Com Marina, as hienas exultam

Por Valter Pomar, via Blog do Miro

marinamenteComo já foi dito noutro lugar, para a oposição de direita, a morte de Eduardo Campos foi uma grande oportunidade. Com a morte de Eduardo Campos e a escolha de Marina, a direita percebeu a possibilidade de resolver uma contradição expressa nas pesquisas até 13 de agosto: por um lado, um eleitorado desejoso de mudanças; por outro lado, a vitória de Dilma no primeiro turno.
Claro que não faltou a mão amiga do oligopólio da mídia, que manipulou eleitoralmente a cobertura do desastre aéreo e do velório de Eduardo Campos.
As pesquisas publicadas no dia 26 de agosto deixaram exultantes as hienas. Segundo tais pesquisas, Marina teria ultrapassado Aécio Neves e inclusive venceria Dilma no segundo turno.
Desde 2012 já estava claro, para quem analisasse com seriedade (ou seja, observando as classes sociais) o quadro político-eleitoral do Brasil, que as eleições de 2014 tendiam a ser disputadas no segundo turno (como 2002, 2006 e 2010); que este segundo turno seria mais “fácil” caso disputado contra o PSDB; e que seria mais “difícil” caso disputado por uma candidatura de “terceira via”.
Vale dizer: “terceira via” entre muitas aspas. Pois não se deve confundir a polarização entre PT e PSDB, com a polarização entre projetos de país e blocos de classe. Como está mais do que claro, Marina Silva é porta-voz de um projeto de país equivalente ao de Aécio Neves. Neste sentido, que é o que de fato interessa, ela não é terceira via.
Marina Silva converteu-se ao neoliberalismo (apoio ao “tripé” e à independência do Banco Central) e converteu-se à política externa subalterna (vide a crítica que fez ao “chavismo do PT”).
Aliás, quem prestar atenção às críticas que ela faz ao agronegócio, perceberá que sua ênfase hoje está em pedir “aumento da produtividade”. Uma linguagem verde dólar. Fosse apenas pelo conteúdo programático, Marina seria tão “fácil” de enfrentar quanto o PSDB.
Acontece que sua candidatura não expressa, como Aécio, os setores que fizeram oposição desde 2003. A candidatura Marina foi produto de setores que em algum momento fizeram parte ou apoiaram os governos Lula e Dilma.
Esta origem permite enganar os setores do eleitorado que não apoiam os tucanos, mas são críticos ao petismo. Que antigos militantes de esquerda, como o presidente do PSB Roberto Amaral, se prestem de escada para isto não muda a natureza dos fatos.
Além disso, Marina disputa com vantagem o eleitorado evangélico e, num aparente paradoxo, também o eleitorado crítico à política tradicional. O aparente paradoxo deve-se ao fato de que a crítica à “política tradicional”, hoje e sempre, não vem apenas da esquerda.
Em resumo, as pesquisas divulgadas dia 26 de agosto apenas confirmam o que já se sabia possível e, também, confirmam o êxito da operação político-midiática iniciada dia 13 de agosto. Portanto, se nada mudar, se o plano da oposição de direita tiver êxito, vai ter segundo turno e será contra Marina.
O que seria o cenário eleitoralmente mais “difícil” para o PT, Lula e Dilma. E um desastre imenso para o PSDB aecista, que terá que fazer um grande esforço para desconstruir Marina. O cenário eleitoral tornou-se, portanto, mais difícil do que aquele habitado por “anões” e por “vitórias no primeiro turno”.
Mais difícil, mas nada surpreendente. Aliás, em 2006 e em 2010 também houve quem acreditasse que a eleição presidencial seria decidida no primeiro turno. Nos dois casos, a ficha destes crédulos só caiu durante a apuração. Desta vez, portanto, estamos com sorte: a ficha está caindo várias semanas antes.
