Dia: 10 de julho de 2010
Conexão África (34)
Grande time para uma Copa nem tanto
Foi uma Copa do Mundo avarenta em craques. Poucos talentos conseguiram sobreviver até as últimas rodadas. A Fifa costuma antecipar sua escolha, por mera questão burocrática, mas a coluna escala seu time por razões logísticas, pois o espaço de segunda-feira será automaticamente dedicado ao novo campeão do mundo. Por isso, esta penúltima edição de Conexão África será dedicada à eleição do escrete da Copa. Sem grandes surpresas, a lista privilegia jogadores das equipes finalistas, com apenas duas exceções – um brasileiro e um argentino.
Iker Casillas é indiscutivelmente o melhor goleiro do torneio. Apesar de um começo instável, junto com o restante do time da Espanha, foi decisivo na vitória sobre a Alemanha na semifinal, operando pequenos milagres quando a equipe de Joachim Löw se lançou desesperadamente ao ataque. Experiente e respeitado pela defesa, esbanja segurança nas bolas rasteiras e costuma sair bem nas jogadas aéreas. Não faz o gênero espetacular, preferindo a sobriedade até na escolha dos uniformes.
Philip Lahm, que já havia se destacado em 2006, apareceu mais maduro e estável na África do Sul. Foi um dos melhores da boa equipe montado por Löw. Bom nas ações defensivas, transforma-se em temível atacante quando avança. Com índice altíssimo de acerto nos passes, faz lançamentos e cruzamentos quase perfeitos. Um jogador de extrema utilidade para qualquer time do mundo.
Lúcio é o único brasileiro na lista, por razões mais do que óbvias. Do beque estabanado de antes não se tem mais vestígios. Centrado, o capitão da Seleção foi quase impecável nesta Copa – e, por isso mesmo, uma das maiores vítimas do fracasso canarinho. Antecipação segura e excelente recuperação fazem dele um dos melhores do mundo na área central da defesa. Mesmo no revés frente à Holanda, não era o zagueiro diretamente envolvido nos gols de cabeça que eliminaram o Brasil.
Ao lado de Mertesacker, Arne Friedrich foi importantíssimo na caminhada alemã às etapas finais da Copa. Alia altura e força física a uma incrível agilidade na marcação. Quando parte para o ataque, Friedrich funciona como importante trunfo em várias partidas – incluindo o gol contra a Argentina, nas quartas de final, quando acompanhou o avanço de Schweinsteiger pela esquerda do ataque à espera do passe recuado, que realmente aconteceu.
Na ala esquerda, Giovanni Van Bronckhorst, capitão e um dos grandes esteios defensivos da Holanda. Superou o espanhol Sérgio Ramos, outro grande nome da Copa. Além de marcar com correção, sabe apoiar o ataque com desembaraço. Marcou um dos mais bonitos do Mundial, pegando um chute fortíssimo da intermediária até a gaveta do goleiro, na semifinal contra o Uruguai.
Xavi é o maior lançador de bolas da Copa. Só contra a Alemanha executou 11 lançamentos primorosos, acionando seus companheiros de ataque e descobrindo buracos na fortíssima parede defensiva alemã. Econômico, não perde tempo com passes laterais. Recebe a bola e imediatamente repassa a alguém bem colocado, executando à risca um dos princípios fundamentais do futebol, que é o passe certo e em velocidade. A Espanha deve a ele a solidez de seu setor de meia cancha.
Bastian Schweinsteiger foi o craque do Mundial. Seguro, regularíssimo, duro sem ser violento e aventurando-se em lances de habilidade, o volante-meia alemão personifica um jeito moderno de jogar. Ninguém foi superior a ele até aqui, a não ser que a final apresente uma excepcional atuação individual, determinante para a conquista do título. Uma das revelações da Copa de 2006, Schweinsteiger evoluiu muito em quatro anos, assimilando como poucos a importância que a função de volante adquiriu num time de futebol.
Wesley Sneijder é um dos mais baixos (1,64m) jogadores da Copa, mas, apesar dessa limitação, fez um gol de cabeça fundamental para a trajetória da Holanda até a finalíssima. Foi justamente contra o Brasil, em Porto Elizabeth, nas quartas de final. Prova da fabulosa versatilidade do meia-armador que planeja todas as manobras ofensivas holandesas e ainda encontra tempo para ser um dos goleadores do Mundial. Passe preciso e chute bem calibrado são outras das marcas de Sneijder, um camisa 10 que não é de driblar muito, mas sabe como enganar as defesas inimigas.
