Capricho de rei

Por Lúcio Flávio Pinto

O Pará, com oito milhões de habitantes, tem um milhão a mais do que o Maranhão, com seus sete milhões em números redondos. No entanto, o Maranhão possui 30 mil unidades consumidoras de energia a mais do que o Pará. Pelos dados da Aneel, a agência federal de energia elétrica, as UCs atendidas pela Cemar somam exatamente 2.278.898. Já as da Celpa são 2.148.720.

A discrepância, que não é nada misteriosa, pode ser resolvida agora. Tanto a Celpa (com 100% das ações) quanto a Cemar (com 65%) são controladas agora pela Equatorial Energia, empresa com ativo de 15 bilhões de reais e que tem entre os seus acionistas o Burger King, Unidas, PDG. Le Biscuit, Inbrands e outros sócios.

Tanto a Cemar quanto a Celpa estavam em situação de insolvência quando a Equatorial as assumiu. A concessionária maranhense já passou a vizinha do Pará em todos os índices, da qualidade dos serviços à redução de perdas e de inadimplência, faturamento e rentabilidade. O desafio, agora, é a Celpa.

Pelos números comparativos dos dois Estados, dá para constatar que se a Celpa se tornou a pior empresa do setor elétrico brasileiro, chegou a essa situação por péssima gestão e má supervisão pelo governo. Depois de passar pela recuperação judicial durante dois anos, sob o peso de uma dívida de 3,8 bilhões de reais, agora só lhe resta falir de vez e perder a concessão. Ao governo, a intervenção e novo leilão atrás de algum grupo interessado, em reprise negativa.

O momento é delicado. Precisa da atenção e da ação do novo concessionário, da população e das autoridades. Já seria uma tarefa ingrata por si não fora a campanha perniciosa do grupo Liberal, desencadeada por capricho e interesses pessoais contrariados do principal executivo do grupo Liberal, Romulo Maiorana Júnior.

Uma fonte ligada à Celpa disse que será mantida a cobrança do débito da corporação, que protege 150 unidades consumidoras, inclusive muitas residências particulares de alta demanda de energia (como a mansão de Júnior no conjunto residencial de luxo Lago Azul). Os devedores terão que quitar o passado e assumir a conta mensal de energia, que o executivo das Organizações Romulo Maiorana quer transformar integralmente em permuta de publicidade para os seus veículos de comunicação.

Se sua vontade for atendida, a Celpa, que tem orçamento de R$ 3 milhões de publicidade para este ano, teria que programar, só para o grupo Liberal, R$ 8 milhões. Além de bonificar o calote, dando péssimo exemplo para os consumidores sem privilégio, é um absurdo diante da carência de recursos da empresa para suas despesas prioritárias.

Se for obrigada a atender a veleidade de Romulo Maiorana Jr., a Celpa poderá até desistir da concessão, caso sofra pressões mais fortes do que as atuais. É nisso que o cidadão precisa pensar quando se submete à campanha voluntariosa comandada por quem se julga o rei do Pará.

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