
Por Gerson Nogueira
A derrota não foi um resultado anormal. Placar de 1 a 0 para o Flamengo estava dentro do esperado, como seria também se favorecesse ao Remo. Do lado da torcida paraense, a lamentar a ausência de pontaria dos atacantes remistas, que desperdiçaram pelo menos três grandes oportunidades para marcar, proporcionadas pela atrapalhada defesa rubro-negra.
Val Barreto perdeu três chances (duas delas cabeceando mal) e Leandro Cearense desperdiçou outras tantas, inclusive uma, aos 36 minutos, quando podia ter passado para Berg que entrava livre pelo lado esquerdo. Chutou prensado e sem equilíbrio, para tranquila defesa de Felipe.
Na realidade, o Remo não soube aproveitar as muitas facilidades que o Flamengo deu ao longo de toda a partida. No primeiro tempo, depois de fazer um ataque fulminante logo de cara, o visitante se encolheu e o Remo pressionou bastante, meio na valentona. Esbanjava vontade, mas errava demais nos passes e deslocamentos.
Tanto esforço rendeu dois bons momentos com Val Barreto, que incomodava os zagueiros e abria espaços para Capela e Cearense. Mas, aos poucos, a entrega foi dando lugar a um certo cansaço, notado pela dificuldade que os marcadores remistas tinham em acompanhar jogadores mais ariscos, como Rafinha, Gabriel e Rodolfo.
Sem valorizar a posse da bola, o Remo se atrapalhava sozinho, desperdiçando boas saídas de contra-ataque pela lentidão de Gerônimo e Nata, os volantes preferidos do técnico Flávio Araújo. Na marcação, ambos até cumpriam seu papel com eficiência, mas não acertavam passes curtos. O Fla recuperava a bola e saía tocando, criando problemas para o trio de zagueiros.
Por incrível que pareça, o inconstante Galhardo fez falta ontem, pois é um jogador que toma iniciativa e busca os atalhos com habilidade. Nem sempre acerta, mas é inquieto. O Remo teve ontem jogadores disciplinados e obedientes às orientações do treinador, mas de uma omissão absurda nos momentos que exigem desprendimento.
No segundo tempo, novo sufoco do ataque remista nos primeiros minutos. O meio-de-campo entrou mais avançado, pressionando a saída de bola do Flamengo e mostrando Capela mais desenvolto. O expediente deu certo. Cearense perdeu bons lances seguidamente. O problema é que, aos poucos, como a bola não entrava, as ligações diretas voltaram a prevalecer. O time sofria também com a inoperância do ala direito Válber.
Renato Abreu, que havia substituído Léo Moura, entrou com a missão de tornar a meia-cancha rubro-negra mais atenta à marcação, liberando Rodolfo e Gabriel para acompanharem Rafinha e Hernane no ataque. De tanto roubar bolas na intermediária, o Fla acabou se impondo pela facilidade nas triangulações.
Bem vigiado do lado direito, Rafinha resolveu arriscar pela esquerda e se deu bem ao ficar no mano a mano com Zé Antonio. Balançou para um lado, gingou para o outro e foi em frente para marcar um golaço, após disparo rasteiro no canto esquerdo do goleiro Fabiano.
Não era um escore justo pelo equilíbrio reinante, mas acabou premiando a objetividade dos rubro-negros. Mesmo tímido nas investidas, o time de Jorginho foi mais efetivo e aproveitou bem um bom momento de seu ataque.
Ao Remo restou o consolo de ter evitado a eliminação precoce (com direito a embolsar toda a renda da noite) e a certeza de que o time está buscando se reencontrar com o que tinha de melhor no primeiro turno do Parazão: a disposição para lutar pelos resultados, mesmo que tecnicamente não se mostrasse habilitado para isso. Pode ser o atalho para se reerguer no campeonato nos confrontos decisivos contra o Paissandu pelas semifinais.
O pesadelo das escolhas erradas
Val Barreto, Fabiano e Carlinho Rech foram os destaques individuais do Remo. Barreto se saiu bem pela movimentação constante e o destemor diante dos beques cariocas. Fabiano mostrou segurança diante da pressão aérea do Fla. Rech foi o principal zagueiro, tanto quando ficava na espera quanto nas antecipações.
Cearense podia ter se consagrado, mas errou muito nos arremates. O técnico Flávio Araújo, que estranhamente escalou o time sem Jonathan, seu melhor volante, conseguiu se atrapalhar também nas substituições. Demorou a botar Fábio Paulista, que deveria ter entrado ainda no primeiro tempo ocupando a ala direita, onde Válber apenas fazia figuração e não aproveitava a larga avenida ali existente.
As escolhas do treinador, há muito questionadas, começam a se tornar um pesadelo para o Remo, que podia render bem mais se optasse por soluções caseiras – como Alex Ruan e Guilherme. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 04)