Lionel Messi não marcou gol e não fez uma Copa à altura das expectativas criadas em torno de seu futebol. Além disso, fracassou na tentativa de levar a Argentina à final, mas, ainda assim, foi fantástico nas assistências e várias finalizações que obrigaram goleiros a excepcionais defesas. Assisti três jogos dos argentinos e confesso que foram os que mais me agradaram em termos de futebol assumidamente ofensivo. Messi, como maestro da equipe, merece um lugar no time da Copa.
Em recuperação de uma lesão, Arjen Robben não jogou as duas primeiras partidas da Holanda, sendo preservado para as fases mais duras da disputa. A espera pelo seu futebol diferenciado valeu a pena. Logo na estreia, contra Camarões, deixou sua marca. Daí em diante, só fez crescer no torneio, marcando também contra Eslováquia e Uruguai. Gols decisivos de um atacante meio à moda antiga, de um drible só, mas que funciona terrivelmente.
David Villa não é apenas um exímio goleador. É também um atacante de grandes recursos, que explora todos os lados do ataque. Essa intensa movimentação fora da grande área funciona bem para confundir os marcadores. Com a bola nos pés, Villa mostrou-se sempre temível. Ágil, conseguiu atrair a atenção de toda a zaga alemã sempre que se aproximava da área no confronto da semifinal. Talvez tenha sido, ao lado de Sneijder, o jogador que mais soube aproveitar a exposição da Copa para valorizar seu futebol.
Outro destaque alemão, Thomas Müeller, é a principal revelação do torneio. Bom no combate de meia cancha, foi importantíssimo na armação de contragolpes alemães e sua ausência na semifinal pode ter contribuído para a derrota contra a Espanha. Superou outro alemão candidato a revelação, o meia Özil, que teve excelente começo de Copa, mas caiu de produção na reta decisiva.
Num torneio que apresentou grandes técnicos – Marjwick, Löw, Del Bosque, Bielsa e Gerardo Martino -, minha escolha recai sobre o uruguaio Oscar Tabárez, pela façanha de levar uma seleção tecnicamente limitada à disputa do terceiro lugar do torneio. Antes da Copa, ninguém imaginava que a Celeste iria conseguir fazer campanha tão boa. Méritos para o técnico, que explorou ao máximo o talento de Forlán e Suárez e montou um esquema capaz de esconder os sérios problemas de seu meio-campo.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 11)
Capa do DIÁRIO, edição de domingo, 11
Alemanha, no sufoco, garante 3º lugar
Sob chuva, a Alemanha conquistou o terceiro lugar na Copa do Mundo da África do Sul, ao derrotar o Uruguai por 3 a 2 em jogo emocionante, disputado no estádio Nelson Mandela Bay, em Porto Elizabeth. É a segunda vez consecutiva em que os alemães garantem a terceira colocação do Mundial. Em 2006, jogando em casa, os anfitriões levaram a melhor sobre Portugal e também terminaram no terceiro posto. Apesar da derrota, o Uruguai teve grande atuação, desperdiçou várias oportunidades de gol e sai do Mundial de cabeça erguida, em quarto lugar.
A disputa pelo terceiro lugar, normalmente esvaziada pela final da Copa, foi muito acirrada, com forte marcação no meio-de-campo. Mesmo com uma equipe bem diferente da que atuou durante todo o Mundial, a Alemanha partiu para cima e teve boa chance logo aos três minutos: em cobrança de falta, Schweinsteiger mandou a bola no primeiro pau, mas a zaga uruguaia afastou o perigo. A resposta de Celeste veio aos sete minutos, também em uma falta cobrada perto da área, mas Forlán chutou por cima do gol de Butt.
