Um torcedor ilustre – e pé quente

O líder dos Rolling Stones, Mick Jagger, acompanha a sua terceira Copa do Mundo. As câmeras de TV o flagraram em dois jogos das oitavas de final: torcendo entusiasmado para a Inglaterra na partida contra a Alemanha e no confronto entre Gana e Estados Unidos. Nos dois casos, os times de sua preferência foram eliminados, gerando uma instantânea fama de pé-frio. No entanto, quando o Brasil encarou o Chile, Jagger também compareceu ao estádio, ao lado do filho brasileiro, Lucas, mas não foi filmado. A vitória, com grande apresentação da Seleção, redimiu o roqueiro, que concedeu entrevista ao Fifa.com antes de ir para o estádio Ellis Park torcer pelo escrete canarinho.

Você foi visto tirando fotos em alguns jogos da Copa. Gostou das partidas?
Sim, vi a fase de grupos pela TV enquanto estava na Inglaterra e vim para o restante do torneio. Fizeram a gentileza de me convidar para o jogo dos EUA (contra Gana, em Rustemburgo). Tenho muitos parentes nos EUA e eles falaram para eu vir. Mas era uma viagem muito longa, não tinha me dado conta disso! De qualquer jeito, gostei, foi divertido. O jogo foi bom, mas os EUA perderam, apesar de terem ido bem.

Agora que a Inglaterra e os EUA estão fora, para quem você torcerá?
Bom, tenho um filho que é metade brasileiro e completamente louco por futebol — como a maiorias das pessoas no Brasil. Por isso, assistiremos ao jogo do Brasil (contra o Chile) hoje à noite. Espero que o Brasil se dê melhor que a Inglaterra.

Que impressão você teve da primeira Copa na África? 
É um momento muito especial. Estive aqui há uns seis meses, de férias. Todos estavam correndo com os preparativos, mas muito orgulhosos. Deu muito trabalho, mas acredito que tudo está indo bem, não houve nenhum grande problema. Tem alguns detalhes aqui e ali, mas isso sempre acontece. Acho que eles podem ficar felizes com o resultado. Espero que os sul-africanos tenham curtido o torneio tanto quanto os turistas.

Como todo inglês, você deve ter ficado decepcionado ao ver a Inglaterra eliminada. Por que a seleção nunca está à altura das expectativas, na sua opinião?
A Inglaterra sempre se vê como uma das principais seleções do mundo. Por isso, há esta expectativa. Não é como os Estados Unidos, que pensam: “tudo bem, já estamos felizes de estar aqui. Não foi por sorte, mas mesmo assim estamos orgulhosos”. Na Inglaterra, queremos que a seleção vá longe, que chegue ao menos nas semifinais. É o que todos esperamos. E quando o grupo não está à altura dessas expectativas… Bom, quanto mais se espera, maior a decepção, é óbvio. E é preciso dizer: todos são excelentes jogadores, mas simplesmente não jogaram. Só marcaram três gols em todo o torneio e é impossível vencer assim. Dá para deixar de lado todo o resto, isso é o que realmente importa. Quer dizer, dá para sofrer alguns gols, mas é preciso marcar muitos mais. E não foi o que eles fizeram.

Quantas Copas você já viu de perto? 
Estive em dois Mundiais: na França 1998 e na Alemanha 2006. Acho que só nesses dois. Às vezes confundo com as Euros, mas sim, foram com certeza dois.

Você tem alguma lembrança especial da Copa?
O que mais me marcou não foi exatamente um episódio feliz. Foi o jogo Inglaterra x Argentina em Saint-Étienne (na França 1998), em um estádio pequeno e em uma cidade minúscula. Foi uma partida incrível, imperdível. Acho que David Beckham foi expulso naquela partida por um lance sem importância alguma, mas foi um jogo fantástico. Aquela é definitivamente uma das minhas lembranças mais nítidas da Copa do Mundo. Em 1966, só Deus sabe onde eu estava, acho que em uma turnê pelos Estados Unidos. Esta é a terceira Copa do Mundo que acompanho ao vivo e estou muito satisfeito por ter trazido o meu filho caçula. É sensacional ter a chance de fazer isto, realmente estou curtindo muito.

