Todos esperando por Zavascki

POR TEREZA CRUVINEL

Se antes da cortina do sigilo ser levanta a lista de Janot já produziu tamanho estrago político, imagine-se quando o ministro Teori Zavascki divulgar os nomes contra os quais o procurador-geral Rodrigo Janot pediu a abertura de inquéritos. Agora estão todos esperando Zavascki, que promete fazer isso amanhã, uma sexta-feira de Congresso vazio: pelo menos não haverá retaliações imediatas de terceiro grau, como a de Renan Calheiros na terça-feira.  Enquanto isso os bombeiros atuam, entre eles o ex-presidente Lula, tentando através de emissários convencer Renan e Eduardo Cunha que não houve a conspiração palaciana que os teria “empurrado” para dentro da lista. O fim do sigilo deve trazer alguma distensão política.

Mas ninguém se iluda: o tempo que vem aí será de vaca estranhando bezerro,  num processo que está apenas começando. Só vamos saber, por exemplo, se haverá outro grande julgamento político, como o do mensalão, lá na frente, quando Janot optar por uma denúncia coletiva como a de Roberto Gurgel, ou por várias denúncias individuais. Neste último caso os julgamentos se diluirão no tempo, reduzindo as repercussões políticas.

O levantamento do sigilo, amanhã, jogará luz sobre a fumaceira que está no ar desde terça-feira. Nem por isso, as coisas ficarão melhores mas já estaremos tratando com fatos, não com versões ou boatos. A lista oficial trará elementos que vão fortalecer ou enfraquecer a teoria conspiratória segundo a qual – na leitura de Cunha e Renan – o Planalto atuou para que fossem incluídos.  Uma suposição que, de resto, ofende o procurador-geral. A isso ele se refere muito sutilmente em sua carta aos colegas do Ministério Público, quando diz: Não guardo o dom de prever o futuro, mas possuo experiência bastante para compreender como a parte disfuncional do sistema político comporta-se ao enfrentar uma atuação vigorosa do Ministério Público no combate à corrupção. Não acredito que esses dias de turbulência política fomentarão investidas que busquem diminuir o Ministério Público brasileiro, desnaturar o seu trabalho ou desqualificar os seus membros. Mas devemos estar unidos e fortes.” Cunha e Renan o desqualificam quando dizem que foram empurrados para dentro da lista pelo Planalto para dividirem com o Congresso os danos sofridos com a Operação Lava Jato.

Relativamente ao papel de Dilma (ou auxiliares) será estranho que, tendo poder para “empurrar” os notáveis peemedebistas, não o tenha usado para tirar da lista petistas como os ex-ministros Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo (se a inclusão deles também for confirmada).

Renan e Cunha têm experiência suficiente para avaliar que Dilma e seu governo teriam que ser estúpidos demais para entrar num jogo de alto risco como este. Um governo com alta necessidade de recompor sua base e garantir a governabilidade no meio de uma crise política e econômica estaria brincando na beira do abismo com tal jogada. Na política há espaço para enganos e autoenganos de todo tamanho mas a lógica não endossa a teoria conspiratória. Ainda que tivesse havido tal espúria negociação, Janot  só poderia poupar nomes – como fez com Dilma e Aécio –  não “empurrar” pessoas contra as quais não houvesse indícios.

Suposição por suposição, pode-se dizer, com base na experiência dos anos recentes, que Renan nunca segurou a alça do caixão de ninguém. Sempre pulou do barco antes que a água subisse. Afastou-se de Collor em tempo, deixou de ser ministro de FH quando a impopularidade apontou para a mudança de 2002. Contou com o apoio de Lula e do PT quando enfrentou o chamado “Renangate”, em que foi acusado de ter despesas de pensão alimentícia pagas por uma empreiteira. Agora, estaria preparando um desembarque que o preservaria para novas alianças – já virou herói do PSDB – e ainda o colocaria no papel de vítima, deslocando-o do círculo das maldições em torno do PT e do governo Dilma.

O que vem pela frente?

No melhor cenário, PT e PMDB firmam um pacto de convivência e defesa mútua e a vida segue, mas com muita turbulência, pois o moinho da CPI vai produzir fatos que vão engrossar os inquéritos agora abertos.

No pior, a situação política desanda para valer e contamina também a economia, com a inviabilização do ajuste fiscal. E o país pagará caro, muito caro, pelos erros de sua elite política.

