Remo, de virada, derrota Cametá

Com gols de Gilsinho e Vélber, o Remo derrotou o Cametá por 2 a 1, de virada, nesta segunda-feira à noite, no estádio Edgar Proença, na estreia das equipes paraenses no Brasileiro da Série D. Balão marcou o gol cametaense. Com boa produção ofensiva durante toda a partida, o Remo foi superior e dominou as ações principalmente no primeiro tempo. Nessa etapa da partida, criou pelo menos quatro chances reais de gol, três delas através do centroavante Zé Carlos, mas a defesa falhou na marcação e permitiu o gol do Cametá depois de uma cobrança de escanteio. O goleiro Evandro foi o grande nome da partida, fazendo intervenções que impediram uma goleada remista.

Depois de sofrer o gol de Balão, em chute cruzado, aos 37 minutos, o Remo aumentou a pressão sobre o setor defensivo do Cametá e esteve a pique de empatar antes do intervalo. Landu, Zé Carlos, Gilsinho, Marlon e Gian criaram diversas situações perigosas, mas não conseguiam superar Evandro. Aos 46 minutos, espalmou para escanteio uma cabeçada de Zé Carlos à meia altura. 

Na etapa final, Giba substituiu Gian por Vélber e o time ganhou em velocidade nas jogadas pelo setor direito do ataque. Cansado, o lateral-direito Lima saiu para a entrada de Levy. Depois, no banco de reservas, teve que recorrer ao balão de oxigênio para recuperar o fôlego. Em triangulações rápidas e jogadas com Marlon pelo lado esquerdo, o Remo voltou a se impor no jogo e Zé Carlos novamente quase marcou, aos 4 minutos, mas Evandro se antecipou, evitando o gol. Aos 9 minutos, porém, não houve jeito. Outra boa movimentação do ataque remista resultou em passe para Zé Carlos na entrada da área. Ele chutou rasteiro, Evandro espalmou e o próprio Zé Carlos chutou novamente, mas a bola bateu no goleiro e subiu, caindo na cabeça de Gilsinho, que desviou para as redes.

O empate animou os remistas, que se lançaram ao ataque em busca da vitória. Samir substituiu Landu e deu novo gás às ações ofensivas, passando a trabalhar junto com Marlon na esquerda, enquanto Vélber caía pela direita. E foi num lance que envolveu todo o ataque azulino que o gol saiu, aos 36 minutos. A bola foi puxada por Samir, que limpou o lance e acionou Zé Carlos. Este esperou a entrada de Vélber e deu o passe para a finalização perfeita do meia-atacante, sem chance de defesa para o paredão Evandro.

Depois de sofrer o segundo gol, o Cametá resolveu arriscar, tirando Dudu para a entrada de Marçal e substituindo Luís Carlos Trindade por Diego Silva. Balão ainda acertou uma bola no travessão numa tentativa de cruzamento, mas o Remo controlou o jogo e ainda criou duas boas chances, desperdiçadas por Zé Carlos e Samir. Além do goleiro Evandro e do volante Pitbull, no Cametá, os melhores da partida foram Zé Carlos, Marlon e Vélber.  A arbitragem foi de Fernando José de Castro Rodrigues (FPF).

O próximo compromisso do Remo na Série D será domingo, às 16h, em Macapá, contra o Cristal. Já o Cametá recebe no mesmo dia o América (AM), às 17h.

Remo escalado para a estreia na Série D

Escalação do Remo para o jogo desta noite, no Mangueirão, contra o Cametá, na estreia dos paraenses na Série D: Adriano; Lima, San, Pedro Paulo e Marlon; Danilo, Júlio, Gian e Gilsinho; Zé Carlos e Landu. No banco, Wagner Bueno, Levy, Ênio, Didão, Betinho, Vélber e Samir.