Mas a melhor oportunidade de abrir o marcador veio mesmo para a Alemanha, aos dez minutos de partida. Após cruzamento pela direita, Friedrich ganhou da zaga uruguaia pelo alto e, de cabeça, acertou o travessão do gol de Muslera. Na sobra, Müller tentou o chute, mas a defesa celeste tirou em cima da linha. A pressão da equipe comandada pelo técnico Joachim Löw deu resultado aos 19 minutos. Após um chute forte de fora da área de Schweinsteiger, o goleiro Muslera falhou feio, rebateu para o centro da área, e a bola sobrou limpa para Thomas Müeller. O principal candidato ao prêmio de craque jovem da Copa só teve o trabalho de tocar para as redes e fazer Alemanha 1 a 0. Foi o quinto gol dele no Mundial, igualando-se ao espanhol David Villa e ao holandês Wesley Sneijder.
Numa falha de Schweinsteiger, que inicou a jogada do gol da Alemanha, que o Uruguai chegou ao empate aos 28 minutos. O volante cochilou e perdeu a bola para Diego Pérez, que acionou Suárez no campo de ataque. O jogador uruguaio fez belo lançamento para Cavani, que invadiu a área e tocou na saída do goleiro Butt: 1 a 1. Antes do fim da primeira etapa, o Uruguai teve uma chance incrível de virar o jogo. Suárez foi lançado em velocidade pela direita, dominou, invadiu a área, mas chutou mal, à direita do gol de Butt.
Na etapa complementar, a primeira grande chance de gol foi do Uruguai. Logo aos dois minutos, Cavani foi acionado pela esquerda, invadiu a área e tocou na saída do goleiro Butt, que fez bela defesa. No rebote, a bola sobrou para Suárez, que chutou mal, fraco, e novamente o goleiro do time bávaro evitou o segundo gol da Celeste. Mas o segundo gol dos bicampeões mundiais não demoraria a sair. E em grande estilo: um golaço do melhor jogador do Uruguai na Copa. Aos seis minutos, Arévalo Rios fez ótima tabela com Suárez pela direita e levantou para a área. Diego Forlán pegou de primeira, sem deixar a bola cair, da entrada da área, e colocou no ângulo do gol de Butt: Uruguai 2 x 1 Alemanha.
Não deu nem tempo para comemorar. Aos 11 minutos, o goleiro Muslera falhou de novo e colaborou para a Alemanha chegar ao empate: após um levantamento da direita, o arqueiro saiu mal e, de cabeça, Jansen tocou para as redes e fez 2 a 2. Aos 37 minutos, o time bávaro chegou ao gol da vitória, que garantiu a terceira colocação do Mundial. Após cobrança de escanteio, a zaga uruguaia falhou de novo, a bola bateu em Lugano e sobrou limpa para Khedira, que tocou para o fundo do gol: Alemanha 3 a 2. Nos acréscimos, Forlán ainda mandou uma bola no travessão em cobrança de falta.
URUGUAI 2 X 3 ALEMANHA
Local: Estádio Nelson Mandela Bay, em Porto Elizabeth (África do Sul)
Data: 10/07/2010 (sábado)
Horário: 15h30 (de Brasília)
Árbitro: Benito Archundia (MEX)
Auxiliares: Hector Vergara (CAN) e Marvin Torrentera (MEX)
Cartões amarelos: Aogo, Cacau e Friedrich (Alemanha); Diego Pérez (Uruguai).
Gols: Müller (Alemanha), aos 19 minutos; Cavani (Uruguai), aos 28 minutos do primeiro tempo. Forlán (Uruguai), aos 6; Jansen (Alemanha), aos 11, e Khedira (Alemanha), aos 37 minutos do segundo tempo.
URUGUAI: Muslera, Maxi Pereira, Lugano, Godín e Cáceres; Diego Pérez (Gargano), Arévalo, Fucile e Forlán; Cavani (Loco Abreu) e Suárez.
Técnico: Oscar Tabárez.
ALEMANHA: Butt, Boateng, Friedrich, Mertesacker e Aogo; Khedira, Schweinsteiger, Özil (Tasci), Müller e Jansen (Kroos); Cacau (Kiessling).
Técnico: Joachim Löw.
Capa do Bola, edição de domingo, 11
Pensata: Onde estava Deus?
