O anti-Nelson Rodrigues

Por Paulo Nogueira 
unnamed (86)O Anti-Nelson Rodrigues é uma das últimas peças de Nelson Rodrigues. O nome extravagante tem um motivo óbvio: o final é feliz.
Um beijo cinematográfico sela a história: os dois protagonistas estarão juntos para sempre, como num conto de fadas.
Isto é o anti-Nelson Rodrigues: suas peças jamais terminaram bem.
Fora do terreno da dramaturgia, temos hoje no Brasil o anti-Nelson Rodrigues. Paradoxalmente, é alguém que se considera um discípulo apaixonado de Nelson Rodrigues e o cita obsessivamente.
É Arnaldo Jabor.
Jabor é o anti-Nelson Rodrigues porque faz exatamente o oposto daquilo a que o maior dramaturgo brasileiro se dedicou com tamanho empenho.
Nelson Rodrigues gastou boa parte de seus incontáveis artigos nos jornais identificando, e combatendo, uma patologia nacional.
Ele dizia que o brasileiro era um Narciso às avessas, alguém que cospe na própria imagem.
Para ele, o futebol retirou o brasileiro da sarjeta emocional em que se arrastava desde sempre. O primeiro título mundial, em 1958 na Suécia, fez o brasileiro finalmente se orgulhar de seu país, e de si mesmo.
Isto, sabia ele, era fundamental para a construção do país. Você não constrói nada – uma família, uma empresa, muito menos um país – sem que as pessoas sintam respeito por elas mesmas e pelo grupo a que pertencem.
O anti-Nelson Rodrigues faz o oposto.
Em seus artigos e comentários no rádio e na tevê, Jabor se esmera em depreciar o Brasil e os brasileiros.
Numa fala na CBN que viralizou na internet, e já é um clássico das grandes asneiras da mídia, Jabor disse algum tempo antes da Copa que o Brasil daria um vexame mundial.
Nossa incompetência para organizar um evento de tal envergadura ficaria brutalmente exposta, segundo ele.
Veio a Copa e ela foi o anti-Jabor.
No mesmo texto em que vaticinou o apocalipse futebolístico, ele disse que o Brasil não é sequer o terceiro mundo. É o quarto.
Os ouvintes e leitores de Jabor são regularmente massacrados com a mensagem de que o país deles não presta – e nem eles.
Razões objetivas para detestar o Brasil ele não tem. Em que outro país teria o espaço na mídia que o Brasil lhe oferece? Em que outro país faria palestras a 20 mil reais ou mais a hora?
O Brasil é uma mãe amorosa para Jabor. E Jabor devolve o amor com desprezo. Ele lembra, neste sentido, o Oswaldinho de o Anti-Nelson Rodrigues. A mãe o adora, e ele a despreza com ferocidade. “A senhora sempre liga na hora errada”, grita Oswaldinho ao telefone numa cena à mãe rejeitada.
Por que tanto ódio?
É alguma coisa que só o próprio Jabor pode responder. Eis um homem atormentado, você logo percebe.
Teria sido o fracasso no cinema o responsável pela raiva que inunda Jabor? Só ele sabe.
O que ele talvez não saiba é o mal que, como Anti-Nelson Rodrigues, faz aos que o ouvem no rádio, o leem nos jornais e o vêem na tevê.
Jabor projeta sobre eles, impiedosamente, toda a sua amargura, todas as suas frustrações, todo o seu rancor.
Os que hoje o levam a sério um dia, caso acordem, podem desejar algum tipo de indenização por terem sido devastados numa coisa tão importante como o respeito por si mesmos.
É uma conta que jamais poderá ser paga – nem pelo anti-Nelson Rodrigues que atende por Jabor e nem por ninguém.

7 comentários em “O anti-Nelson Rodrigues

  1. O interessante é que numa das imagens do jogo do Brasil em brasilia, ele foi filmado de terno sentado dentro da estádio no maior conforto, como se nada estivesse acontecendo, talvez admirando a beleza do campo, ou refletindo sobre sua sindrome de vira-lata.

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  2. Quem cospe ódio semeia o mal. Deixei de ler/ouvir o Jabor, não por questões ideológicas, mas por que suas linhas são recheadas de ódio. Isso não faz bem a ninguém.

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  3. Não percebo ódio nos comentários do Arnaldo Jabor e gosto de ouvir os mesmos, mesmo discordando de alguns.

    Segundo o meu entendimento critica o que considera inadequado ao Brasil, independentemente da origem: esquerda ou direita.

    Também não considero que o mesmo não goste do Brasil e muito menos o despreze.

    Acrescento ainda que suas críticas não se restringem apenas a fatos/situações ocorrIdos no Brasil, mas em outros países também.

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  4. As críticas que o Jabour faz hoje, as certas e as erradas, são as mesmas que se faziam há 12 anos atrás. E as reações contrárias também são as mesmas, tanto sobre as certas, quanto sobre as erradas. Mudaram só os atores, da critica e da reação. Seria bom se tivesse mudado o Brasil.

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    1. Ao contrário, amigo Oliveira. Jabor é uma contradição ambulante. Ele foi um homem que construiu carreira exitosa e granjeou prestígio pelas ideias libertárias, apostas num país destinado a ser realmente grande e forte preocupação com as classes menos favorecidas. O tempo lhe fez muito mal. Tornou-se um sujeito amargo, com discurso confuso e tosco, enxergando exclusivamente o lado ruim das coisas e transformando-se em guru (talvez até voluntariamente) de uma elite que sempre olhou para o verdadeiro Brasil com indisfarçável nojo. Seu papel hoje é de um reles bobo da corte, infelizmente.

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  5. É, amigo Gerson, pode ser…
    Mas, a verdade é que as coisas, de fato, no mais dss vezes têm mesmo seu lado ruim. E alguém,quem quer que seja, precisa apontá-lo, já que o lado bom não falta quem o propale.

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