Uma cidade ainda legal

Por Zuenir Ventura

129_1956-zuenir - 2As grandes metrópoles estão exportando para as menores suas mazelas, e nem sempre em outra escala. Em viagens, ainda que rápidas, pode-se observar a velocidade com que o fenômeno ocorre nesses paraísos perdidos. Acabo de voltar de Curitiba, que na época de Jaime Lerner (prefeito três vezes e governador duas) serviu de modelo de desenvolvimento urbano para cidades daqui e até do exterior. “Não se iluda”, ouvi de um colega ao chegar, “Curitiba não é mais aquela que você conheceu”.

A primeira diferença é a dificuldade, digamos, de ver o horizonte em alguns bairros. A quantidade de arranha-céus construídos ou em construção me lembrou Tom Jobim falando de Nova York: “Tem que ser vista de maca.” Ainda não é o caso, mas, pelo ritmo, promete.

A cidade teria crescido 400 mil habitantes nas últimas décadas. Com ironia, me dizem que quase 70% dos moradores são VIPs, ou seja, “Vindos do Interior do Paraná”, atraídos pelos encantos tão propagandeados da capital.

A (i)mobilidade urbana é também visível. Há engarrafamento não apenas nas horas de rush. Como em outras capitais médias, as reclamações são as mesmas e têm a ver com a perda da qualidade de vida. “Eu levava 20 minutos e agora levo mais de uma hora”, ouvi muito. As causas são conhecidas.

Com a elevação do poder aquisitivo da nova classe média e a redução dos impostos para a indústria automobilística, as ruas foram invadidas pelos carros. Me garantiram que ali há dois por habitante. Será?! (não pude conferir a veracidade da informação).

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Pior do que o problema do trânsito é o da violência urbana, cujos números podem variar (seria a sexta maior taxa de homicídios do país), mas a percepção comum é de que aumentou muito, agravada pelo tráfico de drogas.

Não por acaso a 33ª Semana Literária Sesc/XII Feira do Livro teve como tema a violência também na literatura e como homenageado Rubem Fonseca, o autor de “Feliz Ano Novo”, e com a participação de mais de 20 escritores.

Aliás, se por um lado há os problemas, por outro há um impressionante empenho em reativar a vida cultural da cidade, com exposições, peças, shows, palestras, leituras, debates. O “Guia Cultural” precisou de 72 páginas para dar conta das atividades de setembro, que vão da Festa Internacional dos Quadrinhos até a exposição das 240 fotos de Frida Kahlo, além do ciclo Leituras da Ditadura, entre muitos outros eventos.

Entre as atrações de lá e de fora que Curitiba oferecia, pude assistir a uma memorável: o espetáculo “Saudades de Elis”, com Tunai e Wagner Tiso. Só por isso a viagem teria valido a pena, mas valeu por muito mais. Curitiba pode não ser “mais aquela”, mas ainda é muito legal.

2 comentários em “Uma cidade ainda legal

  1. Parabens Meu Caro Gerson pela Matéria,Textos de Pessoas Estudiosas e Pesquisadoras como o Zuenir Ventura,serão sempre bem vindas,para que possa ampriar cada vez mais o nosso “Leque” de conhecimento ,sobre Varias questões,entre elas,as Politicas Sociais e Culturais do Nosso Brasil.Valeu!
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  2. Estive em Curitiba em 2011 e 2012. De fato, me falaram pra tomar cuidado com minha segurança, mas mesmo assim, por conta do Jaime Lerner (dizem), é uma cidade muito bela, muito interessante. Será que ele não toparia administrar Belém?

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