Para você, quais foram as seleções e os jogadores que mais impressionaram até agora?
A Argentina. Acho que eles têm uma facilidade incrível para marcar gols. É o que estávamos falando antes, é exatamente o que a Inglaterra não conseguiu fazer neste torneio. Com (Carlos) Tévez… Deu para ver como eles são bons no jogo contra o México. É por isso que acho esta seleção impressionante. Todo mundo estava falando da Espanha antes do torneio, mas eu não sei se eles jogarão o esperado. Por sua vez, a Alemanha está indo muito bem. Acho que, neste momento em que conversamos, está tudo em aberto nesta Copa.

De onde vem esse seu amor pelo futebol? Você era bom jogador na escola?
Eu era péssimo. Na verdade, nunca joguei bola na escola. Onde eu estudava, só jogavam rúgbi. O futebol era mal visto. Mas nos finais de semana, jogávamos bola. Nunca jogamos seriamente, mas sempre adoramos futebol. A minha família sempre torceu pelo Arsenal. Mas não faço como o meu filho mais velho, que vai às partidas todas as semanas. Mesmo assim, somos uma família de torcedores apaixonados.

Quais são os seus planos a partir de agora? Você torcerá pelo Brasil até o final?
Vamos ver como a Seleção Brasileira jogará (contra o Chile). Então, decidirei se continuo torcendo por ela.

Cruyff é presidente de honra do Barça

Apesar de a decisão não se ajustar aos estatutos do clube, o ex-jogador e técnico Johan Cruyff foi eleito nesta quinta-feira o presidente de honra do Barcelona, segundo indicação da junta presidida por Joan Laporta. Uma moção será submetida à assembleia de sócios do clube propondo uma modificação estatutária para que Cruyff seja oficialmente escolhido.

Cruyff é membro de honra com poderes de presidente, com base no artigo 16 dos estatutos do Barça. Esse estatuto se refere apenas a “membros de Honra ou de Mérito”, mas é omisso quanto a presidente de Honra. Como Cruyff é um verdadeiro mito para o Barcelona, as alterações deverão ser aprovadas nas próximas semanas.

Brasil vai de azul para batalha decisiva

O Brasil vai entrar em campo para enfrentar a Holanda, nesta sexta-feira, em Porto Elizabeth, pelas quartas de final, pela primeira vez com o uniforme azul nesta Copa do Mundo. A seleção terá camisa azul, calção branco e meias azuis. Já a Holanda joga com a tradicional camisa laranja, calção preto e meia laranja. A decisão foi tomada nesta quinta-feira no encontro técnico realizado pela Fifa com representantes das duas delegações. Será a terceira vez em quatro encontros com a Holanda em uma Copa que o Brasil jogará com o uniforme azul. Em 1974, na derrota por 2 a 0, e em 1994, na vitória por 3 a 2 nas quartas de final, a seleção entrou em campo com o segundo uniforme. Já em 1998, quando venceu na semifinal nos pênaltis após o empate por 1 a 1, jogou com o uniforme amarelo.

Dunga responde a críticas de Cruyff

Dunga aproveitou a entrevista coletiva oficial da Fifa, nesta quinta-feira, em Porto Elizabeth, na África do Sul, para responder a Johann Cruyff. Considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos, o líder do Carrossel Holandês que encantou o mundo na Copa de 1974 disse que “não pagaria para ver a seleção brasileira jogar” e que o Brasil comandado por Dunga tinha se transformado em “um time como qualquer outro da Copa”.

“Ele (Cruyff) deve ter ingresso de graça. Por isso ele não paga. Ele pode escolher as partidas para ver. Na democracia você escolhe os jogos que quer e vai assistir. Ele deve ter ingressos de graça da Fifa e por isso não vai comprar”. Perguntado se pagaria para ver alguma partida da Holanda nesta Copa do Mundo, Dunga preferiu brincar.