Frente a possibilidade de segundo turno e frente a possibilidade de um segundo turno contra Marina, a solução é mais programa, mais disputa política, mais polarização, mais mobilização de nossa base social.
Um pequeno exemplo disto: a presidenta Dilma foi a única que, no debate realizado na TV Bandeirantes dia 26 de agosto, fez referência ao cenário internacional, à crise e aos Brics. Este é um bom caminho: politizar, ou seja, mostrar os grandes conflitos do nosso tempo e apontar por onde passa a defesa dos interesses da classe trabalhadora.
É preciso falar do passado e do presente, mas colocá-los em função do futuro. Deixar claro que mudanças vamos fazer, no segundo mandato. Falar do passado contra Aécio é muito importante, falar do passado contra Marina é arma secundária.
A ênfase no futuro, embora tenha sido oficialmente aceita, ainda não se traduziu adequadamente nas diretrizes programáticas, nos materiais de campanha, nem mesmo nos principais pronunciamentos da presidenta Dilma Rousseff.
Por isto, insistimos:
* no papel positivo e indispensável dos movimentos e das lutas sociais, para nossas vitórias eleitorais e principalmente para o êxito dos nossos governos;
* é preciso encampar urgente e efetivamente a “pauta da classe trabalhadora”, tal como apresentada pela CUT, inclusive o fim do fator previdenciário e a jornada de 40 horas;
* coerente com o que pensa e reafirmou no debate realizado na TV Bandeirantes dia 26 de agosto, a presidenta Dilma Rousseff deve convidar a população a votar no Plebiscito Popular. Aliás, a este respeito, é incrível que Dilma tenha sido a única a corajosamente defender o plebiscito como um dos instrumentos para a reforma;
* é preciso tomar medidas imediatas no sentido da democratização da comunicação e dar destaque a isto no programa de governo 2015-2018. Falar de “regulação econômica” não basta, nem impede os ataques da direita;
* é preciso abandonar o discurso equivocado que insiste em chamar de “classe média” os setores da classe trabalhadora que, graças às nossas políticas, ampliaram sua capacidade de consumo;
* é preciso enfatizar a defesa das reformas estruturais. Temas como a reforma política e tributária devem ser ainda mais destacados.
Por fim: não devemos cair na esparrela de tentar carimbar a Marina como uma “incógnita” ou como “inexperiente”. Ela não é incógnita. Ela é, hoje, uma forte alternativa para o grande capital, especialmente financeiro.
Ela não é inexperiente. Ela se preparou habilmente para ser instrumento da direita neste momento, contra o PT. Aliás, seu giro à direita não começou em 2010, começou quando era senadora e ministra. Por decorrência, devemos recusar o raciocínio extremamente perigoso dos que acreditam que o grande capital vai recusar a “imprevisibilidade” de Marina.
Quem acredita nesta fantasia, vai acabar caindo na armadilha de tentar derrotar Marina com argumentos de “direita”. Entre outros, o de que nós seríamos mais “confiáveis”, capazes por exemplo de fazer um ajuste fiscal em 2015 e coisas do gênero. Adotar esta linha seria o caminho certo para uma tripla derrota: eleitoral, política e ideológica.
O caminho para nossa vitória, contra Aécio & Marina, é outro: mobilização, militância, política, programa de esquerda, apontando para um segundo mandato superior, ou seja, que amplie a democracia, o bem-estar, a soberania, a integração e o desenvolvimento, em benefício da ampla maioria da população brasileira, que é trabalhadora.
Agindo assim, derrotaremos mais uma vez o “espírito animal” das hienas.