Conexão África – balanço final

Sobre um país em reconstrução

Foram 37 dias em solo sul-africano. Percorri lugares e ouvi o som de uma língua que na verdade concentra mais de uma dezena de dialetos. Tive a chance de acompanhar, nesse período, a uma sucessão de eventos interessantes, nem sempre relacionados com o futebol. Fora dos modernos estádios da Copa havia um mundo diferente seguindo sua vida normal, quase alheio aos jogos e artistas da bola.
Cabe observar que a visita que o circo do futebol faz a um país, a cada quatro anos, nem sempre se restringe ao esporte em si. Resulta dessa invasão uma multiplicidade de fatos e fenômenos que fogem ao controle rígido da Fifa, dona da bola e do jogo, mas que, felizmente, pouco pode fazer em relação aos acontecimentos extra-campo.
Não tenho dúvida que, se fosse possível, a entidade suprema do futebol baixaria decretos para fazer a vida parar enquanto a bola estivesse a rolar nos gramados. Mais ou menos na mesma linha do posicionamento tomado em relação ao governo da Nigéria, advertido duramente por ter
se envolvido nos negócios da bola – e da Fifa.
Para nossa sorte, a África do Sul estava imune aos mandamentos de Sepp Blatter e seu lugar-tenente Jerôme Valcke. Pudemos todos, então, desfrutar das graças de um país em reconstrução, ainda dividido por terríveis diferenças, assentado em muitos silêncios e frases interrompidas. Mais importante, porém, é que transpira vida e entusiasmo em todas as frentes. A Copa do Mundo, pelo caráter ruidoso de seus entreatos, misturou-se ao cotidiano do país, incorporando-se modestamente ao seu ritmo e às suas vontades.
Permitiu aos que estavam ali a trabalho, como nós, testemunhar – com olhos privilegiados – a quantas anda o trabalho de reunificação do país que foi partido ao meio pelo terrível regime do apartheid. Soubemos, não pelas autoridades, que as diferentes tribos ainda tentam se entender, apesar das aparências de plena convivência. Verificamos, de perto, que muitas escolas no centro de Johanesburgo – a cidade mais africana do país – ainda preservam divisões claras entre brancos e negros. E que o bairro-cidade de Soweto permanece impávido nas suas bandeiras de liberdade, mas é território quase impenetrável para o “white people” como nos lembrava nosso guia moçambicano Francisco, que arranha um português precário e se defende em zulu e inglês para ganhar o sustento.
Numa noite escura e fria no distante povoado de Kirkwood, a 70 quilômetros de Porto Elizabeth, eu e o companheiro Valmir Jorge, da Rádio Paiquerê (PR), vimos como a auto-estima sul-africana ainda depende de alguns empurrões. Na porta de um supermercado, um grupo de negros era atendido pelas grades, recebendo e pagando pelas mercadorias compradas.
Dois brancos chegaram e os portões foram milagrosamente abertos, num abre-te sésamo que chocou a uma dupla de brasileiros tão mestiça quanto a galera que era atendida com explícita desconfiança. Detalhe significativo: os funcionários eram todos negros também. Mais importante ainda: a estranheza pelo tratamento diferenciado ficou restrita a nós. Ninguém parece ter se dado conta do absurdo da discriminação.
Ao longo da Copa, na recepção dos estádios e na área de serviços gerais dos centros de imprensa da Fifa, pontificavam trabalhadores negros, recrutados como voluntários. Pelos registros oficiais, 16 mil pessoas, das mais diferentes idades e ramificações tribais. Poucos conseguiam lidar com as orientações técnicas quanto à posição dos profissionais nas cabines e numeração das tribunas. Alguns acabavam dependendo de nossa ajuda para desmanchar as pequenas confusões nos íngremes degraus dos estádios.
Curiosamente, são negros os responsáveis pelos portões da área dos leões no parque destinado à visitação dos turistas. Sua função é abrir e fechar as pesadas grades, alertando com gestos para os riscos de um braço desatento deixado de fora das janelas dos carros. Como também pertencem à cor negra os serviços de limpeza e arrumação nos hotéis, bem como o de assar pizzas nos restaurantes bacanas de Durban, uma cidade tão festiva e praiana quanto ao Rio e tão desigual quanto. Ou nos insanos trabalhos nas pedreiras em torno das ricas minas de diamantes, a apenas dois quilômetros do IBC de Johanesburgo.
Quero dizer que, de maneira geral, os trabalhos de natureza primária e que demandam menor qualificação têm dono cedo na África do Sul – fato que nos remetia, diariamente, à paisagem social brasileira, cuja segregação se manifesta de outras maneiras, embora com resultados bem semelhantes.
Impossível não recordar os versos inspirados de Gilberto Gil – “de um lado esse carnaval; do outro, a fome total” – ao ver que a condução dos táxis-lotação de Johanesburgo e Pretória só obedecem ao comando de motoristas mestiços. Olhos compridos, postavam-se do lado de fora do suntuoso Soccer City assistindo à movimentação de torcedores europeus e sul-americanos, festivamente vestidos para o ritual futebolístico da Copa.
Mais ou menos como os oito mil trabalhadores da construção civil que ganharam um ingresso para ir ver jogos da Copa, mas preferiram fundar uma cooperativa e revender os bilhetes. Na lógica natural de quem luta para sobreviver, era mais lucrativo arrecadar um dinheirinho a ter que ir a uma partida sem poder levar a família junto.
As imagens fortes e áridas das batalhas pela liberdade, empreendidas por Nelson Mabida Mandela e seus companheiros, preenchem as imensas paredes horizontais do Museu do Apartheid, que todos que viajam à África do Sul deveriam ser intimados a visitar. Heroísmo e dor, glória e sangue lado a lado nas fotografias descoradas, nas frases corajosas dos grandes homens que tentaram (e conseguiram) mudar a realidade, devolvendo as cores reais a um país tão bonito.
As lições que se aprende na passagem pelo museu são muito marcadas, quase cravadas na mente, pelos pés descalços das crianças perseguidas pela polícia dos brancos e pelas escolas sem carteiras e livros. Agradeço o tempo permitido pela desclassificação do time de Dunga nas quartas-de-final pela chance de ir ao museu, coincidentemente localizado a três quarteirões do nosso hotel, no bairro de Booysens, em Joburgo.
Foi uma oportunidade maravilhosa de entender um pouquinho das diversas camadas que formam essa deslumbrantemente complexa África do Sul, tão bem retratada naqueles gritos emocionados de “Madiba, Madiba” quando Mandela deu uma volta no estádio, minutos antes da final entre Espanha
e Holanda.
Esta coluna, de balanço final da cobertura da Copa, tinha que ser dedicada aos homens, mulheres e crianças que vi nas ruas, beiras de estrada, estádios e hotéis. Quando um dia voltar, poderei dizer um “sawu bonna” sem sotaque de turista, dedicando do fundo do coração que a África do Sul tenha realmente razões para dizer “bom dia” sempre que o sol raiar no horizonte.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 19)