A ESPN está exibindo um daqueles documentários sobre as Copas e mostra os gols da Seleção de 70, com ênfase no sensacional duelo ao sol com os uruguaios. Jairzinho, Clodoaldo, Gerson, Tostão, Félix e Carlos Alberto comentam os lances, quarenta anos depois. E é uma delícia observar o quão era moderno aquele jeito de jogar futebol, como o posicionamento dos jogadores já prenunciava o dinamismo que o jogo apresenta hoje.
No lance do gol de Jair, Tostão recebe passe no meio-de-campo e toca, sem olhar, na direção do ponta botafoguense. O mineiro lançou a bola de propósito entre o beque uruguaio e o camisa 7, sabendo que era a melhor maneira de permitir o drible e o arranque. Pois ocorreu exatamente assim, conforme queria o ponta-de-lança.
Numa finta de corpo, Jair passou à frente e entrou na área a um metro de distância. Quando Mazurkiewicz saiu, tocou rasteiro no canto. O mesmo Mazurka que seria driblado depois, à larga, por Pelé no célebre lance da finta em estilo meia-lua, talvez o quase-gol mais famoso da história.
A grande vitória daquele time, porém, desenrolou-se no aspecto psicológico. Sob o peso da tragédia do Maracanã, 20 anos antes, o escrete entrou em campo tentando disfarçar o fato de que aquela derrota estava ali, diante de todos, como assombração.
Para tumultuar ainda mais corações e mentes, veio o gol de Cubillas. Quem olha rapidamente pensa que Félix falhou, pois a bola entrou quase sem ângulo. A explicação, simplória e real, é que o atacante simplesmente errou o chute, espirrou o taco, e com isso matou o goleiro. Carlos Alberto analisa a jogada em cinco ou seis palavras com o conhecimento de causa que as condições de capitão e craque lhe conferiam.
Virar um jogo naquelas circunstâncias, derrotando todos os medos, afugentando Gighia e Obdúlio, foi o impulso decisivo para a conquista do tri. Naquela tarde em Guadalajara, ficou claro que o Brasil tinha um time pronto e forte como o aço. Juntava técnica, talento (que fica dois degraus acima do respeito aos fundamentos) e fôlego privilegiado.
Mais uma vez, como em quase todos os jogos daquele torneio, a batalha foi vencida nos 45 minutos finais. O fato de os inimigos cansarem não explica tudo. Eles cansavam porque o Brasil economizava tempo e espaço com passes precisos e dribles que encurtavam o caminho rumo ao gol. Desse jeito, parece até que foi fácil.
Do Paissandu, desfalcado no setor vital do meio-campo, não se pode esperar uma exibição de gala. Sim, goleou esse mesmo Águia usando todos os volantes que povoarão seu meio-campo nesta tarde de domingo. Só que aquele, sabemos, foi um jogo atípico, sem muito a ver com a lógica.
Hoje, a coisa é diferente, não só pelo local da contenda. As limitações bicolores serão mais notadas e os espaços mais explorados pelo Águia. Ainda assim, Charles tem plenas condições de ser bem sucedido. Basta que povoe o meio-campo para atrapalhar os passos do anfitrião.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 30)
O legal, Gerson, e que os outros times tambem tinham talento, tanto que o Peru eliminou a Argentina nas eliminatorias. Naquela epoca, ainda se privilegiava o talento, aliado a tecnica e ao preparo fisico. Quatro anos depois, o talento holandes foi derrotado e o futebol espetaculo tambem e ferido de morte em 82.
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E hoje ouço de gente que tem obrigação de “ver” melhor o futebol (jogado), que no passado havia lentidão nas jogadas. Herezia ou desinteligencia visual ? De futebol pouco sei ou nada sei. O que sei é que não sou um” burro olhando plhando prá palácio”.
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Não diria que o futebol naquela época era lento, era mais técnico e dava tempo para os talentosos pensarem no que fazer ao receber um passe. Hoje é correria e muita porrada e quem for podre que se quebre. Minha opinião, a melhor seleção em vida que ví foi a de 82 e não ganhou por sapato alto, mas a de 70 não deixou nada devendo, Félix, Piaza como titulares só naquela época.
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Está mais para desinteligência mesmo, meu caro Tavernard. Ver aqueles caras jogando é sempre um imenso prazer e que bom que as imagens estão aí mesmo, para não esquecermos como se faz.
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De acordo.
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Gerson, muito boa a sua coluna deste domingo.
Faz com que se relembre o que era futebol de verdade onde predominava a técnica dos jogadores, uma seleção de verdadeiros craques e não jogadores medianos como essa de hoje.
Que me perdoem os que gostam dessa seleção do Dunga, mas não tenho a menor vontade de torcer por esse time com esse bando de jogadores que não têm a mínima condição de disputar uma copa do mundo.
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Obrigado, Antonyo. No fundo, somos todos saudosistas emperdenidos, como diz meu amigo Edgar Augusto. Nosso maior problema é o nosso parâmetro na hora de avaliar um time de futebol. Fomos mal acostumados. Os times de 58, 62 e 70 estão, certamente, entre os cinco melhores de todos os tempos no planeta. Aí fica difícil engolir as perebices do time do Dunga, que, apesar de tudo, pode ser campeão na África do Sul.
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Olá Gerson pode até ser campeão, mas se analisarmos pelas caracteristicas individuais que os jogadores tinham na epoca, onde predominava o talento ao invés de força hoje com certeza não passaremos da primeira fase, mas claro pela tradição e o respeito e cautela que os adversários tem pelo Brasil pelo menos a primeira fase a gente passa, apesar que o time atual não passa muita confiança, nas edições anteriores da copa a gente via a torcida entusiasmada com o time coisa que não o vejo hoje possa ser que esteja enganado, mas até o momento não vejo empolgação nenhuma nesta equipe do Dunga.
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Dias atrás ouví depoimento histórico que acrescento às preciosidades. Danilo Alvim, o Principe Danilo, foi o uníco jogador (ao seu tempo) que matava bola no bico da chuteira. Em duas ou 3 temporadas Danilo dirigiu o Remo. Era arredio quando indagado sôbre a Copa de 50. Zizinho (mestre Ziza) era diferente, deitava falação . Em viagem juntos, contou-me episódios de 50.
Sempre ouví os mais experientes e por isso memorizo coisa passadas.
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Tem fto dele no Diario de hoje com o Claudio Guimaraes. Nao sou desse tempo, mas quando crianca assistia em preto e branco aos campeonatos paulista e carioca e ao desfile de craques da decada de 70. Epoca em que era raro jogador brasileiro ir pra Europa, mas lembro do Luis Pereira e Leivinha indo pra Espanha e PC Caju pra Franca. Tempo bom.
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