Desequilíbrio em campo, destempero no banco

Muito nervoso, o técnico Dunga chegou a esmurrar o banco de reservas e ficou claramente desesperado durante a eliminação da Seleção na derrota por 2 a1 para a Holanda. O nervosismo do treinador fora das quatro linhas foi o mesmo visto nos seus jogadores dentro de campo. Felipe Melo e Robinho eram os mais exaltados. O primeiro foi expulso após pisar no meia-atacante Arjen Robben.

Seleção à imagem e semelhança de seu técnico

Não há como lamentar muito. A tristeza é normal, afinal amamos futebol e queremos sempre ver a Seleção no lugar mais alto do pódio, mas seria surpreendente ver um projeto tão cheio de incoerências ser bem sucedido. A Copa é uma das mais fracas dos últimos tempos, mas, ainda assim, é preciso ter time bem treinado e competente para conquistá-la. O Brasil que sai hoje, eliminado pela Holanda, não perdia desde outubro do ano passado. Pelas reações destemperadas (tipificada na agressão de Felipe Melo a Robben) dos jogadores diante da derrota iminente ficou evidente que não havia preparação para enfrentar um momento adverso. E pensar que o futebol é rico em situações desfavoráveis. Só os talentosos conseguem reagir a essas dificuldades. Os holandeses, sem maior brilho, mas com objetividade, souberam renascer no jogo depois de um primeiro tempo de completo domínio brasileiro.

Na entrevista que concedeu há pouco, Dunga praticamente se despediu do escrete, pois sabe que não há clima para continuar. Não o vejo como culpado maior pela situação. Há gente acima dele muito mais responsável por isso. Sinto-me à vontade para criticar agora porque sempre questionei a escolha As loas tecidas pela primeira colocação nas eliminatórias sul-americanas e os títulos da Copa América e Copa das Confederações chegaram a confundir muitos, que cerraram fileiras em torno do amuado comandante. A ilusão com os métodos e o tal futebol de resultados rendeu frutos ao treinador, a ponto de obter maciça aprovação da torcida para seus shows de grosseria durante a Copa.

As dificuldades de relacionamento de Dunga com jornalistas e com qualquer um que lhe fizesse críticas refletiu-se nos seus jogadores. Felipe Melo, espécie de clone seu, reagiu com um pisão aos dribles de Robben. Não podia ser diferente, nem mais simbólico do poder de influência de Dunga e seu temperamento sobre a cabeça dos jogadores. O fato é que algo que começou errado não tinha mesmo como dar certo.

Clube é a única emissora do Norte na Copa

Geo Araújo e Giuseppe Tomazo na cabine 097 da tribuna de imprensa do estádio Nelson Mandela Bay, em Porto Elizabeth, preparados para a transmissão do jogo Brasil x Holanda, acompanhando a entrada em campo dos goleiros brasileiros para o aquecimento (foto abaixo). A Rádio Clube do Pará é a única emissora do Norte do país cobrindo a Copa na África do Sul.

México continua em alta na Copa sul-africana

Eliminado da Copa pela Argentina, o México continua a marcar presença na África do Sul. E nos treinos de Brasil, Holanda, Alemanha e Argentina, principalmente. Nessas ocasiões, ele é representado pela repórter Inés Sainz, da TV Azteca.  Jornalista loira e de medidas que fazem os fotógrafos e cinegrafistas desviarem o foco dos atletas para fora dos gramados, Inés é figura recorrente em grandes eventos esportivos. E voltou à cena mais pelos atributos físicos do que pela qualidade de suas perguntas.

Celebridade no México, sempre maquiada e produzida como se estivesse no ar, pontifica em capas e páginas de revistas, em fotos sempre sensuais, como em recente edição da Esquire mexicana. Se a competição para musa da Copa parece vencida pela paraguaia Larissa Riquelme, a disputa agora é para saber quem é a repórter mais bonita do Mundial (se Inés ou Sara Carbonero – polêmica namorada do goleiro espanhol Casillas).

E a repórter VIP mexicana sai na frente pois tem a bagagem de outros mundiais no currículo. Em 2006, na Alemanha, por exemplo, fez muito sucesso junto aos Ronaldos da Seleção Brasileira e virou assunto porque teria entregue um bilhetinho ao Fenômeno durante uma das entrevistas, em Königstein.

Dunga surfa na popularidade

A aprovação do técnico Dunga pela torcida brasileira atingiu seu maior grau de acordo com a pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha nesta quinta-feira. O resultado mostrou que ele tem 69% de aprovação considerada ótima ou boa. A pesquisa foi feita entre quarta e quinta-feira e ouviu 2.658 pessoas em 163 municípios, com margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. A primeira pesquisa, feita em novembro de 2007, mostrou aprovação de 44%. Na sequência dos resultados divulgados nesta quinta, o treinador é regular para 22% dos entrevistados e ruim ou péssimo para 3% – apenas 6% não souberam responder.

