Por Gerson Nogueira
Às voltas com tremendos aperreios em campo nas semifinais do returno, o Remo começa também a ter desnudados seus graves problemas de gestão. Um grupo de associados do clube, cansado de esperar pela publicação das contas e balanços, decidiu interpelar publicamente o presidente Sérgio Cabeça.
Apesar do tom educado da mensagem endereçada ao dirigente, as perguntas são pontuais e contundentes. A Associação dos Sócios do Remo (Assoremo) quer saber a destinação do dinheiro arrecadado nos clássicos Re-Pa do campeonato e no jogo contra o Flamengo pela Copa do Brasil. Exige explicações sobre a dívida com os funcionários e sobre o débito trabalhista do clube.
A entidade quer saber, ainda, a real situação do programa sócio-torcedor, que envolve a firma Nação Azul. Indaga sobre a real quantidade de sócios (proprietários e remidos), quites ou inadimplentes. E cobra providências quanto ao esporte amador e à reconstrução do ginásio Serra Freire. Caso não seja atendida, a Assoremo pretende recorrer à Justiça para ter acesso às informações desejadas.
São perguntas que todos os azulinos de boa cepa devem fazer à diretoria. É inconcebível que o dinheiro (cerca de R$ 2,4 milhões) obtido com as arrecadações do primeiro trimestre da temporada não tenha sido utilizado para resolver a pendência com os funcionários, conforme promessa dos próprios dirigentes.
Soa estranho, ainda, que a direção se recuse a abrir as contas, revelando os números de receita e despesa. Clube mais antigo do Estado, o Remo vem se notabilizando por ser também o mais arcaico quanto à gestão. Seus cardeais, salvo exceções honrosas, têm se esmerado em travar a implantação de práticas democráticas na agremiação.
A proposta de eleições diretas para presidente, que já foi implantada no Paissandu, vem sendo postergada há cinco gestões. Os conselheiros se revezam na tarefa de engavetar e protelar. Beneméritos de grande influência no clube, como Manoel Ribeiro e Rafael Levy, posicionaram-se claramente contra a iniciativa.
Dono de imensa e apaixonada torcida, o Remo vive com um pé no atraso por força das correntes políticas que o dominam. São caciques que agem como se o clube lhes pertencesse, fechando-se em torno de um Conselho Deliberativo que raramente delibera sobre alguma coisa.
A intervenção da Assoremo, apesar de suas limitações estatutárias, deve ser saudada como um grito em defesa dos interesses do torcedor, que repudia o domínio do clube pelos conselheiros e exige reformas imediatas. É o passo inicial também para uma tentativa de organização dos sócios, capazes de no futuro assumirem posições de comando no clube.
O impasse envolvendo o futebol profissional, que há cinco anos busca se estabilizar na Série D e sofre na disputa do campeonato estadual, é apenas a parte mais visível dos problemas. Por ser mais apaixonante, o futebol concentra as expectativas e atenções, mas a parte administrativa não pode ser esquecida pelos torcedores.
No fim das contas, os desmandos da gestão se refletem na parte mais visível da engrenagem. O futebol, emparedado pela política aloprada de contratações e desatinos como o pagamento de bicho por jogo, serve para expor a parte pública das mazelas azulinas. O lado positivo é que, antes atento apenas ao que rolava em campo, o torcedor começa a se libertar da alienação. Pode ser o começo da redenção.
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Torcedor quer mais conforto
Não há segredo. O que afugenta o torcedor dos estádios no Brasil é, principalmente, a má condição dos estádios. Foi o motivo mais citado para a persistente queda de público no futebol, à frente de outros fatores, como calendário, preço de ingressos e violência.
A constatação vem de pesquisa feita pela consultoria Trevisan Escola de Negócios e pela Pluri Consultoria, durante o seminário “Calendário do Futebol”, realizado no final de março pela Brasil Sport Market. O item recebeu 22% dos votos dos participantes.
O desconforto e a insegurança das instalações esportivas das principais praças esportivas são apontados como maiores causas da fuga do torcedor. O calendário, com a exagerada quantidade de jogos de baixa qualidade, foi mencionado por 19% dos consultados. O alto preço dos ingressos (18%) é o terceiro fator. Em quarto, vem a violência (15%), principalmente por parte das torcidas organizadas.
Com a utilização das 14 novas arenas construídas para a Copa do Mundo, a tendência é de recuperação gradual de público, embora a novidade venha acompanhada de inevitável elitização do futebol no país.
Outro dado interessante da pesquisa foi a aprovação (82%) dos campeonatos estaduais, embora bem próxima da preferência (79%) pelo campeonato nacional durante o ano todo.
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Os 85 anos da Rádio Clube
O amigo Pedro Paulo da Costa Mota, presidente da Associação dos Servidores da Delegacia Federal de Agricultura (Asdefa), se antecipa e homenageia a nossa a Rádio Clube do Pará pelos seus 85 anos, que transcorrem amanhã. Ele parabeniza a emissora pelos “relevantes serviços prestados à sociedade paraense, através da comunicação jornalística, esportiva e social, sempre pautada nos pilares da responsabilidade e do comprometimento, comemorados no próximo dia 22 de abril. A todos que fazem a Rádio Clube do Pará (A Poderosa), nossas congratulações e votos de muitas felicidades”.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 21)