A tentação de inventar

Por Gerson Nogueira

Futebol, já se disse mil vezes, é um esporte simples. Nós – torcedores, técnicos, jogadores e cronistas esportivos – costumamos complicar as coisas. Um dos primados da modalidade é o entrosamento dos times, que nasce da repetição e da adaptação dos jogadores ao esquema tático.

No caso dos dois grandes clubes de Belém, situações diversas obrigam os técnicos a mexerem o tempo todo na escalação. O Papão, ainda com chances de acesso na Série C, sofre com a perda de peças importantes por lesões e suspensões.

Para o confronto decisivo de segunda-feira com o Botafogo da Paraíba, fora de casa, o técnico Mazola Jr. não contará com o zagueiro Charles, uma das referências defensivas da equipe, e com o polivalente Djalma. Arrisco dizer que a ausência de Djalma é a mais prejudicial ao esquema usado pelo treinador.

unnamed (35)Djalma é rápido e sabe como ninguém acompanhar o ritmo de Pikachu, principal destaque técnico do time. Sem o parceiro, Pikachu normalmente arrefece as tentativas ofensivas e tem rendimento prejudicado.         Quem sofre com isso – e como sofre – é o Papão.

Do outro lado da avenida Almirante Barroso os dramas são bem diferentes. A escalação muda sempre por vontade do técnico, que já mandou a campo pelo menos seis formações diferentes ao longo da Série D.

Por insegurança quanto à confiabilidade técnica de seus jogadores ou por pura inquietação, o técnico Roberto Fernandes não conseguiu até hoje encontrar a chamada formação ideal. São mudanças constantes em todos os setores, desde o gol até o ataque.

Está nos manuais do nobre esporte bretão. Nenhum time adquire entrosamento com tantas e sucessivas alterações. No meio-de-campo, ponto nevrálgico de qualquer equipe, o Remo já mudou de cara incontáveis vezes. Nos últimos jogos, Reis se tornou uma espécie de coringa no setor, cobrindo a ausência de um meia-armador, embora seja atacante de ofício.

Antes dele, Tiago Potiguar já foi testado por ali, sem sucesso. E jamais irá dar certo naquele setor, pois é também um homem de frente. O mesmo aconteceu com Ratinho, outro atacante improvisado na meia.

O certo é que enquanto Danilo Rios não podia ser escalado, o Remo viveu de improvisações no compartimento mais importante do time. Com seu retorno anunciado para domingo, a criação deve finalmente ser entregue a um legítimo camisa 10.

Experimentações são até válidas, mas em excesso contribuem apenas para a balbúrdia tática. No caso do Remo, este é o problema que está na origem da instável performance em casa. Mais até do que o gramado ruim do Diogão.

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Show solo de Di Maria sobre a Alemanha

Existirá mesmo a tal depressão pós-Copa? A tese foi levantada novamente ontem depois da chinelada que a Argentina aplicou sobre a seleção tetracampeã do mundo, em Dusseldörf, com requintes de malvadeza.

Os times estavam bastante modificados, é bom que se diga. Messi, que a Fifa elegeu como melhor do Mundial, invento uma desculpa qualquer e não viajou à Alemanha. A seleção de Joachin Low entrou ainda mais desfalcada, com apenas três dos titulares da conquista no Brasil.

Chamou atenção, por sinal, o aparente desinteresse do técnico alemão pelo jogo, evitando recorrer a todas as suas forças para o jogo contra os vice-campeões do mundo. É claro que alguns atletas estão contundidos, mas boa parte deles podia ter sido relacionada para o jogo.

Na Argentina, Angel Di Maria resolveu aproveitar a ocasião para mostrar o futebol que o acaso não permitiu que exibisse na grande final realizada no Maracanã. Grande desfalque argentino na decisão, o meia desfilou em campo, dando passes primorosos, lançamentos precisos e até fazendo gol. Na ausência do astro Messi, ficou à vontade para dar um show solo e provar o quanto podia ter sido decisivo na finalíssima da Copa.

O futebol tem pressa e não se pode brincar de amistoso quando a história é construída a cada jogo. Lição para Low.

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A Estrela continua a brilhar

André Bahia, no apagar das luzes, crava a vitória que pode redimir o ano do Botafogo. Ano de pindaíba total, ameaça de rebaixamento, dívidas e humilhações sem fim, mas a Estrela Solitária segue a reluzir. Até em noite de apagão. Melhor ainda é que a vitória veio na bola, dentro do Castelão, sem necessidade de truques ou pênaltis roubados. Uma noite feliz.

Já no Maracanã o outro jogo angustiante da quarta-feira deixou muito a desejar. Nem tanto quanto ao empenho dos jogadores de Flamengo e Coritiba, que lutaram incansavelmente por seus objetivos.

O problema estava na arbitragem, velho calo em jogos que envolvem clubes de massa no Brasil. Principalmente quando esses clubes precisam de algum tipo de ajuda para seguir em frente. Ontem, o Flamengo talvez nem precisasse desse socorro, mas acabou premiado com um penal inventado no segundo tempo.

