Conexão África (32)

E Belém voltou a ser notícia

A pomposa festa de lançamento da Copa brasileira, ontem, em Johanesburgo, revelou a total despreocupação da CBF com as obras nos estádios. Talvez esse posicionamento tenha a ver com o exemplo da África do Sul. Quem visitou suas principais cidades percebeu que praticamente nenhum estádio foi totalmente concluído para a Copa, com exceção do Moses Mabhida, de Durban, seguramente o mais confortável e funcional de todos. O próprio Soccer City, palco da abertura e do encerramento da competição, ainda está com seu entorno por ser finalizado. Monturos e prédios inacabados compõem a paisagem do complexo. A exuberância arquitetônica do estádio faz com que poucos notem as gambiarras que o Comitê Organizador não conseguiu arrumar a tempo. Em Pretória, o estádio Loftus Versfield não terminou as obras de fundo, junto ao Centro de Imprensa. As placas de “homens trabalhando” continuam expostas, duas semanas depois do último jogo realizado ali. Porto Elizabeth tem extensas áreas cobertas com lona, atestando as improvisações feitas no estádio Mandela Bay.
Como era previsível, o presidente da CBF usou o discurso ufanista adequado ao momento. Diante das críticas quanto ao atraso nas obras, Teixeira garantiu que as cidades já se movimentam para atender todos os prazos da Fifa, embora uma das principais sedes (São Paulo) ainda não tenha definido onde abrigará os jogos. Serão quatro anos de muito trabalho, com investimentos maciços em infra-estrutura (estradas, viadutos, aeroportos e hotéis) e a orgia de gastos própria de países de Terceiro Mundo. Não há jeito: assim como na África do Sul, que não conseguiu gerir as verbas destinadas ao evento, o Brasil terá o habitual festival de obras superfaturadas e estouros de orçamento.
A parte de infra-estrutura é o ponto crítico do projeto brasileiro, admitiu o próprio chefão da CBF, que comentou as dificuldades com os aeroportos, não preparados para atender os visitantes de um evento de grande porte. Dinheiro do governo já foi liberado para que não surjam atrasos nas obras de reforma dos aeroportos mais problemáticos – Salvador, Belo Horizonte, Manaus, Fortaleza e Brasília. Teixeira já fala num plano emergencial para evitar um apagão aéreo durante o Mundial: dividir o mapa do Brasil em quatro zonas para que os visitantes não sejam obrigados a percorrer grandes distâncias entre as sedes. Pode ser a senha para a exclusão, sempre cogitada, da sede amazônica.
Curiosamente, o badalado caderno de encargos da Fifa estabelecia que as cidades postulantes a sediar jogos precisavam ter infraestrutura mínima para receber seleções e torcedores estrangeiros. Belém, pelo que se sabe, tinha uma das melhores ofertas para o torneio, com necessidade de pequenos ajustes para estar 100% apta. Sabe-se agora que a maioria das sedes terá que começar do zero, precisando consumir verdadeiras fortunas em obras para não passar vexame. Esse cenário confirma a desconfiança de que a capital paraense perdeu a sede mais por suas virtudes do que por seus defeitos. Com quase tudo pronto, não iria movimentar dinheiro e a roda da fortuna precisa estar sempre a girar.
Ironia das ironias, a situação se apresenta mais grave em São Paulo, onde a discussão sobre o futuro estádio de Pirituba ainda se arrasta. Quis o destino que justamente a sede do principal centro econômico do país tenha os maiores problemas. Perdeu-se tempo demais com o projeto de utilização do Morumbi, finalmente descartado porque os donos do negócio (Fifa e CBF) entendem que é preciso levantar um estádio novo, caro e dispendioso. Que graça (e lucro) haveria em apenas readequar o velho estádio do São Paulo? Aplica-se aí o mesmo critério usado para a exclusão de Belém. De toda maneira, chamou atenção a ausência de Jerôme Valck, o falastrão secretário geral da Fifa, que não mandou nem desculpa para sua ausência. Talvez os embates travados em torno da sede paulista da Copa tenham sido determinantes para seu silêncio.
Interessante – e sintomático – foi o pronto posicionamento de Teixeira sobre a possibilidade de Belém e Goiânia receberem jogos, em função de suas condições estratégicas. Com a carranca de sempre, avisou logo que não há qualquer plano nesse sentido. A Cidade das Mangueiras, definitivamente, não está entre as preferidas do chefão do futebol brasileiro. Azar dele e da Copa.

Espanha curte euforia antecipada

Espanha e Holanda chegam em pé de igualdade à finalíssima de domingo, pois ambas nunca ganharam a Copa, mas é evidente a maior empolgação
espanhola diante da chance de encerrar a longa espera por um título mundial. Atribuo essa euforia à façanha de eliminar a Alemanha, até então a grande favorita e dona de um dos times mais jovens do torneio. Jogando bem e buscando o ataque com determinação, a Fúria contrariou as expectativas e fez valer seu melhor retrospecto. Terá, porém, um adversário indigesto pela frente, que venceu todos os seus jogos até aqui e se aproxima da façanha da Seleção Brasileira em 70. Sem perder há dois anos, a Laranja usa uma tática traiçoeira, fingindo-se de morta na maior parte do tempo. Foi assim que eliminou Brasil e Uruguai. Quando menos se espera, Sneijder e Robben aparecem para matar o jogo.

Bruno ganha manchetes internacionais

A prisão do goleiro Bruno, do Flamengo, acusado de sequestro da ex-amante, começam a repercutir intensamente ontem no país da Copa. Desconhecido fora do Brasil, o rubro-negro ganhou manchetes dos jornais de Johanesburgo. Emissoras de TV sul-africanas e a CNN também noticiam, com amplo destaque, detalhes da escabrosa história, exibindo imagens da chegada do jogador à Polícia do Rio e referências à suposta vítima. Notícia ruim chega rápido.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 9)

2 comentários em “Conexão África (32)

  1. Gerson, o Tomazzo, como reporter, fez o seu trabalho em perguntar. So acho que e uma desnecessidade tratar de um assunto superado, principlmente porque nao ha qualquer possibilidade. Mesmo que 4 cidades desistissem, a Fifa ja havia dito que queria fazer em 8 cidades. Doze foi exigencia do Brasil. Nao iludam o povo paraense. Belem tem condicoes e nao passa disso.

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  2. Gerson, tá bom de fazermos essa pergunta ao cartola que odeia o futebol paraense e seu povo. Ficou claro que o critério de escolha das sedes é o gasto do dinheiro público, pois é impossível conceber a isolada Manaus no lugar de Belém.

    O que devemos tentar fazer é nos preparara para tentar receber uma ou até mesmo duas seleções para preparação.

    Por que te digo isso? Essas seleções se preparam em torno de 15 dias em um local realizando amistosos (um ou dois). Quinze dias seria o suficiente para promovermos a beleza (única) do estado do Pará.

    Se conseguirmos usar a copa como mecanismo de divulgação do Pará como o estado multituristico poderemos, quem sabe, pleitear alguma outra coisa no futuro (Panamericano na Amazônia? Jogos da Copa América?)

    Abraço!

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