Por Gerson Nogueira
Lecheva queima pestanas para tentar reorganizar seu quadrado de meio-campo, desfalcado de seu ponto de equilíbrio que é Vânderson (suspenso pelo terceiro cartão amarelo). Quando o Paissandu vivia sob os sacolejos da instabilidade técnica, podia-se temer pela decisão do treinador. Hoje, depois que o time atravessou a parte mais árdua e superou suas próprias hesitações, a opção encontrada certamente dará conta do recado.
Nos treinos da semana, o veterano Junior Maranhão saiu em vantagem, cotado para fazer parceria na cabeça-de-área com Ricardo Capanema. Lecheva também tem observado o jovem Neto, mas o candidato mais forte na concorrência pela vaga com Maranhão é o versátil Leandrinho.
Sob o comando de Roberval Davino, Leandrinho jogou até como lateral-direito e meia ofensivo algumas vezes, sem decepcionar. Afeito ao passe e às jogadas em velocidade, é um jogador para situações de desafogo, quando o contra-ataque está à disposição. Contra o Icasa, em Juazeiro do Norte, domingo, essa situação seguramente vai ocorrer.
Cabe a Lecheva medir os riscos de apostar no jogo de contra-ataque, expondo-se à pressão dos donos da casa ou jogar normalmente, buscando tomar a iniciativa e manobrando no ataque desde o começo. Claro que a alternativa representada por Junior Maranhão é mais conservadora, pois é um jogador que sai pouco de sua posição. Seu forte é a marcação no meio-de-campo, mas não é exatamente um especialista no passe.
A vantagem de Maranhão é a experiência em jornadas no futebol nordestino e contra o próprio Icasa, time que conhece bem. Tem semelhança com Vânderson pela experiência e, como se sabe, a serenidade na meia cancha é um item fundamental em confronto decisivo.
Neto, a terceira opção, já foi muito utilizado por Lecheva no Campeonato Paraense e até na Copa do Brasil. A questão é que, além da menor experiência, tem sido pouco aproveitado. E, devido ao longo tempo na reserva, acabou não mantendo o mesmo nível de regularidade. Numa comparação direta com Maranhão e Leandrinho, fica em desvantagem. Arrisco dizer, porém, que qualquer que seja o escolhido substituirá bem ao dono da posição.
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Teimosia histórica
Os velhos gestores que tomam conta do futebol do Remo parecem inflexíveis quanto a ceder nacos de poder. A recente manifestação do presidente do Conselho Deliberativo do clube, Manoel Ribeiro, veio se juntar ao repúdio demonstrado pelo benemérito e ex-presidente Rafael Levy meses antes.
Ambos foram duros, indelicados até, quando confrontados com a proposta de eleições diretas para a presidência do clube. Um grupo de jovens associados e torcedores levou à frente um movimento de reivindicação, mas o esforço – materializado na carreata de domingo passado – acabou frustrado pelo posicionamento frio dos conselheiros.
Rejeitar a ideia do pleito direto é brigar com a modernidade e desdenhar dos princípios democráticos. Transparência e fiscalização são itens essenciais para medir a gestão de um clube. O Remo, há décadas, é comandado por dirigentes que se revezam na presidência, raramente abrindo oportunidades para cristãos-novos.
Levy, por sinal, foi o último presidente com esse perfil. Coincidência ou não, acabou levantando o maior título da história do clube, o de campeão brasileiro da Série C 2005. Pois o mesmo dirigente agora se volta contra um mecanismo que pode significar o ponto de elevação do Remo entre o atraso prolongado e a modernidade tão almejada.
Eleições diretas, nos moldes do que o Paissandu vai fazer no fim do ano, não representam panaceia para todos os males, mas certamente ajudam a fazer com que um clube se entregue a projetos mais abertos e legitimados pela maioria de seus sócios e torcedores.
Infelizmente, os donos do clube seguem de braços dados com o obscurantismo. E essa cegueira pode tornar o Remo ainda mais atrasado do que já é.
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Direto do blog
“Lamentavelmente não há mais lugar para o futebol do Norte nas divisões principais do futebol brasileiro. Uma rápida pesquisa mostra que em 2001, ano que o Paissandu subiu, o Norte detinha nada menos que sete clubes na série B. Hoje não tem nenhum. O futebol do Norte ficou defasado e, agora, com os clubes-empresa, onde elevados investimentos fazem a diferença, ficou empobrecido para competir contra os grandes clubes. O torcedor de Belém não tem renda para alavancar projetos de sócio-torcedor e outras ações de marketing para arrecadação. Regiões ricas tem clubes ricos, regiões pobres, estão relegadas a clubes pobres e às divisões inferiores”.
De Antonio Santos, criticando as estruturas corroídas do nosso futebol.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 26)