de tentar explicar as malfeitorias praticadas neste últimos 12 anos. Eu assinalo a segunda alternativa.
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Como se as mudanças se dessem instantaneamente, caro Oliveira? Como se um decreto ou uma postura mudassem de pronto a opinião e o comportamento alheio? Como se, por mágica, velhos conhecidos da política perdessem o poder e a influência de uma hora para a outra?…
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Amigo Lopes, mas é exatamente porque: sei que todas estas perguntas que você fez têm, e só podem ter, resposta negativa; sei que todas estas investigações e responsabilizações estão ocorrendo contra a vontade do governo e da midia que lhe é favorável; que optei pela segunda das alternativas que eu mesmo ofereci. Isto é, não tendo como defender o indefensável, o governo e a midia que lhe apoia, partem para argumentos completamente aleatórios, que de tão frágeis que são, ao exame dotado do mínimo de senso crítico, deixam à mostra as imensas contradições que deles emergem gritantes.
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Sabe?, Oliveira, note que a imprensa é quase sempre chapa branca ou elitista. Crítico severo da imprensa estadunidense, Chomsky não defende uma teoria da conspiração que coloca um grupo de velhinhos maquiavélicos, e podres de rico, em uma sala escura, decidindo os rumos do mundo, não… Chomsky estabelece que o jornalismo mais desinforma que esclarece porque parte do sistema, aliás, parte do esquema de desinformação. Chomsky defende que a imprensa na sociedade industrial, capitalista, é absorvida pelo sistema de tal modo que não o nega, principalmente nos EUA. E negá-lo, às vezes pode ser um simples exercício de saúde mental. É parte da lógica de Chomsky que o proletário seja alienado de uma visão de mundo autônoma porque isso, necessariamente, levará até a crítica do sistema. Chomsky usou a seguinte frase: numa democracia a imprensa tem o mesmo papel que o porrete, na ditadura. Pelo que Chomsky expõe de suas ideias, o povo, apesar de alienado pela desinformação, mantém senso crítico para perceber por si ou para minimizar ou mesmo anular a influência da mídia e promover mudanças. Já Bourdieu fala na violência simbólica, na opressão pela linguagem e pelo que concordo com ambos, acho que é mesmo o caso de haver uma reação da mídia quanto à vontade popular… Acho que ambos podem ser um tanto pesados para digerir por um jornalista que deve ser, essencialmente, um buscador da verdade, mas isso não é uma ofensa gratuita, aliás, o é de forma alguma. É, antes, sobre a crítica do poder do capital sobre as pessoas… Tudo o que se viu até agora nos noticiários são uma campanha de difamação, pelo que se veiculou, pelo destaque e pelo que não se quis noticiar. A crise hídrica de São Paulo, a ponte do Moju que caiu e ainda não foi posta de volta no lugar… São exemplos indeléveis de não de seleção, mas de opção. De uma opção que leva a negar uma realidade e a explorar uma outra supostamente diferente, pior?, mas certamente “inadequada”, a partir de um ponto de vista que não é a legalidade da lei, mas princípios e valores, que nem sempre coincidirão com os da maioria… Não acho que as respostas às perguntas que formulei a você sejam necessariamente a negação, mas seu exposto certamente considera a possibilidade do contrário, ou seja, de as mudanças ocorrerem como mágica, de que velhos políticos logo percam força logo quando de uma mudança, por menor que seja, no quadro político. Pense sobre o assunto, seu discurso é das mais velhas retóricas que existem, dando a entender sutilmente que as mudanças dependem da vontade de um, e não é. Toda essa histeria em torno de Dilma não se justifica, apenas mostra que a arte de desinformar ainda é um porrete bem pesado.
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