– Eu sou pão duro, vejo pela televisão.

Logo depois, o técnico brasileiro procurou amenizar a polêmica: “Jogos de Copa do Mundo sempre valem a pena assistir. São um espetáculo. São jogadores de qualidade de todos os países. É algo único que acontece de quatro em quatro anos. Não sei se o mundo para, mas uma boa parte do mundo para para assistir. Eu pagaria sem dúvida. Gostamos de olhar os jogos porque são jogadores muito técnicos”. (Do Globoesporte.com)

No país do rúgbi, Copa fica em segundo plano

Nas ruas de Porto Elizabeth, os jornais são expostos nos postes e bancas de revista e evidenciam o interesse cada vez menor pela Copa do Mundo. A reta final da competição, sem a presença da África do Sul, fez com que a maioria da população voltasse suas vistas para seus esportes favoritos, como o críquete e o rúgbi. A primeira página do “Die Burger” confirma isso.

Rumo ao litoral sul-africano

A perna final da esticada até Porto Elizabeth, apesar de longa (mais de 600 quilômetros), foi cheia de boas surpresas. A começar pela visão de duas girafas à beira da estrada, alguns quilômetros depois de Cradock, quase chegando na região de Addo, forçando a parada do carro para fotos obrigatórias.

Obras de duplicação da estrada fizeram nossa viagem retardar por quase 1h30, à altura da cidadezinha de Middelburg. A espera, porém, permitiu apreciar a grande cadeia de montanhas que torna a paisagem parecida aos velhos filmes do mestre John Ford, que tinha as Rochosas como cenário natural predileto. 

Em Kirkwood, região em que estamos hospedados em Porto Elizabeth, localiza-se o parque dos elefantes, que deve ser a próxima atração de fotos pitorescas da África do Sul. Vamos visitá-lo amanhã cedinho, antes de seguir para o estádio Nelson Mandela Bay, local do jogo da Seleção.

Conexão África (24)