17 comentários em “Com Marina, as hienas exultam

  1. O mesmo operário que teve o salário de menos de US$ 100,00, e agora tem a perspectiva de ter US$ 350,00 mensais, um aumento superior a 3,5 vezes, nega voto ao mesmo PT que atingiu essa valorização do trabalhador. Em 1º de setembro de 1994, o mínimo era de R$ 70,00, pouco mais de US$ 60,00 (ou US$ 61,60) e em 2001, último ano de FHC, era de R$ 180,00 (ou US$ 86,21). Quero dizer que durante o governo FHC, pelos oito anos, o salário saiu de 70 para 200 reais, ou de 61 para 86 dólares. Levamos oito anos para ter um aumento de 25 dólares no salário. De 2002 para cá, o mínimo saiu dos R$ 180,00 (ou US$ 86,21) para os R$ 724,00 de hoje (ou US$ 323,21). Com a perspectiva de salário mínimo de R$ 788,00 para o ano que vem (ou US$ 351,78, pela cotação de hoje) a valorização do salário é de mais de 350%, nos doze anos petistas. É claro que a inflação vai subir com mais dinheiro no mercado, mas o trabalhador precisa de dinheiro tanto quanto o banqueiro. Hoje, entendo perfeitamente que o trabalhador quer consumir mais, e melhor, já não está satisfeito com os avanços e com o perfil de consumo que possui até aqui. A grande mudança do governo do PT foi investir no mercado interno e na produção nacional, mesmo que ainda haja muitos itens importados. No entanto, a fragilidade da indústria nacional, que não está na qualificação dos metalúrgicos, mas no capital das multinacionais, que migram para suas metrópoles, é que deixam a economia a ver navios ao menor sinal de crise. Pensem bem, é o trabalhador que constrói o país, não as multinacionais e os bancos…

    Curtir

  2. Nos últimos 10 posts do Gerson sobre politica, todos foi contra Marina. O “home” já esqueceu do Aércio, o pavor dele é a humilhação da derrota da dilma ainda no 1º turno. Preparem-se, ele ainda vai postar muita “lama” pra cima da candidata.

    Curtir

  3. Some-se ao que acabei de enumerar a valorização de políticas públicas sociais, o aumento de vagas no nível superior e do aumento do financiamento estudantil, que se estendeu à bolsas gratuitas nas instituições particulares de ensino superior. Isso significa o aumento nas oportunidades para os mais jovens e mais pobres… Isso significa investir em pessoas, na formação delas, e na qualidade de vida, não em papel da dívida pública e em obras que atendem aos interesses dos financiadores de campanha.

    Curtir

  4. Gerson e demais amigos, o maior cabo eleitoral da presidente Dilma a favor dos seus adversários é o que ocorreu e ainda ocorre no seu atual governo. Não estou falando aqui de bolsa família, avanços sociais, aumentos salarias, eu mesmo sou prova de que tivemos mais valorização no período do PT do que nos anos de PRIVAÇÃO do PSDB(NUNCA MAIS).
    Acho que algumas atitudes dignas como, banir do partido todos os que foram condenados e cumprem pena pelo mensalão, alçariam sua candidatura as alturas, pois o povo iria ver que ela é contra todo e qualquer tipo de ato de corrupção.
    Infelizmente, o PT, comete um erro grasso de manter estes ainda sob a guarda do partido.
    Também não vejo em Marina, o messias que todos propagam, também acredito que seria saltar no escuro, apostar muito alto, em uma candidata que não tem firmeza em suas afirmações e que se esconde por trás de uma máscara indefinida. Votaria nela?…, particularmente vejo como dar um tiro no pé tal atitude.
    Falando de atitudes do atual governo como a venda dos principais aeroportos do país, justamente os mais rentáveis, contribuíram para uma queda acentuada de arrecadação para a INFRAERO que a imprensa malha por não saber que os interesses de privatização dos aeroportos brasileiros não é sonho exclusivo da gestão Dilma, mas tem origem no PSDB de FHC. Estão sucateando e doando este setor estratégico do país às mãos dos estrangeiros,questão muito delicada mesmo!
    Observo o descontentamento de grande parte das pessoas que confiaram no modelo PT de gerir o nosso país dando chances ao crescimento dos mais desfavorecidos, mas que patina ao dar bença aos bandidos que fazem parte deste partido.
    Sinceramente, para mim, a eleição ainda é uma incógnita, onde a única certeza que tenho é que JAMAIS VOTAREI NO PSDB!

    Curtir

  5. Quem tem razão é a Luciana Genro: são muitíssimo parecidos a Dilma, o Aécio e a própria Marina, no que respeita ao programa de governo.

