
Por Gerson Nogueira
Rafael Oliveira pode ter marcado, aos 41 minutos do segundo tempo, o gol da classificação à próxima fase do Brasileiro da Série C para o Paissandu. Por tão improvável e pelas dificuldades no lance, com bate-rebate na defesa do Cuiabá, a finalização certeira assegurou o empate salvador e abriu excelentes possibilidades para o Paissandu nas próximas rodadas.
É claro que o futebol, como a vida, requer sempre uma ajudinha da sorte. Gosto de lembrar sempre a velha frase de Nelson Rodrigues, segundo a qual é preciso ser sortudo até na hora de atravessar a rua. Ontem, em Cuiabá, apesar de ter realizado um jogo razoável, principalmente na etapa final, o Paissandu caminhava para um resultado extremamente danoso.
Perder para o Cuiabá significaria abrir mão de um lugar no G4 e permitir a ultrapassagem por outras equipes no pelotão que tem cinco times mais ou menos embolados. O técnico Lecheva, tão elogiado pela escalação que garantiu a única vitória por goleada na competição (contra o Treze-PB), errou por desconsiderar o fator climático. Pode-se dizer que laçou o boi com um gol no apagar das luzes, quando a derrota já era dada como certa.
Como previsto aqui na coluna de domingo, jogar sob sol forte com três veteranos no meio-de-campo é sempre temerário. A aposta no trio Vânderson-Gaibu-Harisson, todos na faixa dos 35 anos, mostrou-se equivocada e se refletiu na fraca movimentação do meio-campo durante o primeiro tempo.
Os avanços do Cuiabá e suas falhas de cobertura não eram explorados, pois o Paissandu errava passes e perdia tempo demais na ligação entre armação e ataque. É bom não esquecer que um dos trunfos do Paissandu era justamente aproveitar os esperados avanços do Cuiabá em busca do gol.
O problema é que, pouco dinâmica, a meia-cancha não funcionava e o atacantes Kiros e Tiago Potiguar ficavam isolados. Só depois do gol de Fernando, aos 24 minutos, foi que se esboçou uma reação. Potiguar acertou disparo na trave, mas o Cuiabá permaneceu senhor das ações, principalmente porque usava três atacantes e pressionava sempre com perigo.
No segundo tempo, com Rafael Oliveira substituindo a Kiros, o Paissandu ganhou em movimentação. Ao lado de Potiguar, Rafael saía para buscar jogo e conseguiu dar vida ao até então inexistente ataque bicolor. Logo depois, Alex Gaibu foi substituído por Lineker, que não encontrou espaço e pouco contribuiu.
Como o tempo avançava e o placar se mantinha desfavorável, Lecheva tirou Vânderson e lançou Moisés. Em tese, o Paissandu passava a atacar com três homens, mais o reforço de Lineker. Na prática, porém, o time continuou travado na ligação e somente Rafael e Potiguar criavam problemas para a defensiva do Cuiabá.
Quando o empate veio, aos 41 minutos, o Cuiabá já administrava o resultado. O gol saiu mais na base da valentia, com méritos de Rafael, que acreditou na jogada e conseguiu um arremate certeiro. O empate, mesmo não sendo o melhor dos resultados, mantém o Paissandu com boas chances de classificação, mas erros estratégicos na formação do time não podem mais se repetir. (Foto: MÁRIO QUADROS/Bola)
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Pecado da distração
A reação dos dirigentes do Paissandu e a escalação dos veteranos no meio-de-campo num jogo que exigia velocidade e fôlego demonstram que as informações sobre a temperatura em Cuiabá não foram levadas em conta pelos bicolores.
No primeiro tempo, o estádio Dutrinha registrava 37 graus, com 44% de umidade relativa do ar. Quando terminaram os primeiros 45 minutos, tinha jogador de língua de fora, ensejando as primeiras substituições.
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Mão da Santa?
E o tal tabu do Círio de Nazaré continua mais vivo do que nunca. O Paissandu não conseguiu, na era moderna, vencer nenhuma partida disputada na véspera ou no domingo da procissão. Ontem, pelo menos, conseguiu evitar derrota quase certa.
Por outro lado, a Santinha pode ter colaborado na combinação de resultados. A derrota do Santa Cruz para o Fortaleza, no sábado, e o empate do Águia com o Luverdense, ontem, permitiram ao Papão permanecer no G4.
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Apito generoso
Erros de arbitragem fazem parte da rotina do futebol brasileiro, mas as falhas ocorridas no jogo Fluminense x Ponte Preta passaram dos limites do aceitável. No pênalti que redundou no primeiro gol, o árbitro interpretou como faltoso um toque de mão claramente acidental e sem intenção.
Depois, a falta que deu origem ao segundo gol tricolor foi um primor de lambança da arbitragem. O auxiliar apontou falta em favor da defesa da Ponte, como todo mundo viu, mas o árbitro inverteu e premiou o infrator.
Além de ter o melhor elenco do torneio, o Flu parece estar bem reforçado nos bastidores. Como ocorreu com todos os campeões recentes, o time das Laranjeiras dificilmente sofre com erros dos apitadores. Quando alguém erra, é sempre em seu favor.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 15)