Holanda renega Laranja Mecânica

Por vezes, fico a matutar que mistérios o futebol ainda pode reservar nesses tempos de incontáveis plataformas digitais de comunicação, que deixam a vida literalmente sem segredos. Penso nessa Holanda, que o mundo andou deixando de lado nas últimas Copas, desinteressado de seu futebol pouco efetivo e nada brilhante. Avalio que os holandeses sofrem por serem reféns daquela revolução de 1974, capitaneada por Cruyff, que não levou o caneco mas deixou um rastro de admiração entre os boleiros mais inquietos. A marcação em bloco e a a arrancada em bando rumo ao ataque são legados da Laranja Mecânica, que entrou para a história pela capacidade de surpreender e inovar. Depois dele, nada mais foi inventado. Pelo contrário, tudo que se cria tem sempre um pé no passado e nem sempre se inspira nos bons exemplos.
Pois a Holanda está cansada de sua herança histórica e resolveu romper os laços com o estilo quase sul-americano de jogar. Manteve o belíssimo tom da camisa, mas agora quer, acima de tudo, vencer, conquistar títulos. Chega de bater na trave, como em 1974 e 1978. Com a melhor geração desde que Kluivert, Bergkamp, Davids e Cocu saíram de cena, o time é surpreendemente parcimonioso. Pedi ingresso para ver a estreia contra a Dinamarca, no Soccer City, crente de que veria uma senhora apresentação da melhor seleção europeia. Ledo engano. Com menos de 15 minutos, percebi que minhas expectativas não seriam atendidas. Errei de palpite – e de geração. O time que sonhava ver não existe mais. A cartilha agora é outra.
O técnico Bert Van Marwijk, de maneira corajosa, avisou antes da Copa que seu time seria pragmático. Jogar bonito não é prioridade, o importante é avançar até as finais. O planejamento tem sido cumprido.
Sem encantar, a Holanda derrotou todos os seus adversários – nenhum especialmente forte, diga-se. Tem, como a Argentina, campanha 100% vitoriosa. E tem, acima de tudo, um quarteto de jogadores diferenciados. Wesley Sneijder, Arjen Robben, Robin Van Persie e Dirk Kuyt. Sneijder é o articulador, o maestro do time. Van Persie é o segundo atacante, projetando-se na área, embora ligeiramente fora das funções que exerce brilhantemente no Arsenal, como atacante mais recuado. Kuyt é o centroavante típico, mas com lampejos de técnica nas tentativas de buscar jogo. E Robben é um misto de bailarino e toureiro. Um atacante à moda brasileira, embora seu tipo físico não denuncie tanta virtude.
Há quatro anos, todos que foram à Alemanha apostavam na “Copa de Robben” e ela não aconteceu. À época, escrevi duas crônicas a respeito, atribuindo a não explosão do jovem ponteiro às hesitações táticas do time. Esta talvez ainda seja a sua Copa, apesar das dores que o perseguem. Contra Camarões e Eslováquia, exibiu suas características mais marcantes: a capacidade de fazer gol e as fintas quase impossíveis de neutralizar.
Vejo semelhanças entre holandeses e brasileiros nesta Copa. Os dois times comportam-se como se não houvesse platéia a esperar encantamento. Quando o resultado já está feito, até concedem alguns minutos de improviso. A Holanda foi quase sempre burocrática no cumprimento de sua missão na África do Sul. Coube a Robben fugir ao script e propiciar dribles interessantes, comprovando que sempre é possível unir eficiência e talento. Frustra, porém, ver que, após construir o placar que lhe interessa, o time se recolhe aos passes laterais e improdutivos, quase no ritmo da Seleção de Dunga na primeira fase da Copa.
A esperança, para nós, está na súbita redescoberta do prazer de atacar insistentemente, que o Brasil apresentou contra o Chile. A Holanda não joga assim e, ao que parece, não está muito interessada em apressar o andamento. Com velocidade nos passes e insistência nas tabelinhas entre Kaká, Robinho e Luís Fabiano é possível superar o esquema defensivo de Marwijk, que se baseia no forte apoio que os volantes De Jong e Van Bommel dão aos zagueiros. A lei natural das coisas diz que não há como resistir a ataques sucessivos de jogadores habilidosos.

Elano praticamente fora da Copa

Como a coluna informou, Elano está praticamente fora da Copa. A contusão na perna evoluiu para um edema ósseo, que provoca dores e impede que o volante volte a treinar. Na coletiva de ontem, na concentração de Randpark Golf Clube, em Johanesburgo, os jornalistas já se preparavam para a notícia do corte, mas o jogador falou de sua esperança na recuperação, emocionando-se em diversos momentos. Ao seu lado, o médico José Luiz Runco explicou a natureza da lesão, sempre num tom otimista. Confirmou-se, então, a impressão de que, mesmo que não jogue mais nesta Copa, Elano não será cortado. Ele é da “família” Dunga.

A caminho de Porto Elizabeth

Começamos na manhã de ontem a viagem até Porto Elizabeth para a cobertura do jogo da Seleção. A ausência de vaga nos voos entre Johanesburgo e a cidade obrigou a equipe DIÁRIO/Rádio Clube a pegar a estrada. Serão 1.200 quilômetros na vastidão das savanas sul-africanas. Se o cansaço afeta a todos há, como compensação, a oportunidade de conhecer paisagens deslumbrantes de um país que o mundo ainda não descobriu por inteiro. Pelo caminho, belas cidades e favelas monumentais. Contrastes próprios da velha África. Pernoitamos em Bloomfontein para retomar viagem assim que o dia amanhecer. O encanto da Copa do Mundo está justamente em permitir que os jornalistas mergulhem, de verdade, na vida do país-sede.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 1)