Por Cássio Andrade
Meses após assumir o papado em 2004, Bento XVI em visita a um antigo campo de concentração, teve um raro momento de emoção ao afirmar a frase: “Onde estava Deus?”. Não se sabe se para evitar o desgaste da mídia internacional que o acusava de colaborador e membro do exército nazista em sua juventude, ou por crise existencial, Bento XVI fez essa sensível afirmação – corajosa em se tratando de um Papa – ao evidenciar os terríveis massacres de judeus pelos alemães. Com assombroso cabedal filosófico, Bento XVI discorreu desde o existencialismo laico de Sartre ao existencialismo cristão de Karl Jasper, passando por Bubber, para rememorar a clarividência do mal naqueles tempos sombrios.
Sem a presunção de parodiar o iluminado Bento XVI, mas fazendo um exercício de Juca Kfouri, em tempos de proselitismos jorginianos e kakaqueanos, fico agora a operar a seguinte e profunda questão problemática: onde estava Deus naquele fatídico 02 de julho de 2010? Sim, pois em quatro anos de seleção, após o fracasso da hedonista e dionisíaca seleção de 2006, o que mais ouvi, vi e li foram preleções salvíficas, prédicas messiânicas e regras morais de castidade. No lugar do prazer, a regra; do drible, a marcação severa; da malemolência sadia, o compromisso. Sob o véu de tudo o que foi sagrado, Jorginho/Kaká e seu apostolado.
Para eliminar o pecado original e a perda do paraíso em 2006, Dunga tornou-se um cristão-novo, sob o beneplácito de um anticristo convertido:
Ricardo Teixeira. Ai de quem ousasse desafiar a trindade suprema! Novas Inquisições foram formadas e fogueiras calvinistas foram acesas. Hereges e
seus pecados foram logo classificados: Roberto Carlos e seu meião, Ronaldo Gaúcho entre dentes e baladas e o índex foi aumentando. Kaká tentou se
rebelar, de início, mas não quis parecer o ex-anjo da luz e se aprumou na teogonia do Bispo. Até ex-pecadores, como Luís Fabiano, foram arrebatados.
Vedem-se os baralhos e pagodes! Morte à tradição! Axiomas lançados e pecados foram purgados em nome do compromisso. Até Robinho perdeu o brilho laico para se submeter aos novos tempos. Ah esse bendito compromisso! Um dogma, uma missão, uma escatologia. Em nome dele, exclusões e afogamentos de gansos (epa, lascívia, não…). Suores sem gozo, transpirações em combate. E haja contenção. Como Deus se regozijava!
A certeza estava à frente, a história, na mão. Pronto, eis que se aproximava o momento final do acerto de contas. A final da Copa seria somente um detalhe para os novos prosélitos. Em verdade em verdade, a luta final dos arrebatados. Deus seria fiel e jamais abandonaria os justos e puros de coração que tudo poderiam Naquele que os fortalecia. O apocalipse, a redenção, um novo reino dos céus nos templos verdes de um continente pagão, de negros animistas e marcados pelo sinal de Caim.
E não é que Deus dormiu no ponto? Talvez dotado de uma santa soberba, depois de assistir um primeiro tempo primoroso, desligou a televisão e foi cuidar de outros assuntos (sim, Deus, ao contrário do que alguns pensam, tem outras coisas mais sérias para cuidar, considerando que o país de seus
apóstolos estava convivendo com a tragédia de Pernambuco e Alagoas). Tempo suficiente para que o inimigo do inferno, o Príncipe das Trevas,
passasse em campo e desse um empurrão em Júlio César, um cocorote na carequinha do holandês e entrasse de novo no corpo do Felipe Melo. Pronto,
o estrago foi feito. E agora? Senhor nos abandonou? Foi obra do demo no cochilo do Senhor? Ficou a versão.
Passados os dias e vendo a Holanda chegar à final, recebo um e-mail de São Pedro: “Meu caro, deixe de culpar Deus ou o demônio. São Paulo às
vezes apronta!”.
Quando a capa diz tudo
A poderosa retaguarda da Laranja Mecânica
O jornal espanhol As, sempre ligadíssimo nos acontecimentos, publica generosa fotogaleria da namorada de Wesley Sneijder, craque da seleção holandesa e candidato à Bola de Ouro da Copa do Mundo da África do Sul. Yolanthe Cabau Van Kasbergen é modelo e apresentadora de TV na Holanda. Ficou ainda mais popular no país por sua relação com o baixinho camisa 10 da Laranja Mecânica.
