Por Gerson Nogueira
Mais do que propiciar a passagem à final da Copa das Confederações, a vitória suada do Brasil sobre o Uruguai trouxe uma excelente notícia: Felipão já tem um time para disputar a Copa do Mundo. Faltam ajustes de posicionamento, definição de jogadas no ataque e mais segurança defensiva, mas já é uma seleção de verdade.
Além da persistência do técnico em utilizar a mesma escalação desde os amistosos preparatórios, o time se beneficia da qualidade de um pequeno grupo de jogadores – Neymar, Paulinho, Fred, Tiago Silva – e do esforço de alguns coadjuvantes – Marcelo, Luiz Gustavo, Daniel Alves.
O embate de ontem foi duro, disputado palmo a palmo e marcado por muitas interrupções geradas pela catimba. Tudo absolutamente normal na tradição do clássico. A diferença é que, depois de muito tempo, o Brasil foi tão ou mais aguerrido que o Uruguai.
Desde as primeiras divididas já era possível observar que os comandados de Felipão encaravam a partida como uma autêntica batalha. Ponto de vista corretíssimo quando se tem a Celeste Olímpica pela frente. Essa firme disposição foi o que, no fim das contas, conduziu o Brasil à vitória.
Até a metade do primeiro tempo prevaleceu a marcação uruguaia, eficiente por se posicionar à frente da linha de meio-de-campo. Surpreendido pelo povoamento do setor, o Brasil não encontrava caminhos para atacar. Sem inspiração, Oscar tocava para os lados. Neymar, muito policiado, não conseguia avançar com a bola.
Aí veio o lance que pode ter mudado a história do jogo. A penalidade boba cometida por David Luiz, que agarrou acintosamente Lugano dentro da área, foi mal cobrada por Forlán e consagrou a experiência de Julio César. Os dois foram parceiros na Inter de Milão e o goleiro pulou para o lado certo, espalmando a bola para escanteio. É verdade que se adiantou uns dois metros, mas o árbitro chileno ignorou o pulo.
Depois do susto, o Brasil passou a equilibrar as ações. Mais pela força do que pelo talento, mas de maneira eficiente. Luiz Gustavo começou a aparecer bem na marcação, travando duelo interessante com os volantes uruguaios e permitindo a Paulinho liberdade para trocar passes no ataque.
No segundo contra-ataque que puxou no jogo, livre para pensar e agir, o volante lançou Neymar na área. A bola foi dominada pelo atacante e o chute cruzado chegou a Fred, que bateu de canela para fazer o gol. A vantagem não expressava o equilíbrio em campo, mas premiava a objetividade que Felipão tanto persegue.
Do lado uruguaio, contribuindo luxuosamente para a grandeza do confronto, o trio atacante Forlám-Suárez-Cavani não permitiu um minuto de sossego para a zaga brazuca. Até Tiago Silva, o menos estabanado dos nossos beques, andou dando bico para escanteio. David Luiz, além do penal, andou abusando da rispidez.
Cavani, principalmente, deu muito trabalho aos marcadores. Rápido e corpulento, abria caminho à força e ameaçou várias vezes antes de finalizar para as redes, aproveitando uma saída errada de Tiago Silva. Depois do gol, ainda teve fôlego para destruir ataques brasileiros pelo lado direito de sua defesa. Foi um dos principais destaques da tarde no Mineirão.
O outro nome do jogo foi Paulinho, que marcou de cabeça, também aos 41 minutos (como Fred no primeiro tempo), o gol da vitória. Bem colocado, atrás dos zagueiros uruguaios, pulou antes da bola chegar e apenas cumprimentou para as redes, como os grandes cabeceadores fazem. Quando esse gol ocorreu, o Brasil já era muito superior, beneficiando-se das jogadas rápidas com Bernard pela ponta direita e Hernanes armando no meio.
Felipão saiu pulando feito criança depois do triunfo, reconheceu que não houve uma grande atuação e louvou a disposição férrea de seus jogadores. Deu a senha para entender sua fórmula de montar uma seleção às pressas e a tempo de disputar o título mundial daqui a um ano.
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À beira de um ataque de nervos
A decisão de adiar a assembleia-geral que iria discutir hoje a reforma dos estatutos do clube foi do presidente do Conselho Deliberativo do Remo, Manuel Ribeiro. O mesmo que já se posicionou abertamente contra as ideias de mudanças e, particularmente, contra a proposta de eleições diretas. O Condel justificou a transferência para agosto pela necessidade de organizar melhor as muitas emendas apresentadas.
Pode ter sido uma medida de caráter técnico, mas soou como desrespeito à oposição cada vez mais organizada entre sócios remidos e proprietários. É um grupo que se distancia dos conselheiros tanto pela questão etária quando pelo inconformismo em relação à crise que assola o clube desde o fim do Campeonato Paraense. A temperatura não baixou nem com o afastamento solicitado pelo presidente Sérgio Cabeça.
Por outro lado, a reação dos oposicionistas ao adiamento não fica atrás em inabilidade e grosseria. Abusando de adjetivos ofensivos ao presidente do Condel, os líderes dos grupos Assoremo, Democracia Azulina e Remocracia, turbinados por representantes de torcidas organizadas, enveredam por um caminho que não leva a lugar nenhum. Um ato público contra Manuel Ribeiro foi convocado para hoje (às 18h) no Largo do Redondo. Além da manifestação, a oposição insinua ameaças ao benemérito.
A radicalização do discurso só cria mais entraves ao processo de reformulação administração e política do clube. Aprofunda o abismo existente hoje entre a velha e a jovem guarda, derrubando a via do diálogo. Mais do que nunca, o bom senso precisa prevalecer. Pelo bem do Remo.
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Ao mestre, com carinho
A coluna de hoje é dedicada ao amigo Afonso Klautau, jornalista dos bons e mestre de toda uma geração de profissionais. Morreu ontem, aos 60 anos. Deixa um legado de seriedade e conhecimento. Tive a honra de aprender com ele muito do que pouco sei. Registro aqui, modestamente, minha gratidão. Obrigado por tudo.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 27)