Nem tudo que reluz é ouro

Por Gerson Nogueira

O futebol é pródigo em exemplos de jogadores que surgem de repente como a mais nova sensação do nobre esporte bretão. As informações brotam, os elogios se multiplicam e todo mundo passa imediatamente a acompanhar com interesse o candidato a astro.

Salvo casos muito especiais, a maioria dessas revelações termina decepcionando. Seja pelo excesso de expectativa ou por absoluta falta de qualificação do atleta. O fato é que no afã de descobrir novos Pelés, Maradonas, Messis e Cristianos as pessoas costumam exagerar nos rapapés.

unnamed (4)Qualquer drible mais inspirado ou gol caprichado já é razão suficiente para provocar uma torrente de louvações. Lembro que há algum tempo o atacante Keirrison despontou como a nova promessa de redenção do futebol brasileiro. Ledo engano.

Enganou por um tempo no Palmeiras e, graças a um empresário esperto, ganhou até oportunidade no Real Madri. Como era apenas um atacante comum, não foi adiante. De volta ao Brasil tenta manter a carreira no Coritiba, seu clube de origem, mas sem entusiasmar ninguém.

Veio do Sul também outro nome endeusado pela mídia esportiva, cotado para brilhar no futebol europeu. Leandro Damião despontou no Internacional, fez muitos gols no Campeonato Brasileiro e chegou à Seleção.

Fez um golaço de rabo-de-arraia contra a Argentina. O mundo parecia aos seus pés. Veio a Copa do Mundo e Damião foi esquecido. Negociado a peso de ouro com o Santos virou reserva de luxo na Vila Belmiro, entrando no time só de vez em quando.

Não é privilégio do futebol atual. Antes, lá pelos anos 80, alguns jogadores também eram extremamente badalados, porém sem frutificar quando a grande chance aparecia. O fenômeno Washington é um dos mais emblemáticos. Revelação do Guarani, o jogador tinha passada elegante e porte físico que lembrava o Rei. Em questão de meses passou a ser comparado ao próprio Atleta do Século. Foi o seu fim.

No Fluminense, havia Robertinho, ponteiro ciscador, que durante anos embalou o entusiasmo, colecionando adjetivos elogiosos da ruidosa imprensa esportiva carioca. O esforço foi em vão. Não emplacou e acabou desaparecendo.

Naquele tempo era mais relativamente mais fácil enganar, pois a carreira do jogador de futebol não era tão esmiuçada pela imprensa como hoje. Alguns conseguiam até fazer uma carreira mais longa, até que alguém finalmente descobrisse a fraude.

Mesmo com a profusão de meios e plataformas para analisar o desempenho de jogadores do mundo todo, ainda há espaço para algumas esparrelas. Paulinho, volante que virou sinônimo de meio-campista moderno no Corinthians de Tite. Ganhou todos os prêmios e atraiu o interesse do futebol inglês, onde acabaria vivendo sua derrocada.

Ainda foi chamado para a Seleção Brasileira, mas a Copa do Mundo revelou em cores vivas que os bons momentos de Paulinho no Corinthians foram apenas espasmos numa carreira inteiramente mediana, mais ou menos como a de Robinho.

Expoente da geração “meninos da Vila”, o ás das pedaladas viu seu futebol murchar na mesma proporção em que acumulava milhagem em camisas poderosas – Real Madri, Milan, Manchester City, Seleção Brasileira.

Alexandre Pato, apesar de todo o furor inicial, foi aos poucos descendo na escala até chegar ao estágio de hoje, quando seu futebol de lampejos é visto sob uma ótima mais realista e menos empolgada.

É claro que existem enganadores contumazes, cuja carreira improdutiva e bem remunerada desafia a lógica. Fernando Torres, o atacante que um dia encantou a Espanha, joga até hoje com a imagem de dez anos atrás. Recordista mundial de gols perdidos, sempre atuando por grandes esquadras – Chelsea, Liverpool, Milan. Prova viva de que no futebol é possível enganar (quase) todos por muito tempo.

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Atenção redobrada sobre as arbitragens

Durante muitos anos a arbitragem brasileira foi alvo de desconfianças e acusações de picaretagem, mas não aparecia ninguém capaz de comprovar qualquer irregularidade. Isso durou até o dia em que a “máfia da Loteria Esportiva” foi desbaratada, na década de 1970, a partir de uma série corajosa de reportagens do então repórter Marcelo Rezende, da revista Placar.

Naquela ocasião, a arbitragem caiu do pedestal e passou a ser vista com outros olhos. Com o tempo, porém, as coisas foram se acomodando e uma boa geração de apitadores restituiu a confiança perdida.

A descoberta da “máfia do apito”, capitaneada por Edilson Pereira de Carvalho, em 2005, viria abrir uma nova fissura na imagem da arbitragem nacional. E com características novamente de vinculação com apostas criminosas.

Na última década, embora o Brasil tenha passado ao largo de investigações, a Fifa e a Interpol têm se empenhado em investigar esquemas fraudulentos envolvendo casas de apostas africanas e europeias. Suspeitas sobre alguns resultados da Copa de 2006 seriam posteriormente confirmadas.