    A questão é que os dois primeiros são, pra dizer o menos, muito incompetentes. E neoliberalismo, além do psdb, quem o faz confessadamente no Brasil é quem governa o país há 12 anos. Aliás, há até confissão em tal sentido que responde pelo pomposo nome de “Carta ao Povo Brasileiro”, escrita ali por 2002.

    Aliás, a prova do neoliberalismo do atual governo está na própria estratégia traçada pelo artigo postado para a candidatura da reeleição retomar a dianteira eleitoral. É só conferir as propostas e verificar que o teor delas é exatamente uma boa parte de tudo daquilo do qual eles se afastaram depois que assumiram o poder. E a parte mais interessante é a proposta do abandono do discurso midiático da fantasiosa criação da nova classe média.

    De fato, se metade do que compõe a lista das medidas estratégicas para a retomada da dianteira eleitoral tivesse sido adotada ao longo destes 12 anos de governo eu mesmo votaria 13 novamente, aliás jamais teria deixado de votar.

    Afinal, quem se dedicasse séria e verdadeiramente, dentre outros importantíssimos projetos, ao fim do fator previdenciário, ao implemento da jornada de 40 horas, às reformas estruturais e não ficasse cinicamente adotando discurso ilusório de que foi instituída uma nova classe média, certamente teria toda a credibilidade quando prometesse que no próximo governo cuidaria de fazer em prol da coletividade aquilo de que a coletividade realmente precisa que seja feito.

    Por outras palavras, se depender da adoção da estratégia sugerida no artigo: tchau reeleição! Afinal, eles jamais vão adotar tais medidas porque contrárias ao neoliberalíssimo “programa de poder” deles. O populismo das “bolsas” e quejandos é só o que há.

    Mas, a Marina que se cuide, pois as bolsas estão longe de ser o melhor para o Brasil, mas constituem ameaça poderosíssima.

    Curtir

  6. No mais, acaso a Marina consiga vencer “as bolsas” (pois como diz acertadamente o titular do blog, os dados ainda rolam), cumpre dizer que é pessoa que desfruta da vantagem de constituir uma esperança, inclusive por toda a sua história de vida, a qual é um testemunho de êxito, nada obstante todas as dificuldades.

    Pode até ser uma esperança vã, como foi no caso do antecessor imediato da atual mandatária máxima do Brasil, o qual tinha história de vida semelhante à história da Marina. Esperança esta que eu cultivei e votei por quase 20 anos.

    Logo, se há hienas, estas não exultam, em verdade, num comportamento avesso, choram copiosamente, temendo ter de se afastar daquilo em que elas próprias transformaram naquele seu alimento preferido, do qual se aproveitam para engordar já há 12 anos.

    Curtir

  7. Na verdade o blogueiro está fazendo, ao contrário do que pensa, propaganda positiva pra Marina. Ela que tem míseros 4 minutos no horário eleitoral, com as mídias, pró e contra, falando do nome dela 24 horas por dia, acabam colocando ela em evidência.

    Curtir

    1. Que seja, amigo Fernando. Não se preocupe com os efeitos das postagens, pense nos benefícios de estimular o debate. Debater ideias é sempre saudável, creia.

      Curtir

  8. Aliás, o parágrafo final deste artigo confessa inegavelmente que a situação governa sob o padrão direitista, tanto que oferece como um dos caminhos da vitória e da reeleição, investir num programa de esquerda.

    Ocorre que após 12 anos, só um programa de esquerda talvez já não baste, quando se sabe, confessado que foi no próprio artigo que ora se comenta, que o governo não praticou as principais condutas de esquerda e por isso não tem credibilidade para prometer que vai fazê-lo agora.

    Mas, é bom não se iludir pois são ilimitados os artifícios desta vida para aqueles que não querem largar o poder. E as “bolsas” estão aí mesmo, só escutando a conversa.

    Curtir

Deixar mensagem para lopesjunior Cancelar resposta