Conexão África (25)

Tudo depende de Kaká e Robinho

Marcar Robben e Sneijder, como fez a Eslováquia, sem sucesso, ou apenas exercer vigilância sobre a movimentação de ambos? Esta é, certamente, a maior preocupação de Dunga e Jorginho a respeito do adversário de hoje. Quem acompanha a Holanda na Copa sabe que seus dois principais jogadores não podem ficar excessivamente livres, sob pena de decidirem o jogo em lances individuais ou criando boas chances para os demais companheiros. As observações em cima da campanha dos holandeses podem ser fundamentais para o comportamento do Brasil nesta tarde sul-africana (manhã brasileira).
Todo o jogo da equipe de Marwijck se concentra nas ações de Sneijder, ajudado de perto por Van Bommel e Van Persie. Quando o time ataca, Robben parte pelo lado direito e Kuyt posiciona-se à esquerda, esperando o cruzamento ou prendendo um marcador para facilitar a entrada de um jogador pelo meio da área. Quando a situação não é favorável para o ataque direto sobre a zaga, o time utiliza com frequência os disparos de fora da área, tendo em Sneijder um especialista nesse tipo de jogada.
Como Felipe Melo deve entrar jogando, apesar dos mistérios de Dunga, é provável que a tarefa de acompanhar o meia-armador da Inter de Milão seja entregue a ele. De todos os cenários para o trabalho de bloqueio à criatividade holandesa este é, sem dúvida, o mais temerário. Lento e quase sempre violento, Melo pode ser envolvido e sobrecarregar a zaga brasileira, setor mais ajustado da Seleção de Dunga. Gilberto Silva não tem o mesmo vigor do companheiro de marcação e deve ser designado para barrar a movimentação de Van Bommel.
Para deter Robben, é improvável que Dunga deixe Michel Bastos sozinho. Daniel Alves ou o próprio Gilberto Silva deverão acompanhar o ponta, cujo drible para um lado só – corte seco para o interior da área e arremate forte com o pé esquerdo – é frequentemente citado por todos, mas quase nunca neutralizado. Foi assim que marcou o primeiro gol da Holanda, nas oitavas de final, contra a Eslováquia. O drible foi aplicado em cima de seus dois marcadores, que não conseguiram evitar que usasse a canhota, apesar do tempo que Robben levou para ajeitar a bola.
Sempre que enfrenta times tecnicamente bons, a Seleção costuma variar seu repertório e quase sempre surpreende, positivamente. Contra a Holanda, adversário que eliminou o Brasil em 1974, mas foi superado (sempre com dificuldade) em 1994 e 1998, não deve ser diferente. É importante, porém, que Kaká e Robinho tenham espaço e alternativas para desenvolver suas habilidades. Até porque, como craques da equipe, devem despertar no técnico da Holanda os mesmíssimos temores que Robben e Sneijder inspiram do lado de cá.
Dunga só não pode cair na armadilha que vitimou Zagallo há 36 anos. Presunçoso, o Velho Lobo avaliou que a Laranja Mecânica de Rinus Michels e Johan Cruyff não merecia atenções especiais. Eles é que deveriam se preocupar com os então tricampeões do mundo, bravateou o técnico. O nó tático que levaria no jogo deixou claro que bons times sempre merecem respeito. Não muito, para que não vire subserviência; nem pouco, para que não se torne irresponsabilidade. O equilíbrio deve ser a meta a ser perseguida, até porque Brasil e Holanda não têm mais qualquer semelhança com os times de 1974.

Trio tenta repetir marca dos gênios

Pelé e Garrincha jogaram 40 partidos juntos pela Seleção. Foram 35 vitórias e cinco empates. Números que impressionam pela marca triunfal. Na atual equipe, o trio Kaká-Luís Fabiano-Robinho inicia uma ainda modesta estatística que lembra o cartel da dupla genial: 16 jogos, 16 vitórias. O índice impressiona e põe esses jogadores na condição de fundamentais para o sucesso do escrete brasileiro na Copa. Na única ocasião em que a trindade se desfez na África do Sul – contra Portugal – o ataque brasileiro não funcionou. No torneio, Luís Fabiano marcou três gols, Robinho um e Kaká ainda está sem balançar as redes, embora esteja entre os principais “garçons” do torneio, ao lado do alemão Müller, com três passes que ocasionaram gols.

Rúgbi e críquete recuperam espaço

As ruas da África do Sul começam a perder o colorido típico da Copa. As bandeiras que enfeitavam prédios e esquinas no começo do torneio já perderam o brilho, assim como o fugaz interesse da maioria da população pelo futebol. Nas emissoras de TV, os programas dedicados ao críquete e ao rúgbi ganham cada vez mais espaço, deixando em segundo plano a reta final do Mundial. Os jornais seguem a mesma tendência, confirmando a impressão de que os estádios sul-africanos podem se transformar em gigantescos e monumentais elefantes brancos.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 2)