A bola foi chutada em direção ao zagueiro do Coritiba, que visivelmente tentou evitar o toque, mas o apitador foi implacável e assinalou a infração. Logo depois, ele ignorou um penal claro sobre Alex. Na sequência, em contra-ataque, saiu o terceiro gol rubro-negro, que levou à vitória na decisão em penalidades.

Coisas do futebol brazuca.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 04)

18 comentários em “A tentação de inventar

  1. Com todo o respeito, se o juiz tivesse dado o pênalti em Alex estaria tão errado quanto esteve ao marcar mão na bola do zagueiro coritibano. Alex estava visivelmente sem condições físicas, tanto que nem participou das cobranças que decidiram a vaga, e chegou dividindo o lance com Paulo Vitor procurando evitar o choque. De fato, o choque não houve e desconfio que nem escanteio foi. O erro grave da arbitragem foi mesmo o segundo pênalti, agravado por tratar-se de um aspirante a figurar nos quadros de arbitragem da FIFA

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    1. Amigo Jorge, você está se referindo ao lance errado. Alex foi chutado pelo Chicão no bico da grande área, o árbitro estava a dois metros do lance e a jogada seguiu normalmente para o contra-ataque que resultou no terceiro gol. A bola não foi para escanteio. Esse lance de que você fala foi muito antes, sem qualquer infração.

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  2. Sobre o Flamengo, será o tal “sistema” falado dito pelo Mazola? Queria ver se o pobre do Djalma fosse azul se o Columbia teria a mesma opinião.

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  3. Amigo Claudio no pé de Djalma… rs…
    Mas concordo, Djalma não é tudo isso, poderia ser um jogador bem melhor se corresse menos com a bola e tivesse mais visão de jogo, ja que, sabe marcar com qualidade…Agora, amigo Claudio, não podemos negar que no esquema de Mazola, Djalma é imprescindível.

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    1. Também acho que Djalma não é tudo isso, amigo Carlos. Mas, ainda assim, é muito superior a Raul, R.Tavares, Marcos Paraná, Bruno Veiga, Dênis e tantos outros que congestionam o elenco do Bicola.

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  4. Celira, concordo que o Djalma não seja a “quintessência” do futebol arte, nem o ápice do futebol competitivo.

    Todavia, ele é dezenas de vezes melhor do que a esmagadora maioria destes jogadores que o rival contratou para fazer o trabalho de armação (mesmo sem ser um armador nato), bem melhor do que a maioria dos jogadores que fazem a contenção, incluindo aí o Recife e o Capanema. É melhor porque passa bem, faz a contenção e vai ao ataque com muita desenvoltura.

    Salvo o Pikachu, o Djalma joga melhor até do que os alas quando é deslocado pra lá. Ali ele também marca com atitude e competência, e vai ao ataque com muita desenvoltura. Além de ser um jogador que se adapta perfeitamente aos esquemas dos treinadores. O Mazola que o diga.

    Vai daí que, na minha opinião, as constantes referências elogiosas que são feitas a eles como escudeiro de jogadores como o Eduardo Ramos e o Pikachu, por exemplo, são, de fato, positivas até “à página 3” somente.

    Na realidade, em última análise, tais referências até minimizam a verdadeira capacidade do Djalma, na medida que limitam sua utilidade à condição de carregador de piano dos craques. E ele é bem mais do que isso. E na atual conjuntura do futebol do rival, onde a carência de jogadores eficientes e eficazes é elevada, você tem razão quando diz que ele é imprescindível, que é o que de fato ele é.

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  5. Gerson e amigos, falar em ajuda do apito ao time de Flamengo é chover no molhado. Nem assisti ao jogo por ficar enojado com a possível armação. É óbvio que para o Sistema Globo de Futebol o Flamengo é muito mais rentável daí buscar toda e qualquer ajuda extra e intra-campo para fazê-lo campeão da Libertadores, pois isso é tradução de muito dinheiro nos cofres globais!

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  6. Concordo que a ausência do Djalma será mais sentida que a do tão atrapalhado Charles que mesmo sendo um xerifão comete erros de um jogador principiante!

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  7. O amigo Gerson foi perfeito em relação ao Roberto Fernandes, insegurança é o seu ponto fraco, que tenta disfarçar com um discurso manjado.

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  8. Em relação a ” meia esquerda ” no time do REMO, quem já foi testado s fez uma excelente partida foi o Jonhatan no jogo REMO 4x 1 PSC ,E NUNCA MAIS ENTROU.

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  9. Agora já sei qual é o lance, foi lá pela esquerda da defesa do Fla. Por sinal, os caras da ESPN acham que não foi nada, mas eles tambem acham que a queda do Zé Love sobre o Everton também não foi nada. Acho que quando há polêmica, ponto pro árbitro.

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  10. Meu caro Cláudio, não se aborreça. Também não acho o Djalma um selecionável, mas, como muitos que aqui se manifestaram, possuidor de um olho em terra de cego o que, convenhamos, não é pouca coisa na atual conjuntura bicolor.

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