7 comentários em “Todos esperando por Zavascki

  1. Hum, quer dizer q agora o país é refém dos interesses particulares e partidarios dos presidentes do senado, câmara e da república, que para o bem da nação devem fazer um pacto de ajuda mutua para se proteger do repuxo do petrolão. A que ponto chegamos.

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  2. O desespero dos aecistas é tão grande que deram de defender Ditadura e pena de morte pra politico corrupto, além do famigerado “inpitiman”.

    Bom, sobre a pena de morte, lá não deve ter nenhum corrupto.
    Em relação a ditadura, acho que tão ficando loucos mesmo.
    E sobre o “Golpe do meu zovo”, esquecem que onde o PSDB tem governado, não tá dando certo, logo…

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  3. Oliveira, quer dizer que a imprensa não tem critério técnico, informa sobre os rivais e desinforma sobre os aliados. Quer dizer que as alianças políticas deverão se estabelecer dessa forma, é só uma premissa lógica (que não me agrada, particularmente, mas fazer o quê?). No mais, tudo na mais absoluta normalidade, a imprensa desinformando e a política seguindo seus rumos.

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  4. Mesmo achando que in casu não se trata de informação, mas, sim, de opinião, preciso lhe dizer que concordo parcialmente com você. Explico: acho que a imprensa, seja a dita chapa branca, seja a dita golpista, só desinforma, tanto no que respeita aos aliados, quanto no que pertine aos adversarios. Sim, ela cria ou exacerba as virtudes dos aliados, assim como cria ou exacerba os defeitos dos adversários, sempre se importando apenas com seus próprios interesses.

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  5. Caro Oliveira, enfim, concordamos em algo. Verdade seja dita. No entanto, os crimes dos quais poderiam ser acusados os partidários da oposição, de colarinho branco, prescrevem? É dizer, apenas se está dando tempo ao tempo para equilibrar as coisas, como quem poderá dizer no futuro que não há nada contra sua honra? Sabe?, tenho que concordar com o ponto de vista de Bresser Pereira, de que os ricos brasileiros estão perdendo, mas entendo que isso se deve muito mais à pouca coragem de se meter no jogo do capitalismo, da livre concorrência, que pelos resultados do governo. As políticas públicas, de um ponto de vista socialista, estão corretos, o problema é que aqueles que detêm a maior parte da riqueza do Brasil não investem em longo prazo, ou seja, em gerar empregos. Esta responsabilidade tem sido assumida pelas multinacionais que investem no Brasil, principalmente na indústria primária, e é isso que torna o Pará um dos maiores exportadores do país. Nossos ricos precisam se fortalecer no mercado interno, ainda forte. Caso contrário, continuaremos a ver a evasão de divisas, a nossa riqueza produzindo riqueza em outros países.

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  6. Lopes, metendo meu bedelho no seu papo com o amigo Antônio Oliveira, gostaria de fazer um breve comentário sobre sua fala:

    “O problema é que aqueles que detêm a maior parte da riqueza do Brasil não investem em longo prazo, ou seja, em gerar empregos. Esta responsabilidade tem sido assumida pelas multinacionais que investem no Brasil, principalmente na indústria primária, e é isso que torna o Pará um dos maiores exportadores do país. Nossos ricos precisam se fortalecer no mercado interno, ainda forte. Caso contrário, continuaremos a ver a evasão de divisas, a nossa riqueza produzindo riqueza em outros países”.

    No canal History, algum tempo atrás, passou um documentário (Gigantes da Indústria) em quatro episódios sobre os homens forte dos EUA; aqueles que tornaram eles a grande potência que são hoje (Rockefeller, Vanderbilt, Carnegie, Astor, Ford e Morgan).

    Assistindo o documentário, é possível perceber que se a burguesia (detentor do dinheiro) não investir em seu país, querendo fazê-lo grande, o país jamais se tornará grande, bem como eles nunca serão importantes para a história do país.

    Todos esses nomes dos documentário não apenas ganharam dinheiro (bem como exploraram a mão de obra do povo), mas, queira ou não, construíram um mercado forte com obras gigantesca e industrialização de ponta (para época), pois pensavam seus lucros no futuro e não no imediatismo, como pensam os rentistas brasileiros (como bem disse Bresser).

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  7. Todos esses nomes do documentário não apenas ganharam dinheiro (bem como exploraram a mão de obra do povo), eles construíram um mercado forte com obras gigantesca…

    Correção…

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