A frase certeira do dia – 2
“Nós demoramos a vida inteira para chegar à decisão de uma Copa. O nosso povo espera por isso desde que começou o futebol. Finalmente conseguimos chegar. E agora não vamos jogar fora essa chance. De jeito nenhum. E que seja com outro gol de Puyol. Não me interessa a artilharia, quero ajudar a Espanha a ser campeã do mundo.”
De David Villa, atacante espanhol.
Pequena homenagem ao Poetinha
De manhã, escureço….
De dia, tardo….
De tarde, anoiteço….
De noite, ardo…
Por Vinícius de Moraes
Copa 2014: Morumbi volta a ter chances
Para espanto geral, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, destoou do samba de uma nota só entoado por Fifa e CBF para erguer um novo estádio – o Piritubão – a fim de sediar o jogo de abertura da Copa de 2014. Em Johanesburgo, Kassab tomou coragem para defender o aproveitamento do Morumbi depois de ter sido estimulado pelo presidente Lula, que não deixou dúvidas sobre seu apoio ao estádio do São Paulo. O prefeito disse o que nós, paraenses, costumamos dizer sobre a perda da sede amazônica da Copa: por que construir um estádio novo (ao custo de R$ 600 milhões) se já existe um prontinho, cuja reforma não chega a R$ 200 milhões?
Com a palavra, os donos da bola.
Platini e as confusões de um boato
Por Cosme Rímoli (R7)
O mico da Copa do Mundo: a ‘morte de Platini’. A ‘notícia’ se espalhou com uma rapidez impressionante. Cerca de 100 jornalistas do mundo inteiro, inclusive este, estavam na frente do Hospital Morning Side. Do lado de fora. Seguranças africanos não deixavam ninguém sequer pisar no hall do hospital. A temperatura era de cinco graus às 22 horas.
Enquanto todos esperávamos alguma notícia, do outro lado da cidade, uma cena cômica. O publicitário Nizan Guanaes fazia uma festa para poucos e especiais convidados. Principalmente políticos. Eles brindavam a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Champanhe francês, música, comida sofisticada. Tudo ia bem até que Nizan resolveu encerrar a festa. Eram dez da noite. Todos estavam muito animados.
Mas de repente, o Nizan começou a falar: “Gente, gente, chega de festa. Não tem o menor clima, a menor graça. Vamos ter respeito por um dos maiores ídolos do futebol que se foi: acabou de morrer Michel Platini. Ele teve um enfarto. Chega, vamos todos embora”. Foi um alvoroço. Todos ficaram chocados. “O Nizan com os olhos marejados. Terrível”, revela um dos convidados. O boato atingiu rádios africanas.
Jornalistas estavam desesperados atrás da confirmação. Mas enquanto Nizan continha o choro, o porta voz da Fifa, o francês Alain Leiblang, lia um comunicado. Dizia que ele estava com gripe e foi internado por isso. E, ríspido, disse que não responderia a nenhuma pergunta. Nesta manhã, Platini foi liberado. Os assessores do presidente da Uefa espalhavam que ele teve uma crise de gripe e stress. Platini tem 55 anos e está muitos quilos acima do ideal. Come e bebe muito. Está vivo. Mas não teve crise de gripe, não.
“Eu o vi cair no restaurante. Perdeu os sentidos. Sua língua enrolou. Eu tive de fazer massagem cardíaca e respiração boca a boca. Só assim ele voltou a respirar normalmente”, disse o brasileiro Cláudio Carneiro, da Rádio Itatiaia, que acudiu o francês. Depois de fazer os primeiros socorros, uma ambulância chegou e o levou para o hospital. O brasileiro sabe muito bem que Platini não teve uma simples crise de gripe e stress. Pelo contrário.
Tem convicção de que foi algo bem mais grave. Mas o mundo dos dirigentes mais poderosos é igual ao dos políticos. Ninguém nunca saberá a verdade sobre o real estado de saúde do presidente da Uefa… Mas Nizan pode ficar mais tranquilo. Seu luto por Platini não teve razão de ser. Suas lágrimas foram derramadas graças à força de um boato sem fundamento. Pode convocar os políticos e empresários brasileiros que ainda estão na África e recomeçar a festa. Seu ídolo está vivo…