Por aqui, a cisma sempre foi quanto a interesses diretos de clubes que disputam acesso ou rebaixamento. Quanto ao crime organizado, pouco se comenta e quase nada se faz para prevenir ou observar.

A mais nova iniciativa, por orientação da Fifa, é o fortalecimento da Corregedoria de Arbitragem da CBF. Um detalhado manual de procedimentos foi elaborado a fim de tentar inibir a ação de mafiosos junto a árbitros brasileiros.

A aceitação de presentes, mordomias e outros mimos é expressamente proibida, bem como a prática de apostas por parentes de árbitros. A punição para quem descumprir será severa e deve surtir bons resultados, mas a CBF deveria também aproveitar para investir mais na qualificação desses profissionais.

Estudos da própria Fifa comprovam que quanto mais preparado for o árbitro, inclusive do ponto de vista acadêmico, menor é a possibilidade de vir a ser enredado pelos esquemas de manipulação. De toda maneira, toda e qualquer providência para garantir a lisura do jogo é sempre bem-vinda.

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Bola na Torre

Giuseppe Tommaso apresenta o programa deste domingo, com participações de Valmir Rodrigues, Fernando S. Castro e este escriba de Baião. Começa por volta de 00h15, depois do Pânico na Band.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 14)

13 comentários em “Nem tudo que reluz é ouro

  1. Excelente e oportuno texto, apenas uma pequena correção: o Keirisson foi enganar no Barcelona não no Real Madrid. E na minha opiniao o PHG já está nessa lista sim…ele joga bola, mas bem menos do que se esperava e do que se falou que jogava..em 2010, a não ida dele a copa foi mais questionada que o Neymar…tal era a espectativa em torno dele.

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  2. Minowa é o novo presidente do Remo. Exclusivo!
    Vendo os jogos da UCL acho um grande desperdício do PHG não estar participando, ele se encaixaria como uma luva no PSG. O Lucas é um doidinho corredor de cabeça que joga de cabeça baixa.

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  3. Acho que R Goulart e E Ribeiro se encaixam nesse perfil, fora o gato por lebre, no caso de Douglas que foi pro Barça. Aliás, se não foi mutreta, o clube catalão está precisando de olheiros, pelo visto.

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  4. Concordo Amorim, PH não vinga, mas por culpa dele. Li uma entrevista em que ele criticava os técnicos da base, porque exigiam correria. Ora, se eu tivesse o talento dele, eu ia correr igual aos outros e jogar muito mais, elementar. No futebol moderno, correria ganha. Os tempos de Gerson, infelizmente, acabaram faz tempo.

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  5. Não sei amigos… Espero que vocês estejam errados… Digi isto, pois, diferentemente dos citados, PHG passou uma fase complicada na sua carreira, salve engano duas cirurgias de joelho, recuperando a forma somente no meio do ano passado (este ano manteve uma regularidade maior).

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  6. Pra mim o caso do Ganso é outro, faz parte dos jogadores cujas lesões ceifaram o talento, depois da lesão Kaka mesmo disse que ele mesmo virou um “jogador comum”, Em termos de futebol do Brasileirão temos ai vários, os comentaristas da Band ficavam toda hora falando do Kleber “Gladiador”, nunca entendi por que tanta badalação em cima de um atacante mediado dentro do Brasileirão, Léo moura era vendido pela “Grobo” como acima de mediano.

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  7. Eu também pensava assim, Pablo, mas parece que ele se recuperou fisicamente. Quanto ao futebol europeu, Claudio, já houve gente de lá dizendo que ele não teria vez, justamente pela pouca participação. Aliás, se o rapaz não tiver cabeça, acaba se perdendo. Lembram do Anderson da Batalha dos Aflitos? Foi vendido como craque e acabou como volante que ninguém quer. Pois bem, ele aceitou virar volante, dizem que nunca aprendeu inglês e era tachado de burro pelos colegas. Ir pra europa, muitos conseguem, ter sucesso é difícil. Ganso é craque, mas não tem cabeça e nem quem o ajude de verdade (mude o pensamento dele). E como a idade chegou, ainda que alguém consiga demovê-lo de suas ideias,não dá mais tempo. Leiam a respeito de Jean Chera (melhor que Neymar na base) e vocês conhecerão um Ganso que sequer chegou a jogar profissionalmente.

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  8. Ganso pode até não ser uma fraude, mas não é espetacular, haja visto que não consegue se destacar num futebol abaixo da média como o nosso. O Milan se interessou por ele um tempo atrás mas tal mudança não seria significativa para Ganso mediante o momento pelo qual passa o futebol italiano, tão ou mais decadente quanto o nosso. Alemanha, Inglaterra, Espanha e mesmo Portugal (que já suplanta os italianos no ranking da UEFA) seriam ótimos destinos para o meia paraense.
    Quanto ao enganadores, foram (e são) muitos: Vampeta, Roger Flores, Dimba, Diego Souza, Martinuccio, Vágner Love, Daniel Carvalho, Carlos Alberto (rebaixado agora com o Botafogo), Odvan, Josiel Paquita, Leandrão, Ramón (o que atuou no Remo em 2013), Marcelinho Paraíba e Amoroso (enganaram muito no fim de suas carreiras) e etc. Foram tantas emoções… rsrsrs.

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