Por Gerson Nogueira
O Remo importou este ano algo em torno de 50 jogadores. Com muito esforço, a torcida vai lembrar os nomes de uns cinco (e não exatamente pelo talento demonstrado). O Paissandu segue trilha parecida, com quase 40 contratações na temporada – e ainda estamos no começo de outubro. Agora, diante da contusão do goleiro titular, outro já está sendo providenciado. Para não perder o hábito, a diretoria aproveita e lança-se na busca desesperada por mais um centroavante.
A mania de contratar sem critérios chegou ao limite máximo, com direito a inúmeros tropeções mal explicados pelo caminho, como a recente trapalhada em torno da negociação (desfeita em 24 horas) com Marcelinho Paraíba.
O principal agente no processo de sustentação do futebol é a torcida. Ironicamente, é sempre mantida à distância das decisões, sem direito a voz ou ao simples esperneio. Jogadores e técnicos são profissionais. Dirigentes são amadores apenas no nome. De fato, a única parte realmente desinteressada da história é o torcedor, que em determinados momentos é usado como massa de manobra.
Em meio a uma das maiores crises do nosso futebol, o fã dos grandes clubes paraenses é obrigado a acompanhar, impotente, a importação em massa de jogadores de eficiência duvidosa e comprometimento zero com as instituições.
Nem a eliminação do Remo da Série D, sendo relegado ao limbo pela segunda vez, serviu de alerta para o maior rival. No afã de corrigir erros de planejamento e no desespero para tentar salvar a temporada, o Paissandu não estabelece limites na parceria com empresários, cujo único objetivo é arranjar mercado para atletas desempregados, à custa de gordos comissionamentos.
A prática, largamente conhecida de todas, é predatória e lesiva aos clubes. Os jovens revelados nas divisões de base são preteridos para que os “reforços” tenham espaço e vez. E que ninguém se iluda com a balela de que a cartolagem elege esse modelo como prioridade por ignorância ou inocência. Não, o processo é menos ingênuo do que supõe nossa vã filosofia.
Não deixa rastros, infelizmente, por isso não se pode (ainda) chegar aos responsáveis por cada desmando ou prejuízo às contas de Remo e Paissandu. Mas é certo que a importação em massa de jogadores visa muito mais satisfazer interesses particulares do que suprir necessidades reais dos times.
Como explicar que Remo e Paissandu tenham ignorado jogadores regionais que se destacaram no Parazão, optando preferencialmente pelos importados? Fico apenas com uma situação exemplar: Perema, Ricardinho e Jader foram três peças que ganharam reconhecimento pelo bom futebol mostrado com a camisa do São Francisco, mas nenhum dos clubes da capital se interessou por eles.
É provável que não tenham reforçado Remo ou Paissandu pelo fato singelo de que custam pouco ou, pior ainda, porque não pertencem ao seleto cast de empresários descolados. Caso estivessem jogando no interior goiano ou no atraente mercado paulista, teriam vaga certa na lista de aquisições de remistas e bicolores.
De uma vez por todas, torcedores devem assumir uma posição de protagonismo no processo. Mas, para fiscalizar operações suspeitas e exigir que dirigentes prestem contas de seus atos, precisam assumir um papel político dentro dos clubes. O caminho natural é se associar para conseguir influir nos destinos dessas instituições.
Do contrário, permanecerão no papel passivo de chorar no muro das lamentações ou fazer aqueles protestos inócuos depois de cada vexame nos campos de futebol. É tempo de ação.
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Lecheva parece ter encontrado a formação quase ideal do Paissandu para a reta final da fase classificatória da Série C. A opção pela dupla Moisés-Kiros no ataque, apesar dos muitos gols perdidos, parece ser a mais lógica. O meio-de-campo, porém, é o setor que mais apresentou avanços. Gaibú e Potiguar conseguiram organizar jogadas durante todo o primeiro tempo contra o Águia. Caíram de rendimento, como todo o time, na etapa final. Como não há tempo para muitas experiências, o caminho natural parece ser o da manutenção das peças atuais.
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Uma cena vergonhosa foi vista no estádio Couto Pereira, em Curitiba, domingo. O jogador Lucas, do São Paulo, deu sua camisa a uma jovem fã, mas bárbaros da torcida do Coritiba impediram que ela ficasse com o presente. Protegida pelo pai, a menina teve que sair às pressas, ameaçada de agressão e sob o olhar complacente de um grupo de militares.
Um caso de intolerância em estado bruto, como tantas vezes já vimos por aqui. O futebol é cada vez mais um